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Ganha forma a recuperação da economia americana

Veículo: Valor Econômico
Seção: Opinião
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Em um cenário internacional ainda inspirando muitos cuidados, com a zona do euro anestesiada após o choque da operação de resgate da Grécia e a preocupação com outros membros doentes como Portugal, e a China desacelerando, um sopro de alento vem dos Estados Unidos.

A boa notícia, como destaca reportagem da mais recente revista "The Economist" é que a recuperação da economia americana não é robusta nem dramática, mas é real. A economia americana começou a sair da lama em meados de 2009, mas escorregou várias vezes. Em alguns momentos pesaram os motivos externos, como a crise da zona do euro e a alta do preço do petróleo. Mas certamente os entraves mais sérios estavam no próprio mercado doméstico, onde bancos cheios de créditos duvidosos negaceavam crédito, e consumidores atolados em dívidas evitavam comprar e tentavam se desalavancar. A receita familiar real ficou estável e o acesso ao crédito continuou restrito.

Alguns desses problemas acabaram ou perderam a intensidade. E há números positivos. O mais otimista, provavelmente, é o nível de emprego. A taxa de desemprego saiu dos 9% em que permaneceu congelada por muito tempo e recuou para 8,3%. Neste ano, o número de vagas criadas está reagindo e as informações indicam que o motivo não é que as pessoas se desanimaram e não procuram mais emprego. Em janeiro, foram criadas 284 mil novas vagas e, em fevereiro, 227 mil, acima do esperado. Como calcula a "The Economist", em três meses surgiram 734 mil novas vagas, o melhor resultado desde abril de 2006.

As expectativas oficiais para o Produto Interno Bruto (PIB) ainda não mudaram. O Fundo Monetário Internacional (FMI), em sua revisão de janeiro do World Economic Outlook (WEO), manteve para os Estados Unidos a previsão de que o PIB vai crescer 1,8% neste ano, o mesmo ritmo de 2011; e reduziu em 0,3 ponto, para 2,2%, a expansão esperada para 2013. No entanto, nas últimas semanas, várias consultorias elevaram esses números para 2% e 2,5%, respectivamente.

O próprio Federal Reserve (Fed, banco central americano) pareceu otimista no comunicado emitido após a reunião da semana passada, ao qualificar a expansão esperada para a economia nos próximos trimestres como "moderada", mais confiante do que a qualificação de "modesta" emitida em janeiro. O novo quadro certamente vai influenciar a disputa eleitoral que está esquentando.

Para o Fed, o recente aumento do petróleo terá impacto temporário na inflação, que deverá ficar em patamar "consistente com seu duplo mandato" ou abaixo dele. Recentemente, o Fed explicitou que, além de ter como objetivo o baixo desemprego, vai buscar manter a inflação em 2%. Também notou que a turbulência no mercado financeiro diminuiu, em uma referência à zona do euro, mas ainda apresenta risco significativo. Antes da reunião havia sido divulgado que as vendas de varejo cresceram 1,1% em janeiro, acima do esperado, impulsionadas pela demanda por automóveis, gasolina e vestuário.

Pela avaliação do Fed, não aparece no radar nova operação de afrouxamento monetário quantitativo (QE, na sigla em inglês) e a estratégia será esperar para ver. Desde o início da crise, o Fed lançou duas rodadas de injeção monetária para reativar a economia. A primeira, em 2008, envolveu a compra de títulos variados e teria totalizado de US$ 1,25 trilhão a US$ 1,8 trilhão. A segunda foi em 2010 e somou US$ 600 bilhões. No ano passado, lançou a operação Twist, de troca de títulos longos por curtos em volume de até US$ 400 bilhões, com prazo determinado de outubro de 2011 a junho de 2012, e garantiu a manutenção dos juros perto de zero até 2013.

Alguns membros do Federal Reserve estão cautelosos, porém. O presidente Ben Bernanke acha que a reação da economia é mais lenta do que o desejado. "Apesar de alguns sinais recentes de melhoria, a recuperação tem sido frustrantemente lenta, restringindo oportunidades de crédito lucrativo", disse na semana passada.

De fato, não dá para ser confiante demais porque o crescimento ainda é tímido e frágil. Há também incongruências que põem em dúvida a consistência da tendência. A redução de 0,7 ponto no desemprego desde setembro, por exemplo, é incompatível com o desempenho econômico. O crescimento deveria estar em um patamar maior para isso. Mas não deixa de ser um primeiro passo.



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