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Estoques crescem em dez segmentos no segundo trimestre

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
 
Por Arícia Martins | De São Paulo
 
Com a economia rodando em velocidade mais fraca que o esperado pelos empresários e perda de fôlego da demanda acima do previsto, a indústria encerrou o segundo trimestre com uma quantidade um pouco maior de estoques do que nos primeiros três meses do ano. Embora, no geral, o fluxo de fabricação e entrega de bens ainda esteja em situação de equilíbrio, 10 dos 14 gêneros industriais pesquisados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) apontaram maior número de mercadorias paradas na média de abril a junho do que no período anterior.
 
O aumento de estoques ocorreu mesmo com a fraca produção industrial, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em maio, ela caiu 2% sobre abril. No ano, em relação a dezembro, a alta é de apenas 1%.
 
 
No dado consolidado, a diferença entre as empresas com estoques excessivos e insuficientes, que foi de apenas 1,6 ponto na média do primeiro trimestre, aumentou para 2,3 pontos nos três meses encerrados em junho. No conceito da FGV, quando essa diferença é superior a dez pontos percentuais, a indústria encontra-se muito estocada, como estão apenas os ramos têxtil e de mecânica atualmente. Entre as cinco categorias de uso analisadas, nenhuma possui estoques excessivos, mas, à exceção de bens de capital, todas mostraram elevação de inventários na comparação trimestral.
 
"A maioria da indústria brasileira é suscetível à questão de estoques, já que produz em série, e não a partir de pedidos em carteira", observa Aloísio Campelo, superintendente-adjunto de ciclos econômicos da FGV. Para ele, a demanda não caminhou na velocidade esperada ao longo do primeiro semestre após a retomada sinalizada por janeiro, quando a produção saltou 2,7% sobre dezembro, feito o ajuste sazonal.
 
Desde então, a atividade nas fábricas tem oscilado bastante, com seguidas altas e baixas, e as expectativas dos empresários têm sido ajustadas para baixo, inclusive para o segundo semestre. Assim, avalia Campelo, o consumo menos exuberante não pegou as empresas tão desprevenidas e, por isso, não houve um forte movimento de acúmulo de estoques, o que também não deve ocorrer na segunda metade do ano, já que o cenário mais pessimista conta com consumo mais moderado.
 
Além disso, o economista da FGV destaca que, na contramão da maioria dos segmentos observados, a indústria de bens de capital reduziu significativamente seu volume de mercadorias paradas na passagem trimestral, período em que a diferença entre as empresas com estoques excessivos e insuficientes caiu de 17,3 pontos para 4,4 pontos.
 
Campelo acredita, no entanto, que esse movimento está associado à aceleração do investimento registrada no primeiro trimestre, quando a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) avançou 4,6% sobre o trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, desempenho que, de acordo com ele, não deve ser superado nos três meses encerrados em junho. Os dados mensais, ressalta, já mostram um leve ajuste para cima no indicador de estoques do setor, que passou de 104,5 pontos em maio para 105,8 pontos no mês passado.
 
Na outra ponta, com mais empresas que relatam mercadorias paradas aquém do desejado do que em excesso, o setor de bens duráveis terminou o segundo trimestre com elevação de 12 pontos em seu indicador de estoques em relação à abertura do ano. Impulsionado pelas desonerações fiscais, principalmente no setor automotivo, essa parte da indústria chegou a ficar subestocada no fim do ano passado e, agora, passa por um processo de ajuste, explica Campelo.
 
O superintendente de ciclos econômicos da FGV acredita que a produção de bens de consumo duráveis vai desacelerar ao longo do ano, já que as políticas de incentivo ao consumo não devem mais surtir tanto efeito. Mesmo assim, diz ele, o setor não é mais tão suscetível a um desequilíbrio nos estoques, porque tanto a indústria como o comércio já ficaram "bem menos otimistas" a respeito da demanda para os próximos meses.
 
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o acúmulo de estoques por parte da indústria tende a piorar no segundo semestre, especialmente no setor de veículos, devido à perspectiva de que as manifestações populares vão continuar e, assim, afetar o desempenho do varejo. "Se antes a indústria já não estava produzindo, imagina agora com perspectiva de consumo bem mais fraco", disse.
 
Sem grande ajuda da parte de automóveis, Vale estima que o segundo semestre será mais fraco para a indústria, que pode fechar o ano no negativo. Por ora, a MB mantém estimativa de alta de 1% para a produção em 2013, que não recuperaria nem metade da queda de 2,7% observada em 2012. Campelo, da FGV, afirma que é difícil fazer projeções neste momento, já que o câmbio mais depreciado pode dar um alento às empresas, mas pondera que, até o mês de abril, a indústria dava sinais de que poderia crescer 3% no ano. "Com o recuo de 2% maio, essa projeção caminharia para 2,5%".
 

 



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