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Pleno emprego também é divisor de águas do Brasil

Veículo: O Globo
Seção: Economia


BLUMENAU - O pleno emprego também é um retrato das desigualdades nacionais. Na Região Sul, que não é o motor da economia brasileira, 56,64% das cidades têm taxa de desocupação menor do que 3,5%. Santa Catarina puxa esse indicador: 72,35% dos seus municípios oferecem trabalho a quem procura. No Nordeste, são apenas 6,96%, sendo o pior resultado o do Bahia (1,19%).

— Com a perda de espaço da indústria para o setor de serviços na economia brasileira, o mercado de trabalho na Região Sul reage e cresce. É bom lembrar ainda que o Sul reúne os melhores indicadores do mercado de trabalho, da formalização à escolaridade — afirmou Marcelo de Ávila, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Ainda que parte dos municípios com baixa taxa de desemprego seja da zona rural, os dados corroboram a tese de que o crescimento do país se volta cada vez mais para o interior. Leia-se: a quilômetros de distância das regiões metropolitanas — essas, sim, amargando, em geral, taxas mais elevadas. Fora dos grandes centros, há mais espaço e menos custo para empresas, abrindo o caminho para polos industriais.

— Há um movimento da indústria, desde os anos 90, de migração das regiões metropolitanas para o interior. E os empregos acompanham essas iniciativas — acrescentou Ávila.

Qualidade de vida é atrativo

Com mais de 300 mil habitantes e forte influência alemã, Blumenau é a maior cidade brasileira com pleno emprego. Tem taxa de desemprego de 2,74% e uma economia fortemente baseada na indústria têxtil. Só a Hering emprega mais de três mil pessoas, como o paulista Paulo Roberto de Oliveira, de 23 anos.

— Vim morar em Blumenau porque aqui é onde quero ficar. Há trabalho e qualidade de vida — disse o tecelão, que não se arrepende de ter trocado o emprego em São Paulo, no qual ganhava 70% a mais.

Essa qualidade de vida se traduz em empregos cujos horários permitem ir a um dos três shoppings da cidade após as 17h ou buscar o filho na escola. O trânsito é limitado a algumas ruas, na hora de entrada e saídas das empresas.

Mas a indústria ainda teme os efeitos da demanda mais fraca. Para o presidente do Sintex, Ulrich Kuhn, há risco de o desemprego subir já neste segundo semestre. Mas, para outros especialistas, a cidade vem se blindando ao diversificar a economia, apostando em segmentos como serviços de tecnologia.

Blumenau tem hoje cerca de 600 empresas de informática, que dão trabalho a nove mil pessoas — 70% delas com nível superior. Para formar profissionais para essas empresas, governo, empresas e entidades se uniram para montar cursos de capacitação. Numa dessas salas está Luiz Afonso Glasenapp, de 17 anos, que já tem oito cursos profissionalizantes e dá aulas de informática.

— Hoje meu pai somente me dá teto e comida. Ganho R$ 700 trabalhando somente aos sábados. Tecnologia é uma área promissora — afirmou.

A julgar pela trajetória dos colegas Robson Passos, de 18 anos, e Lucas Ian Citadini, de 17, Luiz Afonso sairá do seu curso empregado.

— Trabalhava na expedição no setor têxtil. Agora sou desenvolvedor de sistemas, e meu salário é de R$ 1.321 — disse Robson. — O único defeito de Blumenau é não ter praia.

Na cidade há outras atividades. Como a fábrica de refrigerantes Max Wilhelm, que emprega cem pessoas. E não escapa da falta de mão de obra:

— Blumenau é um polo industrial, e as pessoas trocam de emprego por causa de R$ 15, R$ 20 ou uma cesta básica a mais — disse Otávio Greuel, diretor da companhia.

 

 


Investindo no futuro. Luiz Afonso Glasenapp faz curso de sistemas na Blusoft: “Tecnologia é uma área promissora”
Foto: Agência O Globo / Foto: Paula Giolito

 


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