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Indústria deve crescer, mas sem contratar

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil

Após longo período de produtividade em queda e aumento dos gastos com a folha de pagamentos, a indústria deve crescer nos próximos meses sem aumentar o pessoal ocupado. Esse movimento, que vem sendo observado desde junho, fortaleceu-se em agosto, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada ontem. No mês, apesar de a produção do setor ter crescido 1,5% na comparação dessazonalizada com julho, o pessoal ocupado recuou 0,1%.

O crescimento esperado virá do aumento da produtividade, avaliam economistas. Eles acreditam que existe ociosidade na indústria capaz de comportar o avanço neste ano. Em agosto, a produtividade do trabalho na indústria avançou 1,5% ante julho - índice igual ao da produção, já que o volume de horas pagas não variou em relação ao mês anterior.

Esse foi o terceiro mês seguido em que houve aumento da produtividade na indústria. Em julho, o avanço ante junho tinha sido de 0,2% e, em junho, de 0,5% ante maio. No entanto, a produtividade da indústria acumula queda de 1,3% no acumulado do ano até agosto, na comparação com igual período de 2011.

Para Caio Machado, economista da LCA Consultores, o crescimento da indústria no último quadrimestre será calcado nesse aumento da produtividade. "O dado de agosto confirmou nossas expectativas de que o emprego industrial perderia força até o fim do ano, porque há um estoque de trabalhadores ocupados muito grande, dada a produção", avalia. "A atual capacidade instalada da indústria ainda comporta essa correção no pessoal ocupado."

Enquanto a retomada da produção não der sinais de consistência, o setor esperará para fazer novas contratações, na avaliação de Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria. Ele acredita que o terreno precisa estar mais estável para que os empresários voltem a contratar. "O emprego está parado mesmo com o crescimento da produção nos últimos três meses. A tendência é esperar uma retomada mais consistente da indústria para que o emprego dê sinais de melhoria. O ambiente ainda é de muita incerteza. Até agora vemos apenas um ensaio de melhora para o setor industrial", avalia.

A projeção da Tendências aponta queda de 0,4% da produção industrial em setembro, na comparação dessazonalizada com agosto, o que reforça esse cenário de crescimento ainda inconsistente. "O aumento da produtividade é uma tendência. Há também uma acomodação nos custos, o que é positivo para incentivar a retomada da produção", diz Bacciotti.

Segundo Leandro Padulla, economista da MCM Consultores, o recuo do pessoal ocupado em agosto ainda reflete o alto custo unitário do trabalho. "O custo unitário do trabalho pressiona a indústria e é um dos maiores entraves para o avanço do emprego no setor neste momento mais claro de retomada da produção", avalia.

"Algumas ações do governo, como a desoneração da folha de pagamentos, ajudam a diminuir o custo Brasil e, consequentemente, a aumentar a produtividade", diz Padulla, para quem os resultados da desoneração da folha no pessoal ocupado da indústria serão mais claros em 2013, quando a extensão do benefício para mais 25 setores passa a valer.

O IBGE observou que a folha de pagamento real teve alta de 2,2% na passagem de julho para agosto, com ajuste sazonal. Esse resultado foi puxado pelo pagamento de participação nos lucros da Petrobras. No acumulado do ano, o indicador avançou 3,4%. Considerando somente a folha da indústria de transformação, a alta foi de 0,6% entre julho e agosto, com ajuste.

De acordo com Machado, da LCA, a desoneração da folha de pagamentos vai se refletir de maneira positiva na criação de empregos. "O efeito sobre o mercado de trabalho será positivo, mas só ocorrerá quando a atividade engrenar, a produção crescer mais e a produtividade tiver recuperado as perdas deste ano", afirma.

Bacciotti, da Tendências, lembra que há forte rigidez no mercado de trabalho, o que consolida no empresário industrial a intenção de segurar as contratações até que o cenário seja mais consistente. No acumulado de janeiro a agosto, o pessoal ocupado na indústria recuou 1,4%, ante igual período de 2011. "Ainda estamos num patamar de ociosidade. É possível crescer sem aumentar o emprego. Temos espaço para recompor essa ociosidade", avalia.

O emprego industrial no acumulado do ano registra queda em 11 dos 14 locais pesquisados pelo IBGE, na comparação com igual intervalo de 2011. O principal impacto negativo vem de São Paulo, onde o recuo foi de 3,2%. Entre os 18 setores analisados, o total do pessoal ocupado recua em 13. As contribuições negativas mais relevantes vêm de vestuário (-8,3%), calçados e couro (-6,3%), produtos de metal (-4,4%) e têxtil (-5,5%).

 



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