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Corte mais drástico nos juros

Veículo: O Globo
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Com o Brasil crescendo menos este ano e a crise global se agravando, ganhou força entre analistas que o corte na taxa básica de juros, a Selic, pode chegar a um ponto percentual, baixando dos atuais 12% ao ano para 11%, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que acontece hoje e amanhã. A grande maioria ainda acredita que o corte nos juros ficará em 0,5 ponto percentual, o que vai representar uma economia de R$2,872 bilhões em 12 meses no pagamento de juros da dívida pública, de acordo com os cálculos do economista Alex Agostini, da Austin Rating. Em razão dessa crença de novo corte, analistas de bancos e consultorias ouvidos pelo Banco Central na Pesquisa Focus já preveem inflação maior em 2012, quando esse corte de juros de hoje deve ter impacto maior. A projeção para o IPCA de 2012 subiu pela sétima semana consecutiva, de 5,59% para 5,61%. Para este ano, mantém-se em 6,52%, acima do teto da meta de 6,5%. No entanto, as cinco instituições que mais acertam começaram a rever o número para 6,46%. O britânico Royal Bank of Scotland (RBS) é um que prevê corte mais agressivo.

— Não vou defender a minha aposta de queda de um ponto com contundência porque as recentes declarações do presidente do BC (Banco Central, Alexandre Tombini) reduzem bastante a minha convicção. Mas estamos mantendo a previsão — afirmou a economista-chefe do RBS, Zeina Latif.

Ela se refere à recente declaração de Tombini, de que cortes “moderados” dos juros daqui para frente são compatíveis com a volta da inflação ao centro da meta em 2012. O termo moderado foi usado para qualificar a queda de 0,5 ponto de agosto.


Banco estima taxa de 9% em 2012

Segundo Zeina, o quadro internacional piorou desde então: há risco de uma quebradeira de bancos na Europa, além de um dinamismo menor da economia chinesa e de sinais de fraqueza da atividade no Brasil. Para a economista, o próprio BC deve ter se surpreendido com a queda mostrada pelo IBC-Br (uma prévia do Produto Interno Bruto) de 0,53% em agosto. Ela espera que o BC baixe sua projeção de o país crescer 3,5% neste ano. E isso justificaria corte mais ousado.

O Itaú, apesar de ainda ver chances de o BC cortar os juros para 11,5%, aposta em baixa de 0,75 ponto percentual da Selic nesta reunião e nas próximas. “Reconhecemos a sinalização, mas não descartamos medidas mais rápidas, considerando o enfraquecimento da atividade doméstica no terceiro trimestre — que acrescenta risco negativo para a economia, mesmo antes do impacto da desaceleração global. Em nossa visão, a desaceleração da demanda provocará um profundo ajuste monetário, tendo taxa de juros abaixo de 9% ao ano em meados de 2012”, disse o Itaú em comunicado. Mas essa leitura ainda é exceção. No mercado futuro, os contratos estão sendo fechados com previsão de corte de 0,5 ponto.

— A coisa lá fora não degringolou para uma crise bancária sistêmica no estilo Lehman Brothers (a quebra do banco foi o marco da crise de 2008), ou seja, está como o BC previa antes. Por isso, o BC deve manter o seu plano de voo — espera Flávio Samara, da LCA.

A aposta da maioria no corte “moderado” não impediu que os analistas reduzam a previsão de crescimento para este ano, de 3,5% para 3,42%. Foi a segunda queda seguida. Culpa, principalmente, do pessimismo em relação à indústria, que deve crescer apenas 2,04% neste ano. Essa é a previsão depois de sete semanas seguidas de queda. E no horizonte de 2012, a previsão é menos otimista: crescimento do país caiu de 3,7% para 3,6%.

Mesmo os que estão prevendo corte de 0,5 ponto veem condições de afrouxamento monetário mais agressivo.

— Eu acredito que o corte será de 0,50 ponto percentual. Mas se você me perguntar o meu grau de convicção nessa estimativa, digo que ela vai diminuindo a cada hora — afirmou José Francisco Gonçalves, do Banco Fator.

Ele diz que, apesar da ata da última reunião do Copom falar em redução “moderada”, a piora do cenário externo poderia dar justificativas para cortes maiores, de 0,75 ponto percentual ou de até um ponto. Ele cita a desaceleração nos preços das commodities. Segundo ele, desde a última reunião do Copom a alta dos produtos básicos em real foi de cerca de 1%.

Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, mesmo com a economia no terceiro trimestre com expansão “modestíssima ou próxima de zero”, não há justificativa para cortes maiores de 0,50 ponto percentual na Selic:

— O terceiro trimestre não traduz efetiva desaceleração de corações e mentes dos empresários e de consumidores. Vejo o trimestre como uma desaceleração mais estatística do que qualquer outra coisa. É quase que um freio de arrumação depois de um certo “oba-oba” dos trimestres anteriores, que não significa mudança de leitura dos agentes econômicos em relação à atividade no Brasil. Quem tiver um olhar meramente industrial sobre a atividade econômica no Brasil pode se surpreender por não estar capturando que o motor do crescimento está no setor de serviços e no comércio.



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