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Glórias e decepções dos grandes investidores

Por Karin Sato | De São Paulo
Divulgação
 
Arnold traça um perfil dos homens que fizeram fortuna no mercado de ações.

A bolsa de valores local tem sido marcada nos últimos meses por forte instabilidade e muitas decepções. Sem uma tendência definida, o Índice Bovespa pode subir 3% em um pregão e cair 4% no dia seguinte. A turbulência exacerbada assusta, sobretudo, as pessoas físicas, que batem em retirada do mercado. À primeira vista, elas parecem adotar a postura correta ao fugir do vaivém alucinante dos preços das ações. O lendário gestor Benjamin Graham diria, porém, que os pequenos investidores estão tomando o caminho errado. Mentor de famosos como Warren Buffett, Graham aconselharia as pessoas a não se preocupar com as flutuações de curto prazo no valor das ações e aproveitar movimentos agudos no mercado para garimpar oportunidades.

Após perder quase 70% do capital sob gestão da Benjamin Graham Joint Account - que mais tarde se transformaria na Graham-Newman Corporation -, entre 1929 e 1932, ele concluiu que o grau de flutuação das ações não tem lógica e que o mercado geralmente entende tudo errado. Notou que mesmo empresas bem-sucedidas podem sofrer forte variação em seu valor de mercado. Isso não significa que sejam um mau negócio, e sim que os investidores não a avaliaram de maneira correta.

Graham sentiu que tinha o dever de recuperar o dinheiro dos investidores de seu fundo - e, além de trabalhar muito, decidiu não receber salário durante a Grande Depressão. A Graham-Newman iniciou 1933 com US$ 375 mil e encerrou aquele ano com um lucro de 50%, lembra Glen Arnold, professor de Investimentos e Finanças da Salford University, no livro "Os grandes investidores", da Editora Saraiva. A obra de Arnold revela as dúvidas, decepções, erros e acertos de Graham e outros ícones do mercado de ações. "Graham aprendeu a diferenciar investimento de especulação. O primeiro exige análise completa, algo que ele chamava de 'margem de segurança' e retorno satisfatório. Foi uma das lições mais importantes", afirma o autor. O conceito de margem de segurança é uma das estratégias que Buffett aprendeu com Graham. O valor intrínseco da empresa precisa estar acima do valor de mercado (refletido nos preços dos papéis). Dessa forma, mesmo que a empresa não obtenha no futuro resultados tão promissores quanto os esperados, haja uma valorização do papel e ainda seja possível obter um retorno satisfatório.

O autor ressalta que, sem Graham, "a voz de Buffett não teria sido ouvida em tantos lugares". Muitos aprenderam com ele a importância de enxergar as ações como uma participação em uma empresa, em vez de fichas de um jogo de apostas; de ser analista de companhias, no lugar de analista de mercado. Mas Buffett e Graham não concordavam em tudo. Um dos conceitos de avaliação mais famosos de Graham chamava-se "valor líquido dos bens atuais por ação", que ele calculava somando os bens de uma empresa, deduzindo suas dívidas e, por fim, dividindo pelo número de ações. Se o resultado fosse superior ao preço do papel, este estaria subvalorizado. Buffett abandonou as ações alinhadas a essa filosofia depois de perder muito dinheiro com papéis do setor têxtil, que estavam baratos em relação a seus ativos, mas apresentavam um problemático cenário setorial. "É muito melhor comprar uma maravilhosa empresa a um preço justo a uma empresa medíocre a um preço maravilhoso", disse Buffett.

"Enquanto Graham investiria mais com base nos fatos, como os ganhos comprovados e o balanço de ativos, deixando de lado muitas empresas excelentes, como a Coca-Cola ou a Gilette, Warren dá muito mais ênfase ao domínio de uma empresa sobre seu segmento de atuação, o que exige um entendimento estratégico da indústria e dos diferenciais competitivos da companhia", diz Arnold. Buffett apelidou essas empresas de "inevitáveis".

Enxergar além do próprio jardim foi o trunfo de outro guru citado no livro, John Templeton. Nos anos 50 e 60, por exemplo, o Japão era visto como um perdedor de guerras estagnado industrialmente. Mas Templeton estudava há décadas as práticas empresariais japonesas. Concluiu que se tratava de um povo trabalhador e que poupava para investir no futuro. "Essa postura permitiu a ele investir em empresas com múltiplo preço/lucro de 3 ou 4 vezes", diz Arnold. As ações japonesas ficaram tão badaladas ao fim dos anos 70 que o P/L típico era de 30. Ele também acertou anos mais tarde ao aplicar em empresas sul-coreanas e chinesas.

Ao contrário do que se pode imaginar, Templeton gostava de arriscar, embora tivesse regras rígidas para controlar suas perdas. Seu lema era uma frase do economista John Maynard Keynes: "O mercado pode ficar irracional por mais tempo do que você pode ficar solvente". Na bolha da internet de 2000 (que estourou em 2001), Templeton vendeu a descoberto (sem ter a ação) 84 empresas. Obteve um lucro de US$ 86 milhões.

O mercado é como um parceiro de negócios bipolar, que um dia está muito otimista com o futuro e no outro, deprimido. A questão é se o investidor vai julgar as ações segundo um mercado volúvel ou fará sua própria análise, diz Arnold. Os maiores investidores da história fizeram a segunda opção.

Veículo: Valor Econômico
Seção: Finanças
 

 



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