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Corte nos juros derruba ações do varejo

Veículo: Valor Econômico
Seção: Empresas

Os cortes nos juros do cartão de crédito anunciados nesta semana pelos bancos Bradesco e Itaú , seguindo seus concorrentes estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, pressionaram ontem as ações das varejistas que têm operação própria de financiamento ao consumidores.

Os papéis das Lojas Renner encerraram o dia em queda de 4,2%, enquanto as ações das Lojas Marisa recuaram 3,2% e as da Magazine Luiza, 2,7%. Com menor liquidez, as ações da Guararapes subiram pouco menos de 1%.

O Bank of America Merrill Lynch (BofA) e o UBS divulgaram ontem relatórios alertando seus clientes sobre o risco de queda nos lucros das varejistas que oferecem serviços financeiros com o recente movimento de redução de juros do cartão pelos bancos.

O analista Gustavo Oliveira, do UBS, explica que, no longo prazo, o impacto das menores taxas de juros cobradas pelos bancos nos cartões de crédito deve ser benéfica para as varejistas à medida que incentivar a demanda.

No entanto, grande parte das empresas de varejo têxtil oferece serviços financeiros, como financiamento de compras e empréstimo pessoal, e terá que igualar as taxas oferecidas agora pelos bancos para não perderem espaço.

De acordo Robert Ford, do BofA, historicamente, a Renner oferecia juros menores do que os cartões de crédito dos bancos. Entretanto, com a recente redução dos juros do Bradesco e do Itaú, a companhia terá que se movimentar para alcançar as taxas, o que pode se traduzir em lucro menor.

O BofA estima que, se a Renner tentar alcançar as taxas estabelecidas pelos bancos, o lucro anual pode cair em até 15%. O banco avalia ainda que a cruzada do governo para reduzir os juros pode respingar sobre as financeiras, na forma de uma regulação mais rígida. "Os spreads elevados e um exame minucioso sugerem que o risco de quedas adicionais nas taxas de juros para os consumidores é elevado, bem como um aparato regulatório mais definitivo", ressalta.

O UBS recomendou aos investidores a compra das ações da Hering, pois a companhia não tem exposição a serviços financeiros.

No caso da Renner, a operação de serviços financeiros, que inclui o parcelamento de compras efetuadas na loja e operações de empréstimos pessoais, representou 26,2% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) no primeiro trimestre. Nas Lojas Marisa, essa fatia foi de 32,1% e, na Guararapes, foi de 27%, no segundo trimestre.

O Magazine Luiza não divulga a divisão da composição do Ebitda por atividade. Mas, na primeira metade do ano, as operações de "financiamento ao consumo" representaram 9% da receita líquida.

Gabriel Ribeiro, da equipe de análise da Um Investimentos, ressalta ainda que a intenção dos bancos de reduzir os parcelamentos sem juros pode pesar sobre as ações de varejo. "As indicações nesse sentido ainda são muito preliminares, mas geram ruídos no setor", pondera.

A possibilidade de os bancos começarem a cobrar uma taxa extra às varejistas que parcelarem sem juros foi apontada por uma reportagem da "Folha de São Paulo" publicada ontem. Mas de acordo com Ribeiro, ainda é muito cedo para bater o martelo a respeito do que será decidido. "Os bancos têm poder, mas as varejistas também podem se mobilizar", ressalta.

Um empresário de uma rede de bens duráveis comenta que a cobrança da taxa não faria sentido se o governo comparar o balanço de um banco com o de uma varejista. "As margens do varejo já são apertadas demais", comentou.

De qualquer forma, as sinalizações de que os bancos querem reduzir as operações de parcelamento sem juros no cartão de crédito acendem um sinal amarelo para as ações da B2W, afirmaram os analistas do UBS em relatório divulgado ontem.

De acordo com eles, as margens das varejistas de eletrônicos, que realizam suas vendas mediante financiamentos mais alongados, já estão bastante pressionadas por conta do elevado nível de competição do setor e restrições no financiamento podem representar riscos adicionais para o nível de vendas e a rentabilidade das empresas.

A recomendação do banco para as ações da B2W é de venda. Para as ações do grupo Pão de Açúcar, que inclui a subsidiária Via Varejo, dona das marcas Ponto Frio, Casas Bahia e Extra.com, o UBS aconselha a manutenção das ações.

De acordo com Ribeiro, da Um Investimentos, a grande exposição do Pão de Açúcar ao negócio de alimentos, que não é tão sensível ao crédito, representa uma espécie de proteção em relação às questões envolvendo a regulação de financiamentos e empréstimos.

 

 


 



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