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Para analistas, desaceleração da China trará pouco impacto à balança comercial

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
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A meta de 7,5% de crescimento da economia da China para este ano, anunciada pelo governo chinês, menor que os 9,2% registrados em 2011, não deve afetar substancialmente o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2012. De acordo com analistas, caso seja confirmada a desaceleração, o impacto maior será sentido na balança comercial e não na atividade econômica como um todo. Além disso, há ceticismo com o cumprimento da meta por parte dos chineses.

Como maior mercado das commodities brasileiras em 2011, a China deve tirar um pouco da pressão no preço dos produtos no mercado internacional e diminuir a quantidade importada do Brasil de minério de ferro, soja em grão e café, principalmente. Esses três itens figuraram na lista dos cinco mais vendidos ao exterior no ano passado. Com apetite menor em 2012, o saldo da balança comercial, que no ano passado ficou em US$ 29,7 bilhões, será o mais afetado, de acordo com coordenador do curso de graduação em economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Nelson Marconi. "Se for uma tendência constante [a revisão para baixo de crescimento], pode haver uma forte diminuição nas nossas exportações e implicar uma taxa de crescimento menor. Mas agora deve ser um impacto ligeiro. Nada que assuste", afirmou.

  

Para o economista do Santander Asset Management, Ricardo Denadai, historicamente, a meta chinesa não representa necessariamente o crescimento que será obtido no ano. "Tirando 2009, com a crise, o PIB chinês cresceu acima da meta na última década." Segundo ele, que projeta PIB entre 8% e 8,5% para o país asiático neste ano, o novo alvo é mais uma sinalização de mudança de nível. "O que deve acontecer é não haver mais dois dígitos de crescimento. Mas mesmo abaixo disso não afeta, pois a previsão de crescimento para o Brasil nos próximos anos é calcada na demanda interna puxada pelo consumo", disse.

Dois fatores principais devem manter forte a demanda chinesa por produtos brasileiros: a composição do crescimento do país e a diferença entre os setores, de acordo com o diretor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Fernando Sarti. "Primeiro eu questionaria se vai haver desaceleração. Eles anunciam isso todo ano e não cumprem. O fator principal de sustentação do crescimento deles é o consumo interno. Eles ainda vão precisar trazer 300, 400 milhões de pessoas para as cidades", disse para depois completar: "Mesmo uma leve desaceleração não seria linear. Alguns setores podem ser mais afetados, como a construção civil, mas os chineses não vão parar de comer e de demandar energia."

O embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, em palestra ontem na sede da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), avaliou que a preocupação brasileira não deve ser a projeção do PIB chinês, e sim a diversificação na pauta brasileira de exportação para aquele destino.

De acordo com ele, na reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Consban), dia 13 de fevereiro, em Brasília, o governo brasileiro indicou aos chineses que é necessário introduzir correção no comércio bilateral. O ideal é um comércio mais diversificado, diz.

As trocas entre os dois países têm trazido dois problemas ao Brasil. O volume das exportações chinesas para o país "evoluiu de uma forma extraordinária" nos últimos anos, mas esse comércio é muito baseado em produtos de baixo custo, como têxteis e brinquedos, que criam um problema para a indústria brasileira, explicou o embaixador.

Sem especificar que medidas o governo brasileiro poderia tomar para frear as importações chinesas, Hugueney disse que o Brasil tem na mesa duas possibilidades de curto prazo. Segundo ele, o governo poderia tomar medidas de proteção unilateral - como vem fazendo desde o segundo semestre do ano passado, quando aumentou o IPI para carros importados - ou negociar medidas com os chineses, o que, segundo ele, vem sendo feito. "O governo está tratando disso de uma forma muito cuidadosa", disse.

"Você pode dizer que é difícil negociar com a China. Eu reconheço que é difícil, mas ela negocia", diz o embaixador. "Não é só a China que é importante para o Brasil, nós também somos importantes para a China", ressaltou Hugueney. Segundo ele, a China sempre dialogou com o Brasil e nunca procurou retaliar ou levar o país à Organização Mundial do Comércio.

Perguntado se salvaguardas contra os produtos chineses ou um acordo de restrição voluntária de exportações por parte dos chineses seriam as possibilidades brasileiras para frear as importações chinesas, Hugueney afirmou que "o leque de opções é muito grande".

Por outro lado, o governo brasileiro tenta aumentar o peso de produtos de maior valor agregado na pauta de exportações para a China. Hugueney lembrou a forte presença que a Embraer tem no mercado chinês e a recente entrada da BR Foods no país. "É melhor equacionar o comércio pela via do diálogo do que equacionar pela outra, mas a outra está sempre disponível", disse o embaixador.



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