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Sem expansão, importados ameaçam ganhar mais espaço

Veículo: O Estado de S. Paulo
Seção: Economia

Falta de investimentos compromete competitividade de vários setores da economia brasileira.

No futebol, sempre que um time ataca inúmeras vezes e não consegue fazer o gol, os comentaristas costumam dizer que "quem não faz toma". A expressão cabe perfeitamente nos investimentos. Se há demanda e não há expansão, os importados vão tomar conta do mercado. Essa é a ameaça que ronda vários setores da economia brasileira.

Na indústria de açúcar e álcool, por exemplo, há demanda para investimentos de R$ 156 bilhões até 2020; no setor químico, a necessidade é de US$ 167 bilhões em dez anos; e na indústria de papel e celulose, de US$ 22 bilhões. Em nenhum deles, no entanto, os investimentos estão sendo cumpridos. No setor de cana-de-açúcar, o Brasil deu dois passos atrás. Além de ter de reduzir a mistura de etanol na gasolina, foi obrigado a importar o combustível dos Estados Unidos.

Depois de anos carregando o título de mais competitiva na produção do biocombustível, a indústria nacional sucumbiu à maldição do custo Brasil. Mas não foi só isso. Enquanto o custo de produção subia, o governo mantinha sob forte controle os passos da Petrobrás, que não consegue reajustar o preço da gasolina para não pressionar os índices de inflação. Resultado: o País hoje importa tanto etanol como gasolina, o que tem contribuído para reduzir o saldo da balança comercial.

Na indústria química, as importações já correspondem a um terço do mercado - no início dos anos 2000, não passava de 10%, afirma Fernando Figueiredo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Segundo ele, hoje o mercado brasileiro cresce a taxas chinesas, mas os investimentos têm sido a metade do previsto.

"No Brasil, o investimento custa entre 20% e 25% mais que na Ásia. Isso por causa do custo Brasil e da carga tributária elevada." Hoje, completa o executivo, a energia elétrica custa duas vezes mais que nos Estados Unidos, e o gás - que é matéria-prima parar o setor -, quatro vezes mais. "Isso sem considerar a logística, que é ruim."

Mas o executivo pondera: "Hoje estou mais otimista do que há seis meses". A esperança de Figueiredo foi renovada pela redução dos preços da energia elétrica, pelo anúncio das concessões rodoviárias e ferroviárias e pelo modelo de portos que deverá ser apresentado até o fim do mês.

Papel e celulose. Os investidores da indústria de papel e celulose estão em compasso de espera. Para concretizar os US$ 22 bilhões em investimentos que estão represados, o setor pede políticas de longo prazo e melhora na infraestrutura.

"Esse setor precisa muito de políticas de médio e longo prazos, porque leva sete anos para que um projeto comece a trazer novos produtos para o mercado", afirma Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). "É preciso saber as regras de investimento para daqui a cinco anos, por exemplo", diz Elizabeth.

As recentes medidas do governo de incentivo para o setor industrial "soam bastante alentadoras", diz Elizabeth. Ela pede, contudo, a desoneração definitiva dos tributos sobre os investimentos. "Antes de uma empresa levantar um prédio, ela já estará pagando imposto", afirma.

O setor também tem sofrido com o aumento das importações de papel. Em julho, 125 mil toneladas foram importadas, uma alta de 10,6% em relação ao mesmo mês de 2011. Entre janeiro e julho, o saldo comercial do setor de papel e celulose está em US$ 2,745 bilhões, uma queda de 4,9% ante o mesmo período do ano passado. / R.P. e L.G.G.



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