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Pressão do câmbio sobre a inflação deve ser moderada, prevê a FGV

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
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SÃO PAULO - O câmbio teve papel importante na aceleração de 0,85% para 1,02% no Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) entre abril e maio, avaliou nesta quarta-feira o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros, mas não deve ser motivo de preocupações inflacionárias daqui em diante. O cenário externo conturbado, segundo ele, joga a favor da inflação porque desvaloriza as commodities, enquanto no mercado interno a atividade estagnada enfraquece repasses da escalada do dólar ao consumidor.

Durante a apresentação do resultado deste mês - que foi a maior taxa mensal registrada desde novembro de 2010 - o economista da FGV calculou que a desvalorização do real pode ter sido responsável por 50% da alta do Índice dos Preços ao Produtor Amplo (IPA), de maior peso no IGP-M, e que passou de 0,97% em abril para 1,17% em maio. Na leitura anterior, o impacto do câmbio foi menor, em torno de 30% nas estimativas de Quadros.

A aceleração do IPA foi provocada pelos produtos industriais, que subiram 1,29% em maio, contra 0,89% em abril. O subgrupo materiais e componentes para manufatura avançou de 1,26% para 1,94% no período, com taxas maiores em fertilizantes, produtos químicos orgânicos e na cadeia de soja, entre outros, variações que, de acordo com o coordenador da FGV, têm clara influência do câmbio, além de efeitos defasados da alta do petróleo, que já foi revertida recentemente.

Já nos produtos agropecuários, que se desaceleraram de 1,18% para 0,85% na passagem de abril para maio, Quadros afirmou que o efeito do câmbio ficou concentrado na soja, cujos preços no mercado internacional estão cedendo, mas ainda sobem nos IGPs. Na atual medição, o grão marcou alta de 11,7%, após aumento de 10% em abril. Entre janeiro e maio, o complexo soja acumula alta de 30% no IGP-M, taxa que, para o economista da FGV, é mais reflexo das quebras de safra que da elevação da moeda americana.

O período de desaceleração dos IGPs, de acordo com Quadros, aparentemente ficou para trás, mas nada indica que a trajetória do câmbio possa provocar uma escalada da inflação nos próximos meses. “Não necessariamente vamos subir ladeira acima. Essa desvalorização do real já nasce meio moderada por outro efeito”, disse, referindo-se à expectativa de queda de preços das commodities.

Quadros também destacou que o IGP-M fechado de maio é o terceiro da família dos indicadores de atacado da FGV a marcar taxa na casa de 1%, após uma série de altas nessa comparação. “Aparentemente [o IGP-M] bateu no teto. O câmbio não preocupa tanto.”

A passagem do primeiro para o segundo trimestre, explicou, foi marcada por uma piora do quadro internacional, principalmente na situação da zona do euro, mas também por expectativas de crescimento menor da economia chinesa e de uma recuperação mais lenta que o previsto nos EUA. Esse cenário de instabilidade, ao mesmo tempo em que contribui para depreciar ainda mais a taxa de câmbio, joga para baixo as cotações das matérias-primas. Assim, avaliou Quadros, o saldo para a inflação é positivo. “Pode ser que a participação do câmbio nos IGPs aumente, mas não necessariamente as taxas vão aumentar.”

Do lado do consumidor, os impactos da alta do dólar, na visão do economista da FGV, serão em produtos isolados, como óleo de soja e produtos de limpeza. Em sua avaliação, a evolução mais modesta da economia inibe repasses mais fortes de preços. O varejo, lembrou Quadros, não tem por hábito repassar toda a variação de custos que recebe da indústria.

Taxa em 12 meses

Após recuar por 15 meses seguidos e subir em abril, a alta acumulada em 12 meses do IGP-M teve nova elevação em maio, de 3,65% para 4,26%. Para Salomão Quadros, a inflação nessa medida deve continuar acelerando nos próximos meses, já que em junho e julho do ano passado, o IGP-M marcou deflação de 0,18% e 0,12%, respectivamente, variações que têm pouca probabilidade de se repetir este ano.

Inflação no varejo

Na passagem de abril para maio, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) reduziu seu ritmo de alta de 0,55% para 0,49%, com taxas menores em seis das oito classes de despesa pesquisadas pela FGV. Segundo Quadros, os grupos que puxaram a desaceleração foram vestuário, cujo aumento passou de 1% para 0,41%, e transportes, que marcou elevação de 0,13%, após avanço de 0,31% na medição anterior.

No primeiro grupo, explicou Quadros, os preços ficaram menores após a entrada da nova coleção em abril, e não devem acelerar daqui em diante. "Se a economia está aquecida, os preços só diminuem na época de mudança da estação. Agora deve ter havido uma atenuação e não tem muito mais o que subir."

Em transportes, afirmou o coordenador da FGV, a entrada da nova safra de cana-de-açúcar teve efeito de baixa sobre os preços do etanol e, consequentemente, da gasolina. O álcool combustível recuou de 1,27% para 0,85% entre abril e maio, enquanto a gasolina aumentou seu ritmo de queda, de menos 0,05% para menos 0,12%. O automóvel novo também entrou em deflação, de 0,21%, após alta de 0,30% na medição anterior.

Como a coleta de preços para o IGP-M se encerra no dia 20, os preços de veículos ainda não tiveram impacto da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), efeito que, de acordo com Quadros, deve fazer os preços de carros caírem ainda mais nas próximas leituras.

(Arícia Martins | Valor)



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