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O fator trabalho

Veículo: Folha de S. Paulo
Seção: Opinião

Economistas discutem que razões domésticas permitiram ao Brasil acelerar o crescimento do PIB na metade final da década passada. Quantidade e capacidade produtiva de máquinas e instalações não tiveram elevação destacada --o que se nota pela variação discreta da taxa de investimento.

A produtividade decepcionou. O país não veio produzindo significativamente mais para uma mesma quantidade de insumos aplicada.

A atividade acelerou-se sobretudo tirando proveito da capacidade já instalada, diminuindo sua ociosidade, e da força de trabalho disponível. A taxa de desemprego, que nas regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE foi a 5,4% em setembro, está 58% abaixo do nível de 2003. O número de pessoas ocupadas, 23% acima. O poder de compra do salário, 31% maior.

Esse ritmo notável de incorporação de trabalhadores dificilmente continuará. A oferta de mão de obra, já limitada pelo baixo desemprego, tende a se tornar mais escassa com o correr dos anos.

A julgar pelas projeções demográficas, a população brasileira passará por pronunciada mudança de perfil etário até meados deste século. A queda drástica já verificada no número médio de filhos esperados de cada mulher, para menos de dois, prenuncia declínio populacional no longo prazo.

Mantida essa tendência, a população em idade de trabalhar começará a declinar no país por volta de 2030 --quando terá atingido o auge de 150 milhões.

O padrão de crescimento do PIB baseado na absorção de mão de obra disponível está, portanto, ameaçado. Decerto a solução para o impasse é catapultar a produtividade da economia brasileira, o que requer saltos na educação e na incorporação de tecnologia.

Porém, medidas que possam mitigar o declínio precoce da força de trabalho --e evitar que ele se acentue demais ao longo das décadas-- deveriam também ser cogitadas. Bem calibrada, a atração de imigrantes seria uma delas.

A Europa em crise oferece oportunidades de buscar trabalhadores especializados, o que deveria ser a prioridade dessa política. De países sul-americanos e caribenhos, onde a fecundidade elevada se combina à falta de empregos, poderia vir mais mão de obra, como já ocorre --desde que, em todos os casos, em fluxos controlados e direcionados a necessidades circunscritas.



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