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Superávit cai nos produtos de baixa tecnologia e déficit da indústria piora

O aumento do déficit em US$ 6,5 bilhões na balança da indústria de transformação brasileira no primeiro semestre do ano foi puxado por produtos de baixa e média-baixa tecnologia - alimentos, bebidas, borrachas, calçados e papel, entre outros -, que até então contribuíam para segurar o avanço do saldo negativo. Em relação aos seis primeiros meses de 2011, as indústrias com produtos de menos valor agregado foram responsáveis pelo incremento de 75% no déficit.

A queda no preço das commodities, a dificuldade de competição das indústrias têxtil e de calçados e o aumento massivo de importações de derivados de petróleo ajudaram no resultado negativo, enquanto os setores de média-alta e alta tecnologia não tiveram incremento substancial das compras externas. Entretanto, esses dois últimos tiveram contribuição importante no saldo negativo total, de US$ 27,8 bilhões.

Ano passado, o déficit havia crescido 48% em relação a 2010. No primeiro semestre do ano, o saldo negativo subiu menos (31%), segundo levantamento realizado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Se, nos seis primeiros meses de 2011, a indústria de transformação de média-baixa tecnologia apresentou saldo negativo de US$ 1,8 bilhão - valor 46% menor do que em 2010 -, de janeiro a junho deste ano a conta ficou negativa em US$ 4,7 bilhões. O incremento aconteceu no setor de produtos refinados de petróleo, que viu o déficit aumentar 27% e pular para US$ 7,6 bilhões. Só de gasolina, o Brasil comprou do exterior, de janeiro a maio, 315% a mais do que no mesmo período do ano passado, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Na indústria de baixa tecnologia, mais causas contribuíram para a queda no superávit, que passou de US$ 19,1 bilhões (10% maior do que em 2010) para US$ 17,1 bilhões. O setor de alimentos, bebidas e tabaco, o mais forte, gerou menos divisas para a balança total. Enquanto no ano passado o superávit havia crescido 18%, neste ano o saldo positivo caiu 6,6%. Têxteis, couro e calçados, que estão tendo dificuldades para concorrer no mercado externo, agravaram o déficit, que passou de US$ 495 milhões para US$ 1,1 bilhão.

Para Julio Gomes de Almeida, consultor do Iedi, têxteis e calçados passam por um problema de competitividade, enquanto alimentos e bebidas perderam mercado externo, em função da desaceleração da economia mundial, e menos exportação, por causa dos preços mais baixos das commodities, que estão atrelados aos produtos vendidos por essa indústria. "As exportações em têxteis e calçados caíram 9%, um percentual elevado. O setor de alimentos e bebidas não registrava queda no superávit desde 2004", afirma.

Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), os importados dos setores de confecção continuam muito baratos, mesmo com a desvalorização do real. "Além disso, temos problemas com nossos maiores compradores de calçados, por exemplo. O Reino Unido está diminuindo as compras por causa da crise e a Argentina, para quem a gente vende 14 milhões de pares, está dificultando a entrada do produto."

Maior responsável pelo saldo negativo global, a indústria de média-alta tecnologia, que abarca os setores farmacêutico, químico e máquinas e equipamentos elétricos e mecânicos, além de automóveis, registrou crescimento de 5% no déficit. As importações, entretanto, superaram as exportações em US$ 25 bilhões, influenciadas pelo leve incremento de 3,1% nas compras do exterior.

Já a indústria de alta tecnologia teve bom resultado por parte do setor de aeronáutica, que reduziu o déficit, de US$ 249 milhões para US$ 46 milhões. "A Embraer está conseguindo vender mais ao exterior", diz Almeida. No geral, os produtos de maior valor agregado ganharam espaço no exterior, o que pode ser considerado uma boa notícia, segundo o consultor. As exportações aumentaram 10,2% em relação ao ano passado. Mesmo assim o setor continua deficitário, com saldo negativo de US$ 15 bilhões, um aumento de 3%.

Na comparação com o resultado do primeiro semestre do ano passado, a indústria da transformação teve um cenário distinto. Em 2011, as importações cresceram mais do que as exportações - 28% a 22%. Neste ano, enquanto as compras se desaceleraram, com acréscimo de 5,8%, as vendas ao exterior encolheram 2% em valores.

"Antes, os lados da balança cresciam juntos. Agora, há uma combinação mais perversa, de desaceleração da importação, em função do ritmo menor da economia brasileira, e de queda nas exportações", explica Almeida. "O mercado sul-americano, o principal para a indústria brasileira, mostra estrangulamento, explicando parte da queda das vendas. Outro fator que o resultado aponta é que a desvalorização do real não foi suficiente para dar mais competitividade à indústria e segurar o ímpeto das importações."

O quadro de ampliação do déficit na indústria da transformação não deve ser alterado neste ano, segundo Castro. "Não há perspectiva de reversão nesse quadro. Ainda é mais barato e menos arriscado importar do que desenvolver a indústria interna, que requer investimentos, contratação de mão de obra e custos maiores, além do risco de o negócio não dar certo", diz.

 

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil



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