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Empresas recuperam margem de lucro, seguram preço e qualificam mão de obra

 

Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/ValorJânio Machado, presidente da Freeway: "Houve um ganho pequeno, claro, mas não o suficiente para mudar o cenário"

 

O destino dos ganhos obtidos com a desoneração da folha salarial variou nas empresas. Algumas recuperaram margem de lucro, outras usaram a vantagem obtida para segurar os preços ou qualificar a mão de obra e, até mesmo, houve quem viu a queda no preço do produto ser engolida pelo varejo, que não a repassou ao consumidor. Em todos os casos, no entanto, o veredito foi o de que a medida deu um pouco de oxigênio à operação das indústrias calçadistas e têxteis, mas não garantiu vitalidade aos setores.

A empresa de confecção Dudalina usou a desoneração da folha de pagamentos ao longo do ano passado para aumentar e qualificar a mão de obra. De acordo com a presidente, Sonia Hess, a empresa contratou 700 funcionários ao longo de 2012, elevando o quadro para 2.400 trabalhadores. "Toda medida é bem-vinda. Usamos o ganho direto para melhorar a capacitação e expandir nossa produção. Com isso, esperamos uma melhora na produtividade", diz ela, que viu a produção física da empresa crescer quase 50% no ano passado com a instalação de uma nova unidade.

Também destoando do resultado do setor, que registrou queda na produção física em 2012 de acordo com o IBGE, a Döhler, fabricante de produtos de cama, mesa e banho, produziu 5,6% a mais em volume do que no ano anterior, segundo o diretor-comercial, Carlos Alexandre Döhler. O resultado positivo foi obtido por dois motivos, na sua visão: mudança na estrutura de custos e congelamento de preços ao longo do ano, que serviu para a empresa manter mercados e acompanhar o crescimento do consumo interno. A desoneração ajudou a segurar os preços.

"Todo o ganho foi repassado ao custo do nosso produto, ajudando a nos dar um pouco de competitividade. Mas o fator principal que impediu o aumento dos preços foi a diminuição em custos que tivemos com a adoção de novas tecnologias e métodos de gerenciamento da produção", afirma Döhler.

Guilherme Weege, presidente da Malwee, confecção que emprega 10 mil funcionários, diz que na prática a empresa conseguiu reduzir em cerca de 1% seus preços para o varejo, queda insuficiente para chegar ao consumidor na ponta da cadeia. "O varejo engordou a sua margem um pouco e a redução e o preço menor ficou quase imperceptível", diz o empresário.

Para Weege, a intenção do governo com a desoneração é boa, mas não resolve as discrepâncias de custos de produção do Brasil em relação aos principais concorrentes internacionais do segmento. Em resumo, diz ele, o setor era 30% menos competitivo que a China e agora ficou 29% atrás. "Ainda estamos em muita desvantagem", disse.

A Freeway, fabricante de calçados no município paulista de Franca, diz que o benefício serviu para recompor parte da margem operacional perdida nos últimos anos, quando aumentou a concorrência com os importados. "Houve um ganho pequeno, claro, mas não o suficiente para mudar o cenário", diz o presidente Jânio Machado.

Segundo ele, as empresas mais automatizadas do setor - como na área de componentes para calçados - não sentiram efeitos da medida adotada pelo governo por empregarem pouca mão de obra. "Isso amorteceu o benefício ao longo da cadeia."

No caso de empresas paulistas, a recomposição da margem de lucro foi atrapalhada pela redução do ICMS na indústria de calçados, diz o empresário. "A indústria teve de oferecer descontos para os seus clientes para compensar o menor crédito de ICMS do varejo", diz.

Na Piccadilly, calçadista do Rio Grande do Sul, o benefício aliviou a pressão de outros custos da operação e serviu para redução de preços em alguns casos pontuais, diz Marlon Martins, diretor-comercial. "Mas isso só foi possível também por uma renegociação com nossos parceiros-fornecedores e redução de margem em certos produtos." A produção da Piccadilly para o mercado interno aumentou em 20% em 2012, contudo os pares produzidos para o mercado externo sofreram uma queda de 30%.

 



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