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Produto chinês toma mercado na África

Veículo: Valor Econômico
Seção: Internacional
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Quando um grande volume de produtos baratos chineses começou a ingressar na África, uma década atrás, os consumidores se beneficiaram dos preços mais baixos, enquanto os produtores locais, como as fábricas têxteis, passaram a enfrentar problemas.

Agora, com a ascensão das empresas chinesas na escala de valor, essa equação está mudando de figura. Os consumidores africanos ainda estão arrebatando produtos chineses, com a diferença de que eles são mais sofisticados. Desde smartphones até debulhadoras, eles estão expulsando concorrentes estrangeiros, não nacionais.

Os chineses mais do que triplicaram sua participação no mercado da África desde 2002, ao fornecer 16,8% do total das importações do continente no ano passado, segundo relatório publicado pelo Standard Bank neste mês. Nos últimos quatro anos as empresas chinesas contabilizaram suas maiores altas nas vendas de maquinário, veículos e produtos eletrônicos.

As empresas europeias e japonesas foram as perdedoras. As importações africanas originárias de Itália, Espanha, Alemanha, Reino Unido e Japão caíram no ano passado, comparativamente a 2008. As importações da China dispararam 38% no mesmo período.

Esses dados "confirmam alguns dos temores das economias maduras" de que estão perdendo terreno em favor dos exportadores chineses na África, disseram os economistas Simon Freemantle e Jeremy Stevens, do Standard Bank.

O sucesso das empresas chinesas vai além de seu baixo preço. Esse fator, sem dúvida, ajuda, mas a melhoria da qualidade dos produtos e a maior cooperação entre empresas chinesas e africanas, juntamente com os laços políticos, também foram decisivos.

O telefone Ideos, do grupo chinês de produtos eletrônicos Huawei, é o melhor exemplo. Já considerado como o smartphone com o sistema Android, do Google, de preço mais acessível do mundo, ele é subsidiado, no Quênia, pela operadora Safaricom, a fim de aumentar a penetração da internet. Comercializado por 8 mil xelins quenianos - menos de US$ 100 -, o aparelho é sete vezes mais barato que similares.

"Os recursos vendem o telefone", diz Martin Muraya, proprietário de uma banca de telefones celulares numa farmácia, que vendeu todo seu estoque de Ideos. Lançado em 2010, menos de um ano depois o Ideos tinha 45% do mercado de smartphones do Quênia. Os embarques de produtos chineses para a África seguiram a trilha aberta pelo dinheiro chinês. As empresas chinesas investiram cerca de US$ 13 bilhões na África, em sua maior parte a partir de 2000, segundo o Standard Bank.

"Trata-se de um complemento à competitividade das empresas chinesas na África", diz o relatório.

A Indústria de Maquinário Zhenjiang Shenglong, fabricante de porte médio de equipamentos agrícolas com sede na Província chinesa de Jiangsu, ganhou mercado na África ao contribuir para missões de ajuda. "Estávamos indo bem na China, mas percebemos que nossos produtos iriam morrer no mercado interno. Tivemos de abrir espaço em outros países subdesenvolvidos", diz Luo Min, presidente da Zhenjiang Shenglong.

Sua empresa faturou US$ 3 milhões em vendas à África no ano passado. Em casos de compras substanciais, a Zhenjiang Shenglong envia instrutores para ensinar os agricultores a usar e cuidar da manutenção das máquinas.

"Nossos concorrentes, alguns dos quais produzem equipamentos melhores, não oferecem nenhum treinamento. Por melhor que seja a qualidade de um maquinário, se os agricultores não souberem como usá-lo, é simplesmente um desperdício", diz Luo.

Mas, ao mesmo tempo em que as empresas chinesas estão se empenhando em escalar a cadeia de valor, a velha-guarda dos exportadores do país - que fabricam produtos baratos e muitas vezes de má qualidade - ainda projeta uma grande sombra.

Em Nairóbi, produtos chineses inundam barracas de feiras e prateleiras de lojas, porém muitos são falsificações, como telefones "Nokla" e "Sumsang". As falsificações importadas são tão numerosas que os habitantes da cidade referem-se a elas com um nome genérico: "celular chinês".

Na One World Networks, uma loja de eletrônicos no centro de Nairóbi, o vendedores dizem que os clientes frequentemente devolvem laptops e impressoras de fabricação chinesa. Mas a vendedora Eunice diz que eles não têm alternativa a não ser continuar comprando.

"O mercado africano é chinês. Os produtos nos ajudam porque são os únicos pelos quais temos condições de pagar", diz ela. "Mas eles apresentam defeitos com mais frequência. Um aparelho funciona dois dias e dá defeito no terceiro." (Colaborou Zhou Ping, de Hong Kong)



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