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Quem vai mandar de verdade na Máquina de Vendas?

Veículo: Exame

Seção: Vendas

Fonte: Tatiana Bautzer e Maria Luíza Filgueiras 

 

Criada após a fusão das redes Insinuante e Ricardo Eletro, a Máquina de Vendas tem dois donos com poderes semelhantes — Ricardo Nunes e Luiz Batista. Mas isso está prestes a mudar

 

Numa sala do subsolo do hotel Unique, no bairro do Ibirapuera, em São Paulo, o empresário mineiro Ricardo Nunes sobe num pequeno palco e assume o microfone. À sua frente, está uma plateia formada por fornecedores e credores da Máquina de Vendas, empresa resultante da fusão das redes Ricardo Eletro, de Nunes, e Insinuante, de seu sócio baiano Luiz Carlos Batista.

Criada há três anos, a Máquina de Vendas é a terceira maior varejista de eletroeletrônicos do país e deve ter receita líquida de cerca de 7,5 bilhões de reais em 2013. Foram anos turbulentos, em que maus resultados se somaram à condenação em primeira instância de Nunes por subornar um fiscal da Receita Federal em 2011.
 
Os empresários convocaram a plateia para, em suas palavras, “agradecer” pelo apoio no período. No palco, Nunes arranca risadas nervosas dos convidados ao discorrer sobre a adaptação por que passou nos últimos anos.
 
“Toda hora vinham me falar de balanço auditado, de resultado. Era Price pra lá e pra cá. Eu dizia: ‘Gente, me deixe vender!’ ” O sócio Batista, não sem certa condescendência, toma o lugar no palco e brinca: “Esse é o nosso Silvio Santos”.
 
A reunião do dia 25 de setembro foi, sobretudo, uma prestação de contas. A Máquina de Vendas passa por uma transformação profunda — que, caso seja concluída, tirará muito da influência de Ricardo Nunes e fará de Luiz Batista a face preponderante da empresa. Após um longo processo, os sócios finalmente concluíram a formação de uma holding, constituída no dia 8 de agosto.
 
Na prática, portanto, a Máquina de Vendas nem sequer existia formalmente. Embora negociassem em conjunto com a indústria, as empresas do grupo eram entidades jurídicas independentes — o que criava uma confusão tanto para os fornecedores quanto para os bancos, já que não havia, por exemplo, uma garantia única dos créditos concedidos às empresas.
 
Como a Ricardo Eletro não tinha balanços auditados, levou anos até que os números parassem de pé e o sócio baiano se dispusesse a criar uma entidade jurídica única (responsável pelos passivos das duas empresas). Oficialmente, a companhia afirma que o processo levou tanto tempo porque foi preciso constituir novas empresas para incorporar as três varejistas adquiridas desde 2010.
 
Além de apresentar a holding, a reunião de setembro serviu para mostrar os números parciais de 2013. A boa notícia: após um prejuízo de 68 milhões de reais no ano passado, a empresa teve um lucro de 40 milhões de reais no primeiro semestre.
 
A criação da holding é apenas uma etapa, talvez a mais visível, num processo que está longe de acabar. Em 2010, quando anunciaram a criação da Máquina de Vendas, Nunes e Batista afirmaram que a empresa teria controle compartilhado e que caberia ao mineiro a presidência e o comando da política comercial, enquanto Batista ficaria na retaguarda. 
 
O arranjo era explicado pelas características de cada sócio, sobretudo Nunes, tido como um “vendedor nato”. Mais cerebral, Batista tornou-se responsável pela estratégia da empresa — coube a ele negociar as três aquisições que ajudaram a fazer o faturamento da Máquina de Vendas dobrar em três anos. Mas, embora os sócios neguem publicamente, o modelo se esgotou.
 
Em julho, o banco Bradesco foi contratado pelos sócios para organizar a venda de uma participação na Máquina de Vendas para um fundo de investimento. Foram contatados Gávea, Advent, Carlyle, TPG e KKR, entre outros. Segundo executivos de três fundos que negociaram com a empresa, o objetivo do processo é diminuir a participação acionária de Ricardo Nunes — e, ao fim, transformá-lo num acionista minoritário com menos poderes.


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