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Setor têxtil precisa partir para o ataque, diz executivo

Veículo: Folha de S.Paulo

Seção: Mercado

Fonte: Raquel Landim

Cidade: São Paulo

 

Rafael Cervone Netto, 45 anos, é o presidente mais jovem da história da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), uma das organizações empresariais mais influentes do país.

 
Ele assume o cargo disposto a acabar com a imagem de protecionista do setor partir para um "ataque comercial", aproveitando o dólar mais desvalorizado. "O Brasil tem uma cultura de país fechado, mas hoje temos uma visão clara de que não adianta ser protecionista."
 
Em sua primeira entrevista no cargo, Cervonne Netto não poupa críticas ao ambiente de negócios no Brasil. "Hoje vivemos uma política do puxadinho. Precisamos de políticas horizontais", diz.
 
Quais são as suas prioridades?
 
É claro que a agenda número um é a da competitividade. Sabemos que não adianta ficar chorando e criticando o governo. Temos que trabalhar desenvolvimento, inovação e sustentabilidade.
 
Mas todo mundo fala isso. O que podemos fazer de diferente? O setor está se preparando para deixar de produzir commodities e partir para valor agregado.
 
Como?
 
Tem lição de casa para fazer. Uma delas é a modelagem das roupas. Nossa modelagem é boa, mas poderia ser melhor. Tenho rodado os centros de inovação e design: Japão, Estados Unidos, Portugal, Espanha e Israel. Eles inovam, mas produzem na Ásia. Nós temos 32 mil indústrias no Brasil. Por que não aplicar a inovação no Brasil?
 
A confecção migrou para a Ásia e os países ricos na moda. Dá para ter tudo?
 
Sim. Estados Unidos e União Europeia querem se reindustrializar. Eles precisam gerar emprego para sair dessa crise. A China está ficando cara. Hoje o que se fala é que a produção tem que estar próxima do consumo.
 
Enquanto os outros países perderam a confecção, somos um dos poucos que detêm o know-how de todos os elos da cadeia. Qual é a sua avaliação sobre o atual patamar do câmbio?
 
Saímos de uma fase muito ruim com câmbio muito baixo, que coincidiu com um mercado interno muito forte. Isso desestimulou o setor industrial a exportar e estimulou as importações. Mas, se você não for competitivo globalmente, também não será aqui. Não somos favorável a um mercado fechado.
 
É claro que existe uma agenda de defesa comercial, mas temos que partir para o ataque, inclusive na China. Nos últimos 120 dias, o número de consultas para o nosso programa de exportação aumentou muito.
 
Além disso, temos sérios problemas na Argentina. Os empresários não querem deixar esse mercado, mas precisam de novas alternativas.
 
O setor têxtil é protecionista?
 
Nos últimos oito anos, nossas importações aumentaram 27 vezes. O Brasil tem uma cultura de país fechado que hoje está mudando. Existe uma visão muito clara de que não adianta ser protecionista. Defesa comercial é sempre importante, mas não significa proteção.
 
Se pedimos uma medida de defesa comercial, é porque temos um problema pontual. Isso não interfere na nossa visão holística de abertura do mercado.
 
Qual é a sua expectativa para 2014?
 
No ano que vem, temos eleições. A expectativa em relação ao governo não tem sido tão positiva. O governo tem passado por uma crise de credibilidade, principalmente o Ministério da Fazenda. O ano que vem precisa ser de mudança -não necessariamente de governo, mas de rumo do país.
 
O ambiente de negócios no Brasil atualmente está muito ruim. Todo dia surge uma medida provisória nova que cria uma insegurança jurídica muito grande. Vivemos uma política do puxadinho -um benefício para cada setor. Precisamos de políticas horizontais. Acordos de livre comércio é outro drama. Estamos isolados.


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