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Estoques sobem e puxam piora da confiança da indústria em agosto

Veículo: Valor Econômico

Seção: Brasil

Fonte: Camila Veras Mota

Cidade: São Paulo 

 

O temor de estoques mais altos afetou, de novo, a expectativa dos empresários em uma recuperação da economia. O Índice de Confiança (ICI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) recuou 0,6% em agosto, passando de 99,6 pontos para 99. Apesar de o indicador de emprego previsto ter caído 0,5% no mês, a principal razão para a queda no medidor de expectativas foi a deterioração da percepção das empresas sobre seus níveis de estoques, de acordo com Aloísio Campelo, coordenador de sondagens conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.
 
Entre as 1.247 companhias que participaram da pesquisa entre 1º e 20 de agosto, 9,4% afirmaram estar com estoques excessivos e 2,5% disseram ter estoques insuficientes. Em julho, o percentual fora de 7,7% e 4,5%, respectivamente. A piora, de acordo com o economista, foi bastante disseminada, em 12 dos 14 segmentos aferidos.
 
Entre os gêneros industriais, quatro estavam superestocados: minerais não metálicos, mecânica, material de transporte e vestuário, calçados e artefatos de tecido. O resultado é o pior desde maio de 2012, quando seis gêneros afirmaram ter estoques em excesso.
 
Para Campelo, ainda não é possível verificar se o aumento no nível de produtos armazenados é um episódio pontual - influenciado, afirma o economista, pelo impacto das manifestações de junho nas vendas do comércio - ou se é um indicador de aprofundamento da desaceleração da indústria. "No curto prazo, a notícia é ruim, porque qualquer recuperação que estivesse em andamento será retardada, já que é preciso administrar esses estoques".
 
O percentual de empresas que afirmaram ter estoques em excesso, 9,4%, é semelhante ao registrado em dezembro de 2011 (10,2%), durante um período também de desaceleração da economia, mas ainda distante daquele apurado em janeiro de 2009, auge da crise, de 21,3%.
 
A pesquisa mostrou ainda que a desvalorização do real ante o dólar - e o impulso que ela poderia trazer às exportações da indústria brasileira - ainda não surtiu efeito nas expectativas de curto prazo das empresas. Em agosto, a percepção do setor em relação à demanda externa atual aprofundou a retração de 4% apurada em julho, em relação a junho e já feito ajuste sazonal. Houve retração de 2,5% no mês, e a parcela de empresas que julgam que a demanda externa está fraca avançou de 20,3% em julho para 24,3% em agosto. Em comparação com agosto de 2012, a variável reduziu 6,9%.
 
Campelo chama atenção, porém, para o indicador da expectativa da demanda externa prevista, que tem seguido trajetória oposta e aumentou no mês de agosto. "A percepção desfavorável [neste momento] ainda não mudou, provavelmente por conta da volatilidade do câmbio. As empresas ainda não têm certeza do patamar do dólar e isso deve afetar a confiança. Mas o avanço na percepção de melhora futura pode estar condicionada também à expectativa de recuperação dos Estados Unidos e de estabilização das economias emergentes, hoje em desaceleração", completa.
 
O indicador do emprego previsto, apesar ter recuado 0,5% em agosto e atingido menor patamar desde junho de 2009, ainda não sinaliza redução acentuada do emprego, na avaliação do economista.
 
O percentual de empresas que afirmam esperar demitir no curto prazo não tem variado muito desde o começo do ano. De 12% em maio, oscilou para 10,6%, 10,9% e chegou a 12,4% em agosto. Foi a parcela de companhias que planejam novas contratações que diminuiu no período, de 23% em maio para 17% neste mês. "Esse movimento sinaliza manutenção do emprego, mas também mostra que a indústria está mais cautelosa quando pensa em aumentar o quadro de funcionários".
 
A variável, contudo, não tem mostrado trajetória recente positiva, como lembra Campelo. Antes de retrair 0,5% em agosto, mostrou queda de 4,6% na passagem de junho para julho.
 
Produção industrial prevista e nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) não apresentaram variações significativas no ICI de agosto. A primeira oscilou 0,2% e o último passou de 84,4% em julho para 84,2%. O patamar ainda é maior do que a média dos últimos 60 meses, de 83,4%.
 
O Índice de Situação Atual (ISA) caiu 1,1% em agosto, para 99,5 pontos, e o Índice de Expectativas (IE) mostrou estabilidade, após cinco quedas seguidas. O cenário, para Campelo, mostra uma indústria em lenta atividade e com perspectivas entre neutras e pessimistas para o futuro.
 
O segmento mais afetado pela queda de confiança, ressalta o economista, é o de bens duráveis, que mostra retração de 4,9% no mês e de 15,8% nos três meses encerrados em agosto. "Uma queda nesse setor é sintomática, já que ele é bastante voltado para o mercado interno", afirma. A categoria de bens de capital mostrou nova retração neste mês, de 6,8%, e de 10,8% no trimestre.


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