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Brasil, caro e ruim

Veículo: Folha de S. Paulo
Seção: Colunistas - Vinicius Torres Freire

A economia não tem crescido quase nada porque o investimento privado na produção tem sido um desastre desde meados de 2011. É o resumo da ópera da notícia do Pibinho de anteontem. Se levado em conta o aumento da população, o Brasil não vai crescer nada neste ano. ZERO.

O investimento privado tem sido um desastre porque:

1) o Brasil ficou caro demais e parte cada vez mais importante do que consumimos é importada;

2) o investimento do governo cresce quase nada desde o início do ano passado;

3) falta direção e ordem nas regras que pautam o mercado;

4) desde o ano passado o empresário está também com medo de novo tumulto na economia mundial (o desastre recorrente na Europa, o risco de corte de gasto público e de volta da recessão nos EUA, a dúvida sobre que bicho vai dar na China. O de sempre, desde 2008).

O Brasil ficou caro, qualquer cidadão percebe. Tanto que o assunto virou piada por ocasião daquela macaquice grotesca da "Black Friday", a liquidação americana pré-Festas que imitamos por oligofrenia cultural: "Tudo pela metade do dobro do preço".

O Brasil ficou caro porque a taxa de câmbio real se valorizou (e as empresas são lerdas em inovação). A desvalorização nominal (a "do preço do dólar" que compramos) recente deu um refresquinho. Porém, como a inflação sobe muito mais aqui do que nos países com os quais comerciamos, o refresco foi uma gota.

Como o Brasil está caro, importamos cada vez mais o que consumimos. Como o consumo no mundo rico não está crescendo nada, de resto não temos como vender muito mais da nossa produção.

O povo ainda está feliz feito pinto no lixo porque as vendas do comércio vão crescer uns 8,5% neste ano de crescimento miserável da economia. Estamos comprando mais, produzindo menos, simples assim.

As empresas pagam salários maiores, na média, mas a produção não segue o mesmo ritmo. O desemprego da mão de obra está baixo, mas parte do capital está ociosa. Os lucros, grosso modo, estão menores. Não vale muito a pena investir em capacidade nova, pois.

O governo poderia dar um empurrão no empresário caso conseguisse investir mais, "em obras", o que não acontece desde o início do governo Dilma Rousseff. Não acontece por causa de falta de projeto, por corrupção (a derrubada de ministros enrolados, em 2011) e por gerência incompetente, mesmo.

Parece que, enfim, o investimento do governo ressuscitou neste trimestre, mas é cedo para dizer que a coisa vai engrenar. Como o governo não tem nem muito dinheiro nem competência, poderia chamar empresas privadas para investir em obras públicas ("concessões de infraestrutura"), promessa que fez tardiamente e retarda em cumprir.

Há quem diga que o endividamento das famílias e a retranca bancária no crédito também jogam areia na engrenagem. Assim parece, mas não é. Não é por falta de consumo que o país não cresce --vide a alta das vendas do varejo.

Sim, o país está cheio de "problemas estruturais", de "longo prazo", cansamos de saber. No "curto prazo", o país está caro e não investe, mesmo com juro real a 2% e o BNDES praticamente dando dinheiro.



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