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Demanda por trabalhador continua em alta

Veículo: DCI
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A demanda por mão de obra qualificada se manterá crescente na indústria paulista até 2015. Esta é a conclusão de estudo inédito realizado pelo Departamento de Ação Regional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Depar/Fiesp), divulgado em primeira mão ao DCI. Os setores de Veículos, Vestuário e Acessórios, Construção Civil, Produtos Têxteis e Produtos minerais não-metálicos devem ser responsáveis pela maior demanda por profissionais no período. "Fatores relevantes podem ampliar ou diminuir esse crescimento, mas o vetor será positivo", afirma um dos diretores titulares do Depar da Fiesp, Alexandre Serpa.

O setor automotivo, que em 2010 empregava cerca de 280 mil pessoas, segundo dados do Ministério do Trabalho, em 2015 deverá ter mais 419 mil vagas abertas, crescimento de 48%, segundo o levantamento. Os profissionais mais requisitados serão preparadores e operadores de máquinas-ferramenta convencionais - 53 mil, entre reposição e novos trabalhadores -, o que aumenta a percepção de escassez de mão de obra qualificada no setor.


"Um dos gargalos desse nicho pode ser a falta de conexão entre os profissionais recém-formados e a indústria", afirma o coordenador da unidade do Ipiranga-SP do Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai), Valdir de Jesus. A escola, assim como outras 27 no Estado, é especializada na formação para o segmento automotivo, preparando cerca de 15 mil alunos por ano. Para o docente, faltam mais oportunidades de criarem pontes entre alunos e empresas. "A indústria precisa perceber que os profissionais não estão prontos. Há que se focar no potencial", acredita o professor.

Os setores de vestuário e acessórios e o de produtos têxteis ocupam respectivamente o segundo e o quarto lugar no crescimento da demanda por trabalhadores. Vestuário, que no ano passado empregava 180 mil, poderá ter 240 mil funcionários em quatro anos, ampliando em 32% sua mão de obra, sendo necessários 31 mil operadores de máquina de costura para suprir a demanda. Já as indústrias têxteis, que no último levantamento davam ocupação direta a 117 mil pessoas, deverão ter 147 mil vagas em 2015, ou um crescimento de 26%, com 13 mil postos para alimentadores de linha de produção.

"O crescimento do País e do investimento no setor provocou um aumento do nível de tecnologia e gestão, mudando o perfil de qualificação da mão de obra", relata Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). "Há uma perspectiva expressiva de crescimento no consumo, a incógnita é quem será o fornecedor", afirma, referindo-se à crescente entrada de importados no País.

A construção civil, setor da indústria que mais emprega no País, passará de 660 mil trabalhadores para 860 mil no período analisado, um crescimento de 30%. Haverá 56 mil novas vagas para ajudantes de obras civis e 33 mil para trabalhadores de estruturas de alvenaria. "Na indústria de material de construção há uma procura grande por operários, engenheiros e chefes de equipe. Com isso, há uma busca permanente para repor mão de obra ou suprir a demanda para expansão, provocando elevação nos salários, o que onera o custo de produção", afirma Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).

O quinto setor que deverá ter maior crescimento na demanda por mão de obra até 2015 será o de produtos minerais não-metálicos, que de 112 mil vagas em 2010 elevará seus postos para 140 mil, ampliação de 24%. Os profissionais mais procurados serão os ceramistas e operadores de equipamentos de fabricação e beneficiamento de cristais, vidros, cerâmicas, porcelanas, fibras de vidro, abrasivos e afins, com necessidade de 17 mil e 4 mil profissionais, respectivamente, para suprir a demanda. Mas ainda existe um amplo déficit em diversos segmentos de mineração.

"O grande problema do nosso setor é a qualificação da mão de obra", afirma o coordenador do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), na Divisão da Amazônia, André Reis. Outro obstáculo apontado por ele é a falta de profissionais que estejam dispostos a atuar no interior. "Não há minas localizadas no meio das grandes capitais", destaca Reis.

Para o coordenador do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), de Santos (SP), Juarez Fontana, por muitos anos houve uma diminuição expressiva na demanda de profissionais no setor de mineração. Recentemente, com o retorno da importância da Vale e do segmento de petróleo e gás, ocorre uma escassez de mão de obra, principalmente de geólogos e engenheiros. "Hoje esses cursos são muito segmentados para meio ambiente e deixam de lado a formação mais abrangente", diz Fontana. Ele coordena o curso de Geologia da Unimonte, um dos únicos do Brasil.

"A única maneira de resolver o problema de escassez é qualificar, capacitar e valorizar a mão de obra. Isso permite ganhos de produtividade: o mesmo universo de mão de obra produz mais", afirma o presidente da Abramat. A opinião parece ser unânime entre os setores. O diretor da Abit elogia a iniciativa do Governo Federal de valorização do ensino técnico. "É preciso desmistificar que o único curso que presta é o universitário, às vezes um profissional de nível médio tem um desempenho muito melhor no mercado de trabalho", acredita Pimentel. Ele elogia a iniciativa de uma linha de financiamento para que empresas possam obter recursos para qualificar pessoas já integradas ou que vão entrar no mercado de trabalho, prevista no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

O representante da Fiesp fala dos investimentos na educação em âmbito mais amplo. "É necessária uma análise mais profunda do ensino básico, de forma a enriquecer o potencial do trabalhador no futuro", diz Serpa. Além disso, ele cita a necessidade de uma maior aproximação entre setor empresarial e governo na definição de políticas públicas, de maneira a melhorar o aproveitamento dos recursos disponíveis.

O estudo do Depar/Fiesp já levantou a demanda de 13 setores até 2015. Em seu lançamento, previsto para março de 2012, serão 23 setores analisados.


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