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Medidas podem reduzir custos do setor em até 20%

 

Por Tainara Machado e Denise Neumann | De São Paulo

Depois de uma década de escalada dos custos de produção da indústria de transformação no Brasil, as medidas anunciadas pelo governo ao longo do último ano para injetar competitividade na economia podem levar o setor manufatureiro a encerrar 2013 com uma "folga" de 15% a 20% nos custos, permitindo alguma recuperação da produção após dois anos de desempenho medíocre, avaliam economistas.

Entre 2001 e 2011, avanços fortes do custo unitário de produção da energia elétrica, de insumos domésticos não comercializáveis e, principamente, do trabalho, fizeram com que produzir uma unidade nesse período no Brasil ficasse 8,5% ao ano mais caro em reais e 12,2% em dólares, por causa da apreciação cambial, segundo estudo de Francisco Eduardo Pires de Souza, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e assessor da diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As contas de Souza consideram o conceito de custo unitário de produção, ou seja, o valor gasto com cada insumo para fabricar cada unidade fabricada por uma empresa ou setor.

 

Diante do arsenal de medidas que o governo tomou para reanimar a indústria no ano passado, como desoneração da folha de pagamentos, alteração nas contas de energia elétrica e desvalorização do real, Souza estima que o índice de custo da indústria de transformação em dólares recuará 20% em 2013, na comparação com 2011.

Se as projeções de Souza se confirmarem, a indústria encerrará 2013 com o mesmo nível de competitividade, em dólares, observado em 2008, ano anterior à fase mais aguda da crise. O caminho a partir daí é mais incerto, já que o desafio será ganhar eficiência e produtividade, o que depende essencialmente de investimentos em capital físico e humano.

Por ser uma das principais queixas da indústria, o Plano Brasil Maior, que tem por objetivo aumentar a capacidade de competição da indústria nacional, buscou reduzir o custo do trabalho. A desoneração da folha começou timidamente, com quatro setores, mais foi ampliada e valerá para 42 segmentos em 2013. Com a medida, a contribuição previdenciária passou de 20% sobre a folha de pagamentos para alíquota de 1% a 2% sobre o faturamento. Pelas contas de Souza, essa mudança e os ganhos de produtividade (que viriam por causa da virada esperada para o ciclo econômico) farão o custo unitário do trabalho recuar 12% em 2013, depois de 12 anos de altas seguidas.

A redução de cerca de 20% da tarifa de energia elétrica também dará contribuição significativa para o alívio de custos esperado para o próximo ano. Além disso, a grande oferta de produtos no cenário externo reduz o aumento dos custos com insumos comercializáveis, afirma o economista.

Ainda assim, apesar das tentativas do governo de ampliar a competitividade da indústria, sem a desvalorização cambial observada no último ano o efeito desse esforço seria muito menor. Em reais, os custos da indústria brasileira vão subir, em média, 1% ao ano entre 2012 e 2013, ainda que muito menos do que a alta anual de 8,5% observada no país na década encerrada em 2011. A indústria brasileira só terá alívio de custos por causa do efeito do câmbio. Em dólar, o custo industrial, que aumentou 12,2% anualmente entre 2001 e 2011, agora recuará 10% tanto em 2012 quanto 2013.

Souza ressalta que seus cálculos não consideraram que houve queda importante do custo de financiamento do capital de giro e de investimentos. "Com essa ajuda, houve recuperação razoável da competitividade. As medidas adotadas até agora têm mérito e vão na direção de tornar o produto nacional mais barato", afirma.

Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica, estima que a queda de custos colocada em marcha pelo governo pode alcançar 15%. Ele lista entre os custos que caíram os salários (em dólar, em real ainda subiram, embora menos), o investimento (o juro menor reduziu o custo de capital), a compensação de gastos com insumos para o exportador, pelo Reintegra, além da energia elétrica que ficará mais barata, e que tem, também, impacto indireto em outros componentes usados pela indústria, especialmente os produzidos pelos setores eletrointensivos - alumínio, cerâmica, vidros e outros.

Além disso, a desoneração da folha de pagamento dará mais uma margem de competitividade para o setor. Por tudo isso, para Gomes de Almeida, há reais chances de mudança para a indústria em 2013. "Todas essas medidas criam um clima positivo, mas o empresário ainda quer ter certeza que isso tudo vai durar", afirma.

Sérgio Vale, da MB Associados, é cético quanto aos ganhos que a indústria terá em decorrência das recentes medidas anunciadas pelo governo. Ele não procurou estimar o impacto, mas avalia que percentuais entre 10% e 15% são exagerados. "O Brasil está perdendo a chance de se tornar competitivo de fato e estimular a produção industrial. Sob diversos critérios, nossos custos ainda são muito elevados em relação ao resto do mundo. Ao fazer o corte de energia, por exemplo, você corta 20%, mas ainda assim nos mantemos entre os maiores custos do mundo", diz.

"O mundo está fazendo um grande ajuste competitivo", e não apenas nos países ricos, afirma Vale. O economista também vê aumento de concorrência vindo da América Latina, especialmente do México, com manufaturados, e Peru e Colômbia, com commodities e outros bens, como têxteis. "Já vemos muitas roupas no Brasil com a etiqueta 'made in Peru'", diz. Desde 2008, o déficit comercial do Brasil com o Peru em produtos têxteis passou de US$ 8 milhões para US$ 71 milhões, com aumento de 600% nas importações feitas pelo Brasil provenientes do país andino.

"Parte da nossa indústria está ficando muito velha, obsoleta, e a China está entrando na produção de bens de maior valor agregado, de manufaturados de alta tecnologia, e aí não temos mais como competir", afirma Vale.

Embora tenha visão bem mais positiva para 2013, Souza, da UFRJ, também pondera que, a partir daí, "a rampa é mais inclinada, porque a indústria terá que contar com aumento da produtividade". Investimentos em infraestrutura, por exemplo, reduzem o custo sistêmico. "Pensando em um prazo mais longo, é preciso de investimento em educação, que, em última instância, é o que aumenta substancialmente a competitividade."


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