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Brasil e EUA tentam reduzir diferenças

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
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Roberto Stuckert Filho/ PR
 
Dilma se reúne, em Washington, com os empresários brasileiros que a acompanharam na viagem: no encontro com Obama ela quer desenvolver uma "agenda positiva".

A ênfase em temas de interesse comum, como parcerias em inovação, ciência e tecnologia, e o anúncio de medidas para facilitar a entrada de brasileiros nos Estados Unidos, serão os ingredientes positivos em uma agenda de cobranças que a presidente Dilma Rousseff levou para Washington onde, hoje, se encontra com o presidente americano, Barack Obama. Dilma está insatisfeita com a maneira como é tratada pela Casa Branca, e a viagem não reduz seu desgosto.

Diferentemente do que especularam analistas internacionais, nos dias que antecederam a ida de Dilma aos EUA, ela não se incomodou por não ter sido recebida em uma visita de Estado, ao contrário de outros governantes de países emergentes, mas com a falta de comunicação com o próprio Obama - refletida, entre outros dissabores, na inflexibilidade da Casa Branca, que apontou a segunda-feira como única data possível para o encontro dos chefes de Estado. A data obrigará a presidente brasileira a voltar ao Brasil para viajar de novo, na sexta-feira, à Cúpula das Américas, na Colômbia.

Sem muita expectativa em relação ao encontro, Dilma vai evitar um tom de confronto ao listar as divergências entre os dois países e quer chamar atenção para a agenda positiva. Segundo um assessor graduado, ela deve até buscar, com Obama, temas comuns para a próxima reunião do G-20, como a proposta de defenderem, juntos, o uso do "espaço fiscal" de países avançados (como a Alemanha) para evitar um ajuste recessivo e garantir consumo e o crescimento econômico no combate à crise mundial.

A Alemanha é citada como exemplo do que Dilma cobra de Obama: no encontro com a chanceler Angela Merkel, em março, as duas chefes de governo discordaram em relação aos métodos para enfrentar a crise e Dilma queixou-se a Merkel da política monetária europeia, com o conhecido argumento de que os países ricos provocam um "tsunami monetário", criando desvantagens competitivas para os países emergentes. Merkel discursou criticando o protecionismo brasileiro, mas, na conversa privada, dizem assessores de Dilma, as duas presidentes debateram amistosamente seus pontos de vista e cenários para o futuro.

Na relação com o presidente da China, Hu Jintao, apesar das divergências, o chinês, segundo um auxiliar da presidente, tem avisado com antecedência de movimentos daquele governo, como a pressão sobre a Vale, na negociação de preços do minério de ferro, ou o recente anúncio da queda do crescimento do país. A falta de uma linha direta com a Casa Branca parece ser a maior queixa no Planalto, já que tanto o Itamaraty quanto o governo americano mencionam uma troca de contatos sem precedentes entre os dois países, com visitas constantes de autoridades americanas ao Brasil e encontros bilaterais em diversas áreas.

Na agenda comercial bilateral, por exemplo, desde a visita de Obama ao Brasil, no ano passado, uma coleção de pontos de atrito foi removida: foi liberada a importação de carne suína brasileira de Santa Catarina para aquele país; o Brasil (ao contrário da Argentina) foi mantido no SGP, programa que reduz tarifas de importação para entrada no mercado americano; foi extinto o subsídio ao etanol nos EUA e removida a sobretaxa ao produto brasileiro, apesar de pressões em contrário no Congresso americano; a cachaça, após 12 anos de negociações, finalmente será reconhecida como produto genuinamente brasileiro, e liberada da sobretaxa aplicada ao rum.

Além disso, forçados pela Organização Mundial de Comércio, os EUA atenderam às queixas do Brasil contra medidas antidumping irregulares sobre o suco de laranja. Estão pendentes a mudança dos subsídios ao algodão, determinada pela OMC, na Lei Agrícola dos EUA para 2012 (algo que depende do Congresso) e a liberação da importação da carne bovina, que já está em estado avançado, mas à espera de medidas do departamento de Agricultura desde setembro.

Um integrante do alto escalão do governo Obama diz que há disposição, em Washington para tratar desses temas. Do lado americano, as queixas comerciais são mais genéricas, sobre a preocupação com a proliferação de medidas protecionistas no Brasil, embora o recente aumento do IPI para automóveis importados atenda a interesses de montadoras dos EUA no país. Há incômodo, porém, com o que se considera em Washington uma falta de decisão brasileira sobre seu papel como potência emergente. A ausência de uma posição mais firme em defesa dos direitos das mulheres nos órgãos multilaterais é citada, em conversas reservadas. A falta de apoio às sanções contra o Irã também.

Em Washington ou em Brasília, as autoridades afirmam que as divergências em temas como Irã não chegam a comprometer o relacionamento entre os dois países. O governo brasileiro entende que a forte polarização e radicalização dos grupos mais à direita no ambiente político dos EUA limitam o espaço de ação para Obama. O governo americano argumenta que, embora divirja dos métodos defendidos pelo Brasil e discorde da posição brasileira sobre o Irã, por exemplo, acredita que Dilma, como Obama, é contrária à militarização do programa nuclear iraniano e favorável a iniciativas de paz em todo o Oriente Médio.



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