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Brasil e China retomam negociações em visita de missão chinesa

Veículo: O Estado de S. Paulo
Seção: Economia
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Uma comitiva chinesa desembarca no Brasil na próxima segunda-feira para a reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban) em mais uma etapa das negociações que buscam eliminar arestas nas relações comerciais e diplomáticas bilaterais.

Sob a coordenação do vice-presidente Michel Temer, a Cosban também servirá como uma preparação para a visita ao Brasil do presidente da China, Hu Jintao, que deve ocorrer em junho, disse à Reuters uma fonte do governo.

A delegação chinesa, que terá 14 ministros e vice-ministros, será comandada pelo vice-primeiro ministro do país, Wang Qishan, que é responsável pela área econômica do governo chinês.

No final da manhã da segunda-feira está prevista uma reunião entre a presidente Dilma Rousseff, Temer e Qishan.

Nesse encontro, podem ser debatidas posições conjuntas dos dois países para a cúpula de ministros do G20, agendada para o final deste mês no México, e da cúpula dos Brics, marcada para março na Índia.

A expectativa do governo brasileiro é de que todos os temas, mesmo os mais espinhosos, façam parte da pauta de negociações, e nesse sentido Temer se reuniu com as principais áreas do governo e com setores empresariais nas últimas semanas.

Nesses encontros ficou clara a contrariedade dos empresários brasileiros que veem os chineses como parceiros "pouco confiáveis", segundo relato de uma fonte do governo que colaborou na elaboração da pauta de negociações e pediu para não ter seu nome revelado.

A Embraer queria instalar na China uma linha de montagem para a aeronave Embraer 190, de 100 passageiros, mas a ideia enfrentou resistência do governo local, que está desenvolvendo um jato regional similar.

A fabricante brasileira, que tem uma joint-venture naquele país desde 2002 com a estatal Avic, acertou em abril de 2011 que terá uma linha de montagem do jato executivo Legacy, mas ainda aguarda a documentação final para avançar com o projeto.

A Vale, que exporta grandes volumes de minério para China, foi atingida na semana passada por uma decisão das autoridades daquele país que impediu supernavios, como os utilizados pela mineradora brasileira, de atracar em portos chineses.

A empresa já havia conseguido fazer pelo menos um descarregamento com um dos seus megacargueiros nos portos chineses no ano passado. As embarcações são fabricadas em estaleiros chineses.

"Os empresários brasileiros reclamam principalmente da falta de previsibilidade e de abertura para fazer negócios com a China. Aqui, há um ambiente de negócios claro, lá não", explicou a fonte.

Em abril, quando Dilma fez sua primeira visita oficial à China, esses e outros temas delicados também estavam na mesa de negociações e o governo brasileiro considerou que saiu de lá com avanços, anunciando, inclusive, um investimento de 12 bilhões de dólares da taiuanesa Foxconn.

Porém, até agora não há clareza sobre a execução dos investimentos pela Foxconn no Brasil.

COMÉRCIO EXTERIOR

Agora, sob a sombra dos velhos problemas da relação entre os dois países, há novas esperanças entre as autoridades do governo para ao menos explicitar descontentamentos.

"Se trata de uma comissão onde a agenda predominante é econômica, comercial e financeira. As dificuldades comercias de ambos lados serão discutidas", disse à Reuters o embaixador Valdemar Carneiro Leão Neto, secretário-geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos do Itamaraty.

A questão comercial ilustra bem os velhos problemas entre chineses e brasileiros. Impulsionados por um iuan desvalorizado, os produtos manufaturados dos asiáticos inundam o mercado brasileiro, promovendo forte queda nas vendas das indústrias nacionais, principalmente nas áreas têxtil e calçadista.

Ao mesmo tempo que essa situação incomoda o governo brasileiro, o aumento dos preços das commodities exportadas do Brasil para China, principalmente minério de ferro e soja, causam reclamações do governo chinês.

E desde que a relação comercial entre os dois países se tornou importante para ambos os lados esse dilema é discutido.

Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil e principal fonte de novos investimentos no país. Em 2011, o comércio bilateral alcançou 77,1 bilhões de dólares, com exportações brasileiras de 44,3 bilhões de dólares e importações de 32,8 bilhões de dólares. O superávit comercial brasileiro com a China (11,5 bilhões de dólares) equivale a 38 por cento do superávit global do país.

"O que a gente precisa é diversificar essa pauta do comércio, temos que exportar bens agregados para os chineses também", disse a fonte do governo, apontando que um caminho para isso pode ser uma abertura maior na área de serviços.

O governo também quer que os chineses ampliem a certificação de frigoríficos brasileiros para exportar mais carne e negociar uma atuação mais forte do Banco do Brasil no país asiático, que conta com apenas uma agência.

Em contrapartida, o governo brasileiro poderia facilitar a instalação do Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) por aqui, segundo Leão Neto.

(Reportagem adicional de Alonso Soto)


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