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'Os investimentos na economia estão sendo retomados'

Veículo: O Estado de S. Paulo
Seção: Economia

Para o presidente do BNDES, percepção de que o Brasil não estava crescendo ou não iria crescer já foi ultrapassada.

FERNANDO DANTAS, ENVIADO ESPECIAL / DAVOS - O Estado de S.Paulo

O investimento na economia brasileira, que caiu por cinco trimestres consecutivos (e provavelmente seis, incluindo o último de 2012), está sendo retomado, diz Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Esta é, pelo menos, a indicação das operações do banco. Segundo Coutinho, as consultas ao BNDES "cresceram exponencialmente" no último trimestre de 2012, num salto de 150% em relação a igual período de 2011. E o crescimento de 60% em 2012 foi muito concentrado no final do ano.

Apresentado em Davos como o presidente de um banco de fomento maior do que o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) juntos, Coutinho teve uma agenda intensa no Fórum Econômico Mundial, e teve até de "racionar" os encontros com executivos de grandes empresas. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como foi o seu programa em Davos?

Foi uma programação muito intensa. Muito interesse de empresas em confirmar investimentos no Brasil. Eu tive uma superdemanda por encontros, e tive até de racionar um pouco. Terminei restringindo só a principais executivos.

De quais setores?

Áreas de agronegócio, equipamentos, metais, entre outras. Tive conversas sobre a agenda de energia. O meu sentimento é que aquela percepção de que a economia não estava crescendo, não ia crescer, já foi ultrapassada. A discussão agora é sobre quanto a economia vai crescer em 2013 e 2014 e se o governo está preparado para dar suporte ao crescimento.

O investimento caiu por seis trimestres consecutivos. Qual a perspectiva à frente?

No último trimestre, as consultas ao BNDES subiram exponencialmente, 150%. No ano todo, subiram 60%, mas foi muito concentrado no último trimestre. O volume de enquadramentos foi porcentualmente mais alto, revelando projetos mais consistentes e de maior escala. Também houve uma aceleração forte na venda de vários equipamentos e bens de capital na linha Finame no fim do ano. Mesmo em janeiro, mês sazonalmente menos ativo, está se mostrando forte. Do ângulo do BNDES, há uma retomada tanto de planos de investimento quanto de gasto efetivo em bens de capital.

Quais os setores puxarão essa retomada?

Infraestrutura, energia, energia renovável, infraestrutura social, saneamento, mobilidade urbana. Apoiamos também os investimentos dos Estados, que também tiveram uma aceleração no fim do ano. O setor automotivo também está reagindo razoavelmente bem. Os investimentos estão voltando, há novas unidades, e expansão das unidades existentes. Também tem a área de óleo e gás, que passou por um período de redução no ano passado, e agora está em ascensão. Em telecomunicações, há renovação de investimentos. Mesmo alguns setores voltados para mercado de consumo interno, como o têxtil, estão tendo um razoável desempenho de investimento. E, finalmente, a venda e a comercialização em larga escala de máquinas e equipamentos pela linha Finame.

Como o sr. vê a crítica liberal de que o BNDES mais atrapalha do que ajuda o financiamento privado de longo prazo, porque sua presença inibe a criação deste mercado?

Esse argumento tinha mais razão de ser quando a diferença de taxas de mercado e do BNDES era maior. A redução dos juros é um fator extremamente positivo para viabilizar o funding privado de longo prazo. Por outro lado, no passado recente e ainda hoje, o setor financeiro privado ainda não tem capacidade de financiamento de longo prazo na escala necessária. Então, sem o BNDES, boa parte do investimento não aconteceria ou aconteceria com endividamento externo, o que nem sempre é saudável. Então, acho que o grande avanço é que a convergência começou a acontecer.

Como assim?

Há um potencial muito grande, começando pelo mercado de capitais. Fundos de investimento, fundos de pensão, fundos de seguros, que precisam ter uma performance de rentabilidade, com os títulos de renda pública rendendo muito menos, precisam encontrar alternativa. As melhores alternativas, acredito, são bons projetos de infraestrutura, que têm longa maturidade, e podem oferecer uma renda fixa para investidores institucionais com o perfil adequado, se os incentivos forem colocados. O BNDES está colaborando com o desenvolvimento do mercado privado, cofinanciando, criando cláusulas que dão condições de confiabilidade à emissão desses papéis privados.

O BNDES pode diminuir, se o financiamento privado de longo prazo crescer?

Acho que o potencial de crescimento do mercado privado é muito grande. Se o mercado crescer rapidamente, a gente pode ficar parado, e todo o aumento do investimento ser na margem financiado pelo mercado. Se o mercado demorar, temos de ser muito cautelosos para não cair no risco de inviabilizar o investimento ou o mercado. Tem de ter uma sabedoria nesse equilíbrio, e estou extremamente consciente da necessidade de fazer o jogo de soma positiva.
 



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