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País tem de ampliar relações comerciais, diz economista

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
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A economia brasileira se encontra diante de uma encruzilhada neste ano: assistir a um novo salto de importações, que reduzem o saldo comercial, mas ampliam a produtividade, ou insistir nas barreiras tarifárias contra manufaturados importados, como ocorreu com os veículos em 2011 e pode ocorrer com os têxteis. A saída correta não é nenhuma das duas, no entanto. Para Sarquis José Buainain Sarquis, diplomata e doutor em economia pela London School of Economics (LSE), o Brasil precisa ampliar fortemente suas relações comerciais, intensificando as importações de máquinas e equipamentos, e reduzindo a dependência que a pauta de exportações tem das commodities.

Sarquis acaba de lançar o livro "Comércio Internacional e Crescimento Econômico no Brasil" (Editora Funag, 246 páginas), que recebeu da LSE o prêmio Gilbert de Botton por pesquisa em macroeconomia e finanças internacionais. Nele, o diplomata, que é conselheiro na embaixada brasileira em Paris (França), destaca a importância de três variáveis para o crescimento econômico nacional: a taxa de câmbio, o ritmo de importações e o comércio intraindústria.

"Embora nosso mercado doméstico seja grande, o Brasil se comporta, no mercado internacional, como uma economia aberta e pequena, como a França", disse Sarquis. Em exercício que apresenta no livro, ele aponta que a economia brasileira é relativamente aberta, diferente da visão geral dos economistas do mercado, que veem o país como muito fechado.

Sarquis calcula o coeficiente de abertura (exportações mais importações dividido pelo tamanho da economia) de 18 países em 1960 e em 2008. O coeficiente de abertura brasileiro, de 21,5% em 2008, foi muito próximo do dos Estados Unidos, de 23% naquele ano. O problema é o ritmo de abertura - em 1960, os EUA registraram coeficiente de abertura de 7% e o Brasil já tinha praticamente o mesmo nível de 2008, com 18%. "São as importações e as políticas industrial e macroeconômica fatores determinantes para o crescimento", diz ele, para quem as bases de produtividade e inovação dependem das importações, notadamente de bens de capital e insumos.

A economia brasileira está fortemente especializada em commodities, cujos preços deram saltos anuais entre 2001 e 2011, devido à enorme demanda chinesa. Esse movimento levou o país a registrar vigorosos saldos comerciais no período, mas o forte ingresso de dólares decorrentes do sucesso nas exportações, além da entrada de investimentos estrangeiros diretos e de aplicações financeiras resultou numa "excessiva" valorização cambial, segundo Sarquis, que coloca a exportação de bens manufaturados sob pressão.

O comércio intraindústria, grande indicador de ganhos de produtividade futura, está caindo, comprova Sarquis no livro, e esse fenômeno ocorre, diz, justamente porque a indústria nacional está demandando menos tecnologia do exterior, uma vez que reduz a produção. O Brasil está sujeito a se tornar vítima do que Sarquis chama de "tendências permanentes", como o câmbio valorizado.

As medidas protecionistas do governo Dilma na indústria automobilística em 2011 se justificam, avalia Sarquis, pelo momento "absolutamente excepcional" de grave crise econômica mundial. "O Brasil contribuiu muito para que a crise fosse suavizada, na medida em que manteve uma taxa de crescimento elevada. A economia brasileira aumentou a importação de veículos em ritmo impressionante em 2010 e 2011, funcionando como uma injeção de demanda extraordinária", diz. "Agora esse estímulo passa por um ajuste, em função de uma conjuntura de crise."



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