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Empresários veem produção estável em julho e retomada lenta

Veículo: Valor Econômico

Seção: Brasil

Fonte: Arícia Martins, Tainara Machado, Eduardo Laguna, Elisa Soares e Diogo Martins

Cidade: São Paulo e Rio de Janeiro

 

Apesar da brusca queda da confiança de consumidores e empresários em julho, associações industriais e executivos ouvidos pelo Valor relatam, na maioria dos casos, estabilidade ou aumento da produção em relação a igual período do ano passado e afirmam que o pessimismo que dominou o mercado nas últimas semanas é exagerado.
 
A avaliação é que a economia segue em recuperação morna e gradual, sujeita a oscilações mensais. A situação não é brilhante, mas também não é uma "catástrofe". O segundo semestre, afirmam, pode ser melhor do que o primeiro em função da desvalorização do câmbio, dos estímulos tributários ainda em vigor e da perspectiva de que o cenário tende a se desanuviar nos próximos meses.
 
Os dados preliminares de atividade no setor de equipamentos elétricos e eletrônicos apontam para avanço da produção no mês de julho, tanto na comparação com o mês anterior, que havia sido fraco, quanto em relação a igual período do ano passado. Luiz Cezar Rochel, gerente de economia da associação que reúne as empresas do setor (Abinee), afirma que, apesar da deterioração recente das expectativas, o segmento continua a projetar recuperação da atividade no segundo semestre.
 
A desvalorização do real em relação ao dólar, afirma Rochel, tende a dar competitividade para a manufatura. "Hoje [depois da perda de valor do real] estamos mais perto de nos tornar competitivos em relação ao produto chinês. A indústria está aproveitando o câmbio melhor para recuperar participação no mercado", afirma.
 
Com base em resultados do mês passado, o presidente da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), Sérgio Amoroso, afirma que o terceiro trimestre não parece "essa catástrofe toda", mas deve ficar muito próximo dos números registrados em igual período de 2012. "Estamos olhando o mercado com tranquilidade", disse. Em julho, a prévia aponta que foram expedidas 282,6 mil toneladas de papel ondulado, alta de 4,4% sobre junho e de 3% sobre igual mês do ano passado.
 
A ABCR, entidade que reúne as concessionárias de rodovias, também divulgou alta de 5,7% no fluxo de veículos pesados em julho, depois de aumento de 4,6% de junho, sempre na comparação com igual período do ano passado. Esses resultados levaram o Banco Fator a projetar elevação entre 1,8% e 2,2% da produção industrial no mês passado, na comparação com igual período de 2012. A desaceleração da produção de veículos na passagem mensal, divulgada pela Anfavea, entidade que representa as montadoras, deve, no entanto, levar a indústria a registrar queda de 1,3% entre junho e julho, de acordo com estimativas preliminares.
 
Pressionadas pelo excesso de estoque, as montadoras diminuíram em julho o ritmo de produção mostrado nos quatro meses imediatamente anteriores. Isso permitiu reduzir de 39 para 35 dias o giro dos estoques. Desde junho, o mercado demonstra não ter força suficiente para superar os históricos volumes de igual período do ano passado, marcado pela corrida às lojas para aproveitar a redução de IPI. Mesmo assim, a Anfavea sinalizou que vai melhorar no mês que vem a projeção de crescimento de 4,5% da produção no ano.
 
No caso da indústria de caminhões e ônibus, houve aumento de 37,5% da produção em julho, na comparação com igual período do ano passado, segundo o vice-presidente de vendas e marketing da MAN Latin America, Ricardo Alouche. No primeiro semestre, a produção da fábrica cresceu 40% sobre igual período de 2012, principalmente em função dos estímulos do governo. Embora positivos, os resultados foram beneficiados também pela baixa base de comparação, já que a produção de caminhões e ônibus no ano passado foi prejudicada pela adaptação do setor ao padrão Euro 5 de emissão de gases.
 
Para o segundo semestre, a empresa projeta avanço de 5% a 8% na produção de caminhões e ônibus, frente igual período de 2012, o que gera crescimento acumulado no ano de 20% a 25%.
 
A LiuGong, empresa chinesa de escavadeiras, tratores e outras máquinas de construção, registrou um aumento nas vendas em julho de 11% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Foi uma recuperação considerável em relação aos resultados da companhia no Brasil no primeiro semestre, quando as vendas haviam sofrido queda de 19% em relação ao primeiro semestre de 2012, disse Bruno Barsanti, vice-presidente da fábrica na América Latina.
 
No Polo Industrial de Manaus (PIM), a expectativa é que julho inicie mais um trimestre de recuperação sobre igual período de 2012, diz Gilmar Freitas, assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam).
 
O Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) também estima que, após a queda de 0,3% das vendas da rede de distribuição de aços planos em junho, julho se encerrou com alta superior a 5%, de acordo com dados preliminares, sempre em relação a igual período de 2012. O crescimento, no entanto, é reflexo principalmente de um número maior de dias úteis no mês passado e, por isso, não foi visto com muito otimismo pelo presidente da entidade, Carlos Loureiro. Na média de dias úteis, as vendas devem cair ante junho, observa. Para Loureiro, os números da segunda metade do ano podem mostrar alguma recuperação, o que é necessário para que a projeção de crescimento de 2,5% em 2013 se confirme.
 
Segundo o presidente do Inda, o ambiente não é animador: há insegurança em relação ao investimento que prejudica o setor de máquinas e equipamentos, enquanto, no ramo automotivo, a forte antecipação de compras, provocada pela redução do IPI, diminui o potencial de consumo e produção, análise que também vale para o setor de linha branca. "A recuperação que esperamos no segundo semestre deve vir muito em cima do setor de infraestrutura. Para bens de consumo, o cenário está mais fraco."
 
O setor químico só deve divulgar dados fechados de julho no fim de agosto, mas Fátima Ferreira, diretora de economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), adianta que o mês passado parece ter repetido o resultado de junho, o que pode ser considerado um comportamento favorável: naquele mês, o volume de vendas internas de produtos químicos com uso industrial aumentou 6,9% na comparação com maio.
 
"Já tivemos momentos piores", diz a economista da Abiquim. Segundo Fátima, a desoneração de matérias-primas da primeira e da segunda geração petroquímica e a desvalorização do real em relação ao dólar ajudaram o setor. O segundo semestre deve ser melhor para as indústrias químicas do que o mesmo período de 2012, afirma.
 
A partir de relatos de três importantes empresas de bens de capital, o diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Fernando Bueno, avalia que julho pode ter sido um mês de estagnação para o setor. Em junho, o faturamento das indústrias associadas encolheu 12,2% sobre o mesmo mês do ano passado, o que resultou em recuo de 8,2% no primeiro semestre ante igual período de 2012. (Colaborou Marcos de Moura e Souza, de Belo Horizonte)
 
 


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