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Ciclo de expansão nos EUA pode ser dos mais longos

Veículo: Valor Econômico
Seção: Economia
 
Por Rich Miller e Steve Matthews | Bloomberg
 
O ritmo modesto da recuperação econômica dos Estados Unidos tem ao menos um ponto positivo: a expansão dá sinais de que poderá durar quase duas vezes mais que a média. No quarto ano de crescimento, a economia não está registrando muitos dos excessos que sempre pressagiam o começo das contrações. A inflação está em queda, assim como a dívida das famílias. O mercado de trabalho está frouxo, e não apertado.
 
A demanda reprimida também é um bom augúrio à longevidade da recuperação, que vem mostrando um crescimento anual médio de cerca de 2% desde seu começo, em junho de 2009. Confrontados com uma taxa de desemprego elevada e a depressão do mercado imobiliário residencial, os americanos adiaram casamentos e a compra de moradias e automóveis. Agora, com os preços das casas aumentando e com as folhas de pagamento crescendo mais rapidamente, o comportamento está mudando.
 
"A atual expansão poderá continuar por outros quatro a cinco anos", diz Robert Gordon, professor da Northwestern University, em Evanston, Illinois, que também é membro da comissão do National Bureau of Economic Research (NBER) que determina quando as recessões começam e acabam.
 
Isso fará da atual retomada a segunda mais longa já registrada, perdendo apenas para o período de dez anos que atravessou a década de 1990. A média desde o fim da Segunda Guerra é de pouco menos de cinco anos (58 meses).
 
Num reflexo do ritmo firme e lento da recuperação, as folhas de pagamento aumentaram em 175 mil pessoas no mês passado, em linha com a média do último ano, segundo mostram números do Departamento do Trabalho divulgados em 7 de junho.
 
"Se a economia continuar crescendo nos próximos três a cinco anos, os lucros [das empresas] aumentarão, e o mercado de ações subirá", diz Allen Sinai, diretor-presidente da Decision Economics de Nova York. Segundo ele, o índice Standard & Poor's 500 (S&P 500) poderá chegar aos 1.750 pontos neste ano e nos 2.000 em 2015.
 
O crescimento econômico vai acelerar para 2,9% no ano que vem e 3,2% em 2015, ante 1,9% em 2013, segundo o Goldman Sachs. "Poderemos ter um cenário de bom crescimento por um longo período", disse o economista Jan Hatzius à Bloomberg Television em 3 de junho, na Global Macro Conference promovida pelo Goldman Sachs em Londres.
 
Embora as perspectivas cíclicas para os EUA pareçam boas, a economia do país será prejudicada no longo prazo por obstáculos estruturais, como o envelhecimento da população, a estabilização do desempenho escolar e o aumento da desigualdade social, afirma Gordon.
 
Um choque também poderá tirar a recuperação do rumo, segundo acredita Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics. Entre as possibilidades, estão: um colapso do mercado de ações, uma alta súbita das taxas de juros de longo prazo ou um confronto militar dos EUA com o Irã que eleve os preços do petróleo. A maior produção energética dos EUA tornou o país menos vulnerável a uma alta dos preços do petróleo, mas mesmo assim a economia sofreria um golpe se isso ocorresse, acrescenta Zandi.
 
As autoridades econômicas seriam duramente pressionadas a enfrentar as consequências de uma mudança súbita, continua ele. As taxas de juros de curto prazo controladas pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, já estão próximas de zero, e o déficit fiscal do país continua alto pelos padrões históricos. O déficit de US$ 642 bilhões que o Escritório de Orçamento do Congresso espera para 2013 se compara a uma média anual de cerca de US$ 200 bilhões no último meio século.
 
Mas Zandi continua otimista: "Não há desequilíbrios significativos na economia privada", justifica. "Descontando algum choque imprevisto, acho que estamos muito bem."
 
As expansões passadas com frequência foram interrompidas por apertos de crédito pelo Fed. Quando a economia se deparava com restrições de capacidade e a inflação começava a subir, as autoridades monetárias aumentavam as taxas de juros para conter a pressão sobre os preços, prejudicando o crescimento no processo. Foi isso que aconteceu em 1957, 1960, 1980, 1981 e 1990, afirma Gordon.
 
Mas não está acontecendo agora. Esta expansão poderá durar mais porque a inflação continua baixa e o banco central continua estimulando o crescimento, acrescenta ele. Os preços ao consumidor subiram 1,1% em abril, relação ao mesmo período do ano passado. Foi o menor aumento desde 2010, segundo dados do Departamento do Trabalho.
 
No momento, o Fed está comprando US$ 85 bilhões em ativos por mês, num esforço para manter baixas as taxas de juros de longo prazo. O BC também prometeu manter os juros de curto prazo próximos de zero enquanto a taxa de desemprego permanecer acima de 6,5% e as perspectivas de inflação não excederem 2,5%.
 
O desemprego em maio ficou em 7,6%, bem acima da marca de 5% que prevaleceu no começo da última recessão, em dezembro de 2007. O desemprego elevado vem segurando a alta dos salários, o que restringe a inflação.
 
"O mercado de trabalho ainda está muito fraco, com o desemprego alto e uma participação muito baixa", afirma Robert Hall, professor de economia da Universidade Stanford, na Califórnia, e presidente da comissão de datação de recessão do NBER. "Temos um longo caminho a percorrer antes do aparecimento de qualquer tipo de excesso no mais importante de todos os mercados."
 
Há também poucos sinais de que o setor privado esteja tomando muitos empréstimos e concedendo crédito demais, diz Zandi. A dívida das famílias caiu 1% no primeiro trimestre, para US$ 11,2 trilhões, "consideravelmente abaixo" do pico de US$ 12,7 bilhoes estabelecido em 2008, segundo informou o Federal Reserve Bank de Nova York, em relatório divulgado em 14 de maio.
 
"Muitos ciclos anteriores terminaram por causa dos excessos do setor da construção, tanto na área residencial como na comercial", diz Gordon. "Esta foi uma grande causa da Depressão de 1929-1933 e também aconteceu em 2007-2008. Certamente não tivemos um excesso de construções durante 2008-2013, pelo contrário. Os Estados Unidos estão construindo moradias e automóveis abaixo da necessidade de reposição."


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