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Ajuste do emprego em maio ainda não aponta ciclo de demissões, dizem analistas

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
 
Por Camilla Veras Mota e Diogo Martins | De São Paulo e do Rio
 
O primeiro recuo no ano no emprego industrial - de 0,5% em maio ante abril, sem efeitos sazonais - ainda não foi interpretado pelos analistas como o início de um ciclo de demissões no setor. Os indicadores mostram que a situação na indústria continua se deteriorando, mas os números de maio seriam mais um "ajuste" do que um ponto de inflexão, um reflexo do desempenho fraco da produção industrial, que retraiu 2% em maio em relação ao mês anterior.
 
A Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o número de pessoas ocupadas na indústria caiu 0,7% na comparação com maio de 2012, e, no acumulado do ano, recuou 0,8%. Nos 12 meses encerrados em maio, o indicador diminuiu 1,3%. Depois de um aumento mais significativo em abril, de 1%, o número de horas também voltou a cair e retraiu 0,7%.
 
Apesar de o recuo de 0,5% ser o maior na comparação mensal desde dezembro de 2009, Leandro Padulla, da MCM Consultores, acredita que a desaceleração seja pontual, já que "a indústria se mostrou bastante volátil no primeiro semestre". Para ele, o desempenho de maio acompanhou o resultado frustrante da atividade.
 
O pesquisador do IBGE, Rodrigo Lobo, concorda. "Notamos que o emprego na indústria não apresenta a mesma estabilidade de outros meses. Houve uma perda no dinamismo, acompanhando os dados de produção", afirma. O crescimento de 1,7% na folha de pagamento real na passagem de abril para maio, ele diz, foi influenciada pela distribuição da participação de lucros entre funcionários do setor extrativo, especificamente da cadeia de óleo e gás. No setor, a variável teve alta de 29,4%, enquanto na indústria de transformação ela subiu 0,3%.
 
Igor Valecico, economista do Bradesco, também acredita que é cedo para determinar se o emprego na indústria saiu do cenário de estagnação que arrastava desde janeiro e entrou em trajetória descendente. A ocupação não variou em janeiro, fevereiro e abril e oscilou apenas 0,2% em março. "Precisa piorar bastante para que haja um ciclo de demissões."
 
O emprego na indústria só reagirá quando a produção industrial decolar, avalia Rogério Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). O número de ocupados no setor, afirma o especialista, comporta-se de maneira "débil" desde dezembro de 2010, entre "quedas, estagnações e alguns suspiros de crescimento".
 
Nos cinco primeiros meses do ano passado, o emprego apontava retração de 1,1%. "Ele vem recuando em relação a um período em que já estava bastante deprimido", afirma. Souza ressalta que o encolhimento do indicador entre janeiro e maio se mostra generalizado, em 10 dos 14 locais e em 9 dos 18 setores pesquisados.
 
Edgard Pereira, professor do Instituto de Economia da Unicamp, acredita que, diante do cenário de incertezas, os empresários se adequam às novas expectativas paulatinamente. "As revisões para baixo das perspectivas de crescimento têm sido graduais e o setor vai respondendo a essas mudanças. A desvalorização cambial pode ajudar a indústria nos próximos meses."
 
Menos otimista, Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que a queda é "relevante" e que pode "realmente indicar um início da queda do emprego, em vez de um ajuste nas horas pagas - movimento que vinha ocorrendo anteriormente". Para ele, esse panorama se confirmará se houver uma redução significativa dos salários, o que não se verifica ainda. Os ciclos de desemprego, continua, costumam começar com a redução de horas trabalhadas, do emprego e, posteriormente, da folha de pagamento real.
 
Em uma análise mais desagregada, segue o professor, nota-se que dentre os setores mais afetados estão os que geram maior valor adicionado. "Este é o dado mais preocupante da pesquisa. As expectativas não são animadoras, e podemos chegar, no futuro próximo, a uma situação de queda da massa real de salários, o que prejudicará a demanda da economia como um todo."


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