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A mesma camisa, novas mãos

Veículo: Jornal de Santa Catarina

Seção: Economia

Fonte: Mariana Furlan

 

O trabalho que começou com o casal Adelina e Duda Hess de Souza inicia outro ciclo: a Dudalina pertence agora a dois dos maiores fundos de investimento americanos

 

O sucesso que marcou a trajetória da Dudalina desde que Adelina Hess de Souza, ainda nos 1950, aproveitou um estoque de tecidos para fazer camisas culminou em uma das maiores transações da indústria têxtil de Santa Catarina.
 
A principal camisaria da América Latina, há 56 anos sob o comando da família e detentora das marcas Dudalina, Dudalina Feminina, Individual e Base, foi adquirida por dois dos maiores fundos de investimentos norte-americanos, Warburg Pincus e Advent International – eles ficarão com 72,3% do controle acionário. A atual presidente, Sônia Hess de Souza, fica com 6,3% das ações e os outros 21,4% serão divididos entre os sócios minoritários. Estima-se que o valor da transação, mantido em sigilo, gire em torno de R$ 650 milhões. A venda foi fechada na última terça-feira à noite, após dois anos de negociação.
 
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau, Ulrich Kuhn, a mudança de mãos no controle da empresa não causará impacto ao setor da região. O acordo garante uma transição segura – faz parte das cláusulas a continuidade de Sônia na presidência por três a cinco anos, segundo fonte ligada à família, em entrevista à colunista Estela Benetti, do Diário Catarinense.
 
– Não sei dos detalhes, mas o que eu posso dizer é que em uma transação como esta apenas o comando mudou de mãos. Tenho certeza que vai continuar sendo motivo de orgulho para nós – declara Kuhn.
 
O economista e professor da Furb Jorge Eduardo Scarpin também vê a negociação como um reconhecimento ao trabalho da companhia. Para ele, transações anteriores de empresas do Vale – como a venda do Grupo Uniasselvi à Kroton Educacional e da Eisenbahn à Schincariol – comprovam que a entrada de investidores de fora são saudáveis para as empresas e seguras para a região.
 
Transação consolida negócio da moda no Estado
 
Para Cristiano Buerger, presidente do projeto Santa Catarina Moda e Cultura, o passo dado pela Dudalina comprova a força do negócio da moda catarinense, amparada em uma boa indústria.
 
– É resultado de uma qualidade indiscutível, uma belíssima operação, uma gestão superprofissionalizada, força da marca e o valor agregado que ela conseguiu imprimir – avalia.
 
Os fundos norte-americanos, Advent e Warburg Pincus, reúnem bilhões de dólares em portfólios com negócios de diversos setores. O Advent opera em 36 países com 280 investimentos. Desde 1997 no Brasil, a empresa tem participação em 17 companhias no país, dentre elas a Kroton Educacional, que comprou o Grupo Uniasselvi por R$ 510 milhões em maio de 2012. O Warbur Pincus investe em mais de 100 empresas pelo mundo.
 
Fonte ligada à família afirma que a venda está ligada à oportunidade de expandir a marca no mundo mais rapidamente e ao desejo dos herdeiros, que querem dar continuidade a projetos próprios. Segundo a assessoria de imprensa da Dudalina, Sônia não deve se pronunciar por enquanto. Ela deve retornar hoje a Blumenau. (Colaborou Aline Camargo)
 
Os pontos fortes da Dudalina
 
Gestão de sucesso
 
O pulso firme no controle da empresa sempre foi a marca mais forte da camisaria. A gestão eficiente começou com a matriarca, Adelina Hess de Souza, mãe de 16 filhos, que fundou a Dudalina e cuidava pessoalmente de cada detalhe da fábrica nos primeiros anos. O comando sempre ficou nas mãos da família Hess de Souza. A forma como a filha Sônia, que assumiu a presidência em 2003, conduziu a Dudalina fez dela uma personalidade no mundo dos negócios. Em junho deste ano foi eleita pela revista americana Forbes como a sexta mulher mais poderosa do Brasil.
 
Internacionalização da marca
 
A Dudalina começou a expansão no ano passado. Para a primeira loja fora do país, em Milão, na Itália, foram selecionados modelos femininos mais sóbrios, de estampas delicadas e cores neutras. Na época a empresa anunciou a intenção de abrir franquias em outros países europeus e também na Ásia e Austrália. Recentemente, a segunda loja foi inaugurada fora do país, na Cidade do Panamá. Segundo o economista da Furb Jorge Eduardo Scarpin, este movimento pode ter atraído os investidores americanos – e a internacionalização da marca deve ficar ainda mais forte a partir de agora, projeta o professor. Novas lojas em Zurique, na Suíça, e Sydney, na Austrália, já estariam cotadas.
 
A camisa feminina
 
A já marca de sucesso deu uma guinada nos negócios ao apostar na camisa feminina, em 2010, criando modelos coloridos, com mix de estampas. A flor-de-lis passou a ser vista no figurino de apresentadoras de telejornais como Fátima Bernardes e Ana Paula Padrão – numa certeira estratégia de marketing – e alavancou as vendas. Para Cristiano Berger, presidente do Santa Catarina Moda e Cultura, a empresa apostou na camisa feminina na hora certa, desburocratizando os modelos e coincidindo com um momento em que as mulheres se tornam cada vez mais poderosas profissionalmente.
 
Aposta no varejo
 
Também em 2010 a Dudalina transformou a indústria em marca de varejo. Começou com a loja conceito Dudalina 595, em São Paulo, e concentrou as forças na expansão. Hoje são 93 em todo país – nove delas em Santa Catarina. Boa parte das lojas, em shoppings e aeroportos, são estrategicamente pequenas, o que garante alta lucratividade. Segundo a revista No Varejo, a empresa alcançou em 2013 a 89ª posição nacional entre as que melhor gerenciam elementos como relacionamento com o cliente, inovação e sustentabilidade.
 
Referência social
 
A Dudalina também coleciona reconhecimentos às propostas de sustentabilidade e responsabilidade social. A própria Adelina foi precursora da cultura do reaproveitamento quando, nos anos 1990, minimizou o desperdício de retalhos das camisas com produção de colchas e sacolas com a técnica de patchwork. Hoje o reaproveitamento se transformou em um programa maior na empresa. Os retalhos são doados a associações para a criação de bolsas e luvas de cozinha e as peças são posteriormente compradas pela Dudalina. Em 2013 também foi listada entre as 500 maiores do Sul do Brasil pela revista Amanhã e foi eleita por diversos rankings como uma das melhores empresas para se trabalhar no Brasil.


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