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Com cenário externo pior, Brasil busca blindagem

Veículo: O Globo
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BRASÍLIA e SÃO PAULO. O agravamento da crise internacional levou a equipe econômica a se armar para tentar blindar o Brasil. Na avaliação dos técnicos, o mais importante é acelerar o crescimento da economia no trimestre corrente, para que este fique entre 4% e 5% em 2012. Isso poderia proteger o país do desaquecimento externo e de uma eventual falta de liquidez mundial. Por isso, no arsenal estão medidas que já começaram a ser tomadas e devem ser aceleradas, como a redução das taxas de juros e a elevação dos investimentos. E especialistas ouvidos pelo GLOBO não descartam a volta da desoneração fiscal e a antecipação de grandes investimentos.

Para tentar conter as pressões inflacionárias este ano, o governo decidiu coordenar as políticas fiscal e monetária, segurando gastos, especialmente com investimentos, e dando ao Banco Central (BC) mais liberdade para baixar os juros. A estratégia funcionou, mas comprometeu o crescimento da economia, que deve ter fechado o terceiro trimestre próximo a zero. As projeções de bancos e consultorias variam de uma alta modesta de 0,3% a queda de 0,2%. Para os últimos três meses do ano, as apostas de quatro instituições consultadas pelo GLOBO são de expansão entre 0,3% e 0,9%.

Por isso, em 2012, a ordem é continuar fazendo superávits primários elevados, mas coordenando os gastos a fim de abrir mais espaço para investimentos.

BNDES deve receber mais injeções de recursos

Essa estratégia também passa por mais capitalizações do BNDES, que deve receber em breve um injeção de R$25 bilhões. Esses recursos fazem parte de um total de R$55 bilhões que o Tesouro Nacional foi autorizado a repassar ao banco. Até agora só foram transferidos R$30 bilhões: o restante foi adiado dentro do esforço de combate à inflação.

Em reunião na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara esta semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou o papel do banco durante a crise de 2008, que, para ele, começa a se assemelhar à atual:

- Se não fosse o BNDES durante a crise de 2008... O BNDES recuperou o investimento no país.

O aumento das transferências ao BNDES também foi apontado pelo economista do Santander Cristiano Souza como uma medida necessária no caso do agravamento da crise europeia.

Outra linha de ação é retirar as medidas de restrição ao crédito adotadas contra a inflação e ampliar alguns incentivos, como a desoneração da folha de pagamento. Uma das possibilidades para estimular o consumo é reduzir o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que foi elevado de 1,5% para 3%, nos financiamentos para pessoas físicas.

Reajuste do mínimo em 2012 também deve ajudar

Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, a desaceleração da economia brasileira já é reflexo do aumento da incerteza global:

- A Europa caminha para uma recessão, e o Brasil e países emergentes estão desacelerando. Estamos começando a ver uma queda no comércio exterior, que não vinha acontecendo. A Vale já pensa em negociar queda do minério de ferro ano que vem. É outro canal de transmissão da crise. E aí começa uma bola de neve.

Borges, da LCA, porém, acredita que o governo usará mais a política monetária que desonerações e aumento dos gastos públicos. Segundo ele, o país tem uma "avenida" para cortar a taxa básica de juros (Selic), hoje em 11,5%. Outra medida seria a redução do compulsório, que represa hoje R$450 bilhões em recursos financeiros.

Já o professor de economia internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV) Evaldo Alves defende que a desoneração fiscal seja adotada novamente para estimular o consumo de bens duráveis, como carros e eletrodomésticos, "caso o crescimento do PIB ameace ficar abaixo de 3% ao ano".

A equipe econômica avalia ainda que a economia será beneficiada pelo reajuste de 14,26% do salário mínimo e pelo plano Brasil Maior, que prevê o aproveitamento mais rápido de créditos tributários e a desoneração da folha das empresas. Além disso, como fez um contingenciamento grande de recursos no Orçamento de 2011 (de quase R$40 bilhões), o governo teve agora de liberar R$12,2 bilhões - que só serão efetivamente gastos em 2012.


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