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Crescimento no longo prazo exige câmbio competitivo, diz economista

Veículo: Valor Econômico

Seção: Brasil

Fonte: Flavia Lima

Cidade: São Paulo

 

Uma taxa de câmbio competitiva deve ser prioridade para um país que deseja crescimento econômico no longo prazo, afirma Robert Blecker, professor da American University, em Washington D.C. "Não gosto de dar conselhos a outros países. Dito isso, acho que há algumas questões sobre as quais as economias emergentes têm de estar atentas, sendo a primeira delas o câmbio", afirma o economista, em sua segunda passagem pelo Brasil. "Eu vejo que o real está se tornando um pouco mais competitivo e essa tendência precisa ser mantida."

 
Questionado se a inflação não seria um componente de preocupação a interferir nessa equação, Blecker lembra que preocupante eram as variações de preços registradas no país nos anos 80. "É claro que uma inflação muito alta é um grande problema, ninguém quer isso. Mas quando um país tenta atingir uma meta de inflação muito baixa, e faz isso sem prestar atenção em outras metas, como a de emprego, por exemplo, ou por meio da sobrevalorização de sua moeda, o controle de preços é feito sob pena de deprimir a economia", diz. "Eu não iria atrás de uma meta de inflação muito restritiva, isso seria problemático. Uma meta de 4,5% me parece razoável."
 
Para Blecker, há evidências de que o valor do real segue o preço das commodities nos mercados globais, o que contribui para a chamada "doença holandesa" - fenômeno pelo qual exportações de commodities expressivas valorizam o câmbio, afetando os setores de manufaturados. O ideal, diz o economista, seria desvincular a trajetória do real dos preços das commodities, buscando a estabilidade da moeda em um nível mais competitivo. Isso poderia ser alcançado por meio de intervenções da autoridade monetária nos mercados futuros de moeda, diz Blecker, citando estudo de Pedro Rossi, do Instituto de Economia da Unicamp. "Talvez o Banco Central, por meio das compras que vêm fazendo, esteja atento a isso."
 
Blecker ressalta que, nas últimas décadas, alguns países alcançaram um bem-sucedido crescimento orientado por exportações, mas há limites a isso. "Acho que os emergentes precisam entender que as economias industrializadas não serão mercados em crescimento nos próximos cinco a dez anos. É preciso desenvolver seus mercados internos e promover mais comércio entre si." No caso do Brasil, afirma, é necessário substituir o destaque dado à pauta primária de exportações por manufaturados. "O trabalho árduo vai ser exportar mais para a Ásia e fazer parte das cadeias de valor asiáticas."
 
Blecker participa hoje do segundo dia do 10º Fórum de Economia, organizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) sob o tema: "Existe uma estratégia para dobrar a renda per capita do Brasil em 15 anos?". Para Blecker, além de uma moeda competitiva, a receita para chegar lá inclui investimentos em infraestrutura e educação. A ênfase, no entanto, não pode ser colocada apenas na renda per capita. "É também importante manter uma distribuição equitativa da renda."
 
Como exemplo a não ser seguido, cita os EUA. Após a crise, diz o economista, o grupo 1% mais rico da população ficou com 95% do crescimento da renda do período. Segundo Blecker, alguns elementos contribuíram para o aumento da desigualdade americana, como a estagnação da renda real dos trabalhadores, a fuga de parte da indústria do país - levando muita gente ao setor de serviços, que tradicionalmente tem salários mais baixos - e o forte crescimento do setor financeiro.
 
Entre outras fontes de preocupação nos EUA, Blecker aponta a inércia da demanda doméstica e o desânimo do empresariado em investir. "O Fed [banco central americano] tem feito a sua parte, mas há uma grave crise política, em que parte dos republicanos tenta bloquear uma solução para o Orçamento, em troca do adiamento ou da eliminação do ObamaCare [o novo sistema de saúde]".
 
Para Blecker, é possível que os deputados do Partido Democrata tenham que aceitar mais cortes no Orçamento, o que pode manter o país em situação de baixo crescimento por mais tempo. "Os republicanos têm uma agenda ideológica para reduzir o tamanho do governo e vão fazer o que for preciso para isso", diz. "Acredito que não é bom se apegar a uma visão, mas usar os modelos econômicos corretos para cada tipo de situação. Vemos na Alemanha e nos EUA uma aderência rígida a ideologias, o que acaba funcionando no interesse de alguns, e não dos países como um todo."


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