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Greves afetam balança comercial e saldo de julho recua 8% sobre 2011

Por Sergio Leo | De Brasília

Afetado pelas greves dos fiscais da receita e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o comércio exterior brasileiro alcançou um superávit de quase US$ 2,9 bilhões em julho, 8,3% abaixo do resultado de julho do ano passado, mas acima das expectativas dos especialistas. No mês, tanto as compras quanto as vendas externas do país caíram 10% em relação ao mesmo período de 2011.

No acumulado do ano as importações acumularam recorde, com US$ 128,3 bilhões, aumento de 1,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. As exportações somaram US$ 138,2 bilhões, enquanto o saldo ficou em US$ 9,9 bilhões, 38% inferior ao dos mesmos sete meses de 2011.

Para o Ministério do Desenvolvimento, a crise econômica mundial, que também afeta o resultado da balança comercial, não permitirá que a recuperação, tanto de importações quanto de exportações seja tão forte quanto a registrada em maio de 2008, após a greve da Receita naquele ano, que fez cair compras e vendas com o exterior.

"Até acho que importações podem ter sido mais atingidas que exportações (por causa das greves), porque tem liberação de cargas, anuência da Anvisa, mas não dá para separar o efeito", comentou o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, ao anunciar o resultado do comércio brasileiro em julho.

O reflexo das greves sobre a balança comercial divide especialistas. Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior Brasileiro (AEB), José Augusto de Castro, a relativa manutenção das médias diárias de exportação, em julho, e a queda forte nas importações de petróleo, quase 35%, indicam que o efeito das greves têm pesado mais fortemente sobre as compras externas que, nota ele, só estão maiores, pela média diária, que as de janeiro.

Para Rodrigo Branco, da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), porém, o efeito não teve importância suficiente para provocar um desvio em relação às tendências para o ano. Apesar de surpreso pelo superávit de quase US$ 2,9 bilhões (ele esperava cerca de US$ 2 bilhões), Castro mantém sua expectativa de um saldo de US$ 8 bilhões em 2012. Branco mantém a previsão entre US$ 15 bilhões e US$ 16 bilhões para o saldo do ano.

Um detalhe que chamou a atenção dos analistas foi a queda relativamente menor das exportações de produtos manufaturados, que ficaram 7,6% abaixo dos valores de julho de 2011. Alguns produtos sofreram quedas fortes nas vendas, porém, como açúcar refinado (menos 57%), óxidos e hidróxidos de alumínio (menos 55%) e polímeros plásticos (menos 24,5%). As exportações de produtos semimanufaturados caíram 12,5%, especialmente alumínio em bruto (menos 54,9%) e semimanufaturados de ferro e aço (menos 55%).

O forte aumento das vendas de milho, quase 399% acima do valor de julho de 2011, beneficiadas pela seca e quebra na produção nos EUA, e a continuidade do aumento nas exportações de soja (16,6% a mais) não foi suficiente para evitar que o conjunto de produtos básicos tivesse uma queda, de 10,7%, puxada pelos dois principais produtos de exportação brasileiros, minério de ferro (queda de 27,5%) e petróleo (menos 36,4%).

Reflexo da retração dos mercados mundiais, o mau resultado das exportações não inspira otimismo no governo. Mas, devido às distorções nas estatísticas provocadas pelas greves, o MDIC decidiu adiar a revisão das metas para exportações deste ano, segundo Teixeira.

"Apesar da crise, não houve queda brusca nas exportações e, em 12 meses, a queda nas vendas de manufaturados é menor que as de básicos e semimanufaturados", comentou Branco, da Funcex.

 

 

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil



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