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Esporte requintado é a nova fronteira da elegância masculina

Veículo: Valor Econômico

Seção: Cultura&Estilo

Fonte: Vanessa Barone

Cidade: São Paulo

 

Pode ser a proximidade dos grandes eventos esportivos - Copa do Mundo e Olimpíada. Pode ser um sinal de comportamento competitivo em tempos de economia oscilante. Ou pode, ainda, ser mais uma das conhecidas voltas que a moda dá e que nunca tem um motivo explícito. O fato é que o universo dos esportes foi uma poderosa fonte de inspiração para os criadores de moda masculina, que mostraram coleções entre junho e julho, durante a temporada de primavera 2014 do Hemisfério Norte. E como ocorre com frequência, essas ideias deverão influenciar os próximos lançamentos masculinos por aqui. O clima, portanto, promete ser de competição por um visual mais requintado e, ao mesmo tempo, jovial, para as próximas estações.
 
Pelo que foi mostrado pelas grandes grifes masculinas, os chamados "esportes chiques" são a nova fronteira da elegância. Bem, nova se levarmos em conta os primeiros anos do século XXI. Porque em meados do século passado, as atividades consideradas de prestígio moldavam o figurino masculino. "A indumentária usada nos esportes mais prestigiados sempre exerceu uma influência marcante sobre a moda", escreveu a inglesa Alison Lurie, autora do livro "A Linguagem das Roupas" (Rocco). "Um esporte de status elevado é por definição o que requer uma grande quantidade de equipamentos caros". Logo, explica a autora, é preciso alto poder aquisitivo para praticá-los. E onde há poder, há um exemplo a ser seguido.
 
A indústria do luxo há tempos percebeu a força da imagem esportiva como diferencial. Tanto que a Hermès, por exemplo, nunca deixou de associar sua imagem à prática de montaria e mantém funcionando o seu ateliê de confecção manual de selas no coração de Paris. Pois a última rodada de desfiles masculinos, as modalidades contempladas foram principalmente as ligadas à água, caso do iatismo, do mergulho e do surfe. Esses esportes apareceram de forma mais ou menos literal, dependo do desfile. No de Giorgio Armani, por exemplo, esse universo surgiu sutilmente na forma de casacos azul-marinho de neoprene. O estilo "navy" regeu boa parte da apresentação do estilista italiano.
 
A coleção de Phillip Lim elegeu o visual surfista para criar uma versão turbinada da juventude saudável e amante da natureza. Pelas mãos do estilista, a conhecida estampa de hibiscos foi parar não só nas bermudas, mas em calças, jaquetas, paletós e blusas. O neoprene - material que virou o fetiche da temporada - foi utilizado para dar forma a blusas e jaquetas com corte de alfaiataria, deixando para trás qualquer semelhança com trajes de mergulho.
 
Mas nenhuma imagem foi tão explorada quanto a do "velejador de estirpe". Bem nascido, requintado e "blasé", ele desfilou principalmente pelas coleções de Burberry, Gucci e Salvatore Ferragamo. No caso da Burberry, as cores fortes (que foram além do conhecido amarelo-impermeável) e os comprimentos variados ajudaram a revigorar o uniforme náutico.
 
Na coleção da Ferragamo, as mais exploradas foram as parkas, que ganharam versões curtas e compridas e tons metalizados. Massimiliano Giornetti, estilista da marca, declarou ao site Style.com que sua intenção não era falar de um esporte específico, mas traduzir a ideia e a vibração do homem esportista. A mesma ideia parece ter guiado a Prada em sua reprodução do uniforme de boxeador, com direito a short de superfície acetinada. Ambas as grifes conseguiram não cair na caricatura.
 
Essa ideia de traduzir para os ambientes sociais o "élan" das atividades físicas não é exatamente nova, embora continue funcionando. Vale lembrar que, até a segunda metade do século XX, a roupa esportiva era usada por quem realmente praticava esportes. Foi aí que tudo começou a mudar. Por sua imagem ligada à saúde e a juventude, o estilo foi ganhando adeptos que queriam romper com o visual tradicional de seus pais e avós.
 
Nesse período, pós-guerra, a cultura pop ganhava força junto com a juventude. E a tecnologia deu o impulso que faltava à disseminação das roupas esportivas com o desenvolvimento de fibras sintéticas. Em 1930, a DuPont havia lançado comercialmente o que seria a primeira fibra sintetizada pelo homem, o náilon. Feito a partir de petroquímicos, ele foi a base para a produção, posteriormente, de outras fibras, como o poliéster e o acrílico.
 
Logo a indústria perceberia as vantagens das fibras sintéticas, em termos de durabilidade e praticidade de cuidados. Durante as décadas de 1940 e 1950, a moda masculina começou a valer-se dos sintéticos mais amplamente, já que eles calhavam bem com a nova maneira de produção de roupas em série e podiam ser combinados a fibras naturais.
 
"Em 1960, a Adidas começou a vender seus característicos abrigos esportivos, com o logo de três listras, como roupa de lazer", escreveu John Hopkins, autor de "Moda Masculina" (Bookman). A partir dos anos 1980, esses conjuntos que antes vestiam apenas atletas foram incorporados ao guarda-roupa masculino. E parece que, de lá, eles não vão sair tão cedo. Felizmente.

 



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