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Reação da economia vai aparecer nos lucros

Veículo: Valor Econômico
Seção: Empresas

Após um ano de lucros magros, a recuperação da economia brasileira deve aparecer com mais força na temporada de balanços do quarto trimestre de 2012, que teve início nesta semana com o banco Bradesco, a empresa de participações Tarpon e a desenvolvedora de softwares para gestão empresarial Totvs (ver matéria abaixo). A expectativa é que os resultados das empresas de capital aberto sejam melhores que os registrados no terceiro trimestre e já empatem com o nível dos últimos três meses de 2011, quando teve início a desaceleração da atividade econômica.

Apesar das perspectivas otimistas para a maior parte dos setores, uma recuperação mais profunda deve ficar para 2013. "O mercado esperava uma efetividade maior dos incentivos do governo em 2012", afirma a analista-chefe da Concórdia Corretora, Karina Freitas. Segundo ela, o resultado de benefícios para setores-chave da economia, como bens de capital e infraestrutura, só deve aparecer com mais intensidade neste ano.

Setores exportadores, como de papel e celulose, devem estar entre os destaques positivos na temporada de balanços do fim do ano, impulsionados pela valorização de 14,2% do dólar frente o real entre outubro e dezembro de 2012 contra o mesmo período do ano anterior. Na contramão, a demanda morna e custos pressionados sinalizam um período ainda fraco para o setor de siderurgia.

A expectativa do Bank of America Merrill Lynch (BofA) é que Fibria e Suzano mostrarem números fortes, influenciadas também pelo aumento dos preços de celulose e grandes volumes apresentados no período, reflexos da recuperação da demanda mundial e do dólar a níveis mais competitivos.

Se os custos devem seguir pressionados de forma geral, em meio ao forte avanço de preços verificado na economia no fim do ano, setores com resultado ligado à inflação, como concessionárias de rodovias e prestadoras de serviços de saneamento básico, devem se destacar. O cenário é positivo para fabricantes de alimentos e redes de supermercados, que conseguem repassar seus custos para os consumidores e têm o pico de consumo no quarto trimestre, afirma Gabriel Ribeiro, da Um Investimentos.

Nessa linha, o analista Felipe Rocha, da corretora Omar Camargo, acredita que as administradoras de shopping centers são destaque para a temporada. "Os números dos shoppings estão vindo muito bem. BR Malls e Aliansce são exemplos de empresas que apresentaram boas prévias operacionais."

Ele lembra que, por reunir receitas estáveis, proteção contra inflação e farta distribuição de dividendos, esses papéis ganharam espaço na carteira dos investidores mais conservadores no lugar das elétricas, que sofreram com a política do governo para redução das tarifas de eletricidade para o consumidor final.

Apesar de contribuir para o resultado de empresas com perfil mais "defensivo", o avanço dos preços de itens básicos da economia, associado ao aumento do endividamento das famílias, cobrou seu preço nas vendas de Natal. "As pessoas usaram o décimo terceiro salário para pagar dívidas, guardaram um pouquinho para as despesas de janeiro e apenas uma parte foi para as compras de fim de ano", diz Mitsuko Kaduoka, diretora de análise de investimento da BI&P Corretora.

O efeito deve ser sentido mais nas varejistas de eletroeletrônicos, itens que são mais caros e dependem mais do crédito. "O resultado ainda deve ser bom em relação a outros setores, mas vai ficar abaixo do que o mercado esperava inicialmente."

Varejo seguirá com bom desempenho, mas desaceleração de vendas no Natal pode frustrar expectativas

No caso das varejistas têxteis, a expectativa é de resultados robustos, em linha com o apresentado ao longo de 2012. A exceção ficará por conta das lojas Hering, que enfrentou problemas de abastecimento. "A direção da companhia subestimou a demanda do fim do ano e não tinha produto para atender os lojistas", diz Ribeiro, da Um Investimentos. As vendas dos estabelecimentos abertos há mais de um ano caíram 0,2% no quarto trimestre, segundo prévia operacional divulgada pela companhia. Para as concorrentes Renner e Marisa, a expectativa é de aumento nas vendas na casa de dois dígitos frente ao último trimestre de 2011.

Entre as gigantes da bolsa, a recuperação de 7,5% nos preços do minério de ferro deve garantir um resultado operacional melhor para a mineradora Vale do que no terceiro trimestre, quando a commodity atingiu seu piso no ano. Em relação ao quarto trimestre de 2011, no entanto, o minério ainda está 14,4% mais barato, o que significa resultados menores na comparação anual.

Mas uma série de ajustes contábeis deve derrubar a última linha do balanço e alguns analistas já preveem que a mineradora pode encerrar o último trimestre de 2012 no prejuízo. A Vale já anunciou provisões de R$ 935,5 milhões para possíveis perdas em processos tributários envolvendo o governo mineiro e uma subsidiária suíça e uma baixa contábil de cerca de R$ 8,5 bilhões referente a operações de níquel de Onça Puma, no Pará, e a ativos de alumínio em sua participação na norueguesa Hydro. Outros ajustes não são descartados pela diretoria da empresa.

No caso de Petrobras, o desempenho deve ser melhor que o registrado no fim de 2011, quando houve gastos com paradas programadas, que arranharam o resultado, e pelo reajuste dos preços da gasolina e do diesel que ocorreu em 2012. Mas os resultados podem frustrar as expectativas, diz Karina, da Concórdia.

Segundo ela, a demanda por diesel foi muito forte no quarto trimestre, em virtude do acionamento das usinas térmicas, em meio à estiagem que secou o reservatório das hidrelétricas. E, como a estatal vende combustíveis a preços subsidiados, abaixo dos praticados no mercado internacional, vender mais significa perder mais dinheiro.

Os balanços das empresas de energia elétrica, por sua vez, serão uma "caixinha de surpresas", segundo a analista-chefe da Concórdia. As distribuidoras, que já passaram por revisões tarifárias que resultaram em redução para o consumidor final, devem enfrentar o impacto do preço mais alto da energia. São elas que arcam, num primeiro momento, com o custo da energia térmica, muito mais cara. Esse valor será repassado ao consumidor final na próxima rodada de reajuste de tarifas, mas vai ter impacto nos custos do quarto trimestre.

Além disso, entre as geradoras, poderá haver uma série de ajustes contábeis bilionários para quem aceitou a proposta do governo para renovar as concessões antecipadamente mediante redução de tarifas, lembra Karina. No processo de renovação dos contratos, o governo avaliou os ativos dessas empresas muito abaixo do que estavam contabilizados em balanço - e isso poderá se refletir diretamente sobre o lucro do período.

Outro setor que passa por ajustes é o de construção civil, que está na segunda metade de um processo de redução do endividamento e ajuste de custos, avalia Rocha, da Omar Camargo. "As empresas estão lançando menos e colhendo mais os frutos do negócio, para gerar fluxo de caixa positivo e diminuir o peso das dívidas sobre o resultado."

 



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