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Estoques altos podem comprometer atividade industrial no início de 2012

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
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Os estoques voltaram a crescer na indústria em outubro, apesar dos esforços do setor para escoar a produção. Esse movimento deve resultar em uma atividade industrial mais fraca no começo de 2012. Na sondagem industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de outubro, 13 setores entre 25 analisados aumentaram a produção acumulada sobre o que havia sido planejado. E esse número está aumentando. Em setembro, eram dez setores.

Os resultados do varejo nos últimos dois meses do ano serão decisivos para definir o nível da produção no setor de móveis, cujo estoque está bem acima do planejado. "Houve uma queda forte nas vendas nos últimos dois meses e o comércio segurou as encomendas. No setor, o aumento do estoque nas fábricas é resultado do comportamento na ponta", diz Lipel Custódio, diretor da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel).

Na sondagem da CNI, a produção do setor passou de 50 pontos em setembro para 52,1 pontos, em uma escala que vai de 0 a 100, sendo que números acima de 50 representam produção acima do esperado. Ou seja, a atividade na indústria de mobiliário foi positiva, o que, somado às vendas mais baixas no varejo, contribuiu para que o estoque disparasse, passando de 53,6 para 57,1 pontos, bem acima do planejado para outubro. "E se não houver um ajuste no Natal, a queda na produção em janeiro ficará acima do normal", diz Custódio.

Os números da CNI mostram que os estoques da indústria estão acima do planejado desde novembro de 2010. O indicador está cada vez mais distante dos 50 pontos, considerado o ponto de equilíbrio na pesquisa. O indicador ficou em 53,4 pontos em outubro, após fechar setembro em 52,9 pontos. A produção, no entanto, passa pelo movimento contrário. Outubro foi o segundo mês seguido em que a produção industrial ficou abaixo do planejado, registrando 48,8 pontos. Em outubro do ano passado, o indicador tinha registrado 53,6 pontos.

"A expectativa dos industriais para a demanda é positiva, mas esse otimismo está longe do que havia no mesmo período do ano passado. Se o ajuste do estoque não ocorrer pelo aumento da demanda, haverá novos cortes na produção", diz Marcelo Azevedo, economista da CNI. "A tendência é que o fim do ano contribua para esse ajuste e que um menor número de setores continue acumulando estoques, mas há a possibilidade das expectativas serem frustradas."

No setor têxtil, que apresentou maior descasamento entre o estoque efetivo e o planejado (61,9 pontos em outubro), as importações têm prejudicado a produção industrial e contribuem para o acúmulo dos estoques, na opinião de Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). "O déficit do setor caminha para US$ 5,2 bilhões em 2011. No ano passado, o déficit ficou em US$ 3,5 bilhões. Essa diferença significa que cerca de 200 mil empregos deixaram de ser criados no país", diz. Segundo a Abit, a produção têxtil caiu 16,7% na comparação entre os meses de setembro deste ano e o de 2010, mas as vendas no varejo cresceram 0,6%, representadas principalmente pelas confecções chinesas.

Uma saída para as empresas na tentativa de adequar os estoques é aumentar o tempo de férias coletivas. Para isso, elas devem enviar aos sindicatos trabalhistas um comunicado até 15 dias antes da saída das férias, o que ainda não ocorreu com os representantes dos principais sindicatos de trabalhadores metalúrgicos no Estado de São Paulo nem com os trabalhadores do setor de eletroeletrônicos de Manaus. Porém, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) medida pela CNI indica uma atividade abaixo do potencial. Há três meses, a UCI está em 76%. Esse não é um bom índice para outubro. "A utilização dos parques industriais no quarto trimestre costuma ser mais forte que no terceiro. Não é uma boa notícia ver que outubro repetiu os dados dos dois meses anteriores", afirma Azevedo.

De acordo com a CNI, a Sondagem aponta para "um cenário negativo" no setor. De acordo com Azevedo, se não houver melhora no consumo de bens manufaturados nacionais, a produção deve continuar caindo. "A indústria está com estoques acumulados e o custo disso é alto, especialmente para as pequenas empresas, por terem menos capital de giro para manter esse volume", afirmou.

Diante do cenário de produção abaixo do esperado e de aumento dos estoques, as expectativas dos empresários recuaram no período. O otimismo em relação à demanda registrado em outubro foi de 53,3 pontos - o menor desde 2009. Os índices de expectativa de compra de matérias-primas, de número de empregados e de quantidade exportada também recuaram e ficaram abaixo da linha dos 50 pontos. Além da demanda fraca, a importação também atrapalha diz Azevedo. "A entrada de produtos importados não deixa que o consumo seja totalmente canalizado para a indústria nacional", afirmou.



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