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Câmbio não é grande vilão da indústria, dizem economistas
Seção: Política
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O Brasil vive um cenário de desindustrialização precoce - na medida em que a indústria perde peso no conjunto da economia - mas o câmbio não é o "único culpado" como vem sendo alentado, segundo os economistas ouvidos pela BBC Brasil.
Para esses especialistas, há um consenso de que o real valorizado afeta a competitividade da indústria brasileira, uma vez que incentiva as importações ao mesmo tempo que atravanca as exportações, embora esteja longe de ser a raiz do problema, como argumentam dirigentes industriais.
Tal cenário piorou com a recessão nos Estados Unidos e na Europa, uma vez que as indústrias desses países, com um consumo interno desaquecido, passaram a buscar novos mercados para escoar sua produção, como o Brasil e outros emergentes. Com menor consumo nos países ricos, outros grandes exportadores, como a China, também vêm buscando ampliar seus mercados onde o consumo permanece alto.
Segundo os economistas, o desaquecimento da indústria nacional deve-se muito mais aos gargalos estruturais já existentes no país, o chamado "Custo Brasil" - como a elevada carga tributária (em torno de 36% do PIB), a infraestrutura precária e a baixa produtividade do trabalhador - além de uma política de expansão fiscal por parte do governo (que, ao gastar mais, deixa de poupar e, assim, investe menos).
A taxa de investimentos privada, incluída aí a compra de maquinários, também é considerada baixa.
"Tudo isso acaba encarecendo o produto final, que não consegue competir com um similar que vem de fora", disse Ruy Quintans, professor de economia do Ibmec-RJ.
No último ranking do relatório Doing Business do Banco Mundial, que mede a facilidade de se fazer negócios em cada país, o Brasil aparece na 126ª posição entre as 183 nações avaliadas.
Causas e sintomas
No ano passado, a participação no PIB da indústria de transformação (representada pela cadeia industrial que transforma matérias-primas em bens de consumo ou em itens usados por outras indústrias ) foi de apenas 14,6%, segundo o IBGE. O patamar é o mais baixo desde 1956, quando esse segmento respondeu por 13,8% da soma de bens e serviços produzidos pelo país.
Para o economista Rodrigo Constantino, fundador do Instituto Millenium, ao anunciar medidas pontuais (como o aumento do IOF - imposto sobre operações financeiras), "o governo tem atacado mais os sintomas do que as causas dos males que afetam nossa indústria".
Daí a necessidade de políticas que atinjam todos os setores da economia, como a tão pedida reforma fiscal, bem como novas regras previdenciárias que custem menos ao setor produtivo, segundo os economistas.
O cenário de desindustrialização tem impactado, de maneira mais forte, alguns setores específicos - caso da indústria têxtil, que teve retração de 9,2% em 2011, frente à entrada cada vez maior de tecidos chineses no país.
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