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Chineses buscam petróleo, mineração e até plantações

Veículo: DCI
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De olho em seu crescimento sustentável, a China volta seus olhos para as matérias-primas brasileiras. A voracidade é tanta que há dois anos o gigante asiático figura como o principal parceiro comercial brasileiro. As grandes exportações de minério de ferro e soja alçam a China ao maior comprador de produtos tupiniquins. No entanto, até alguns anos atrás estes insumos eram comercializados entre empresários brasileiros e chineses. Atualmente, parte da produção já é comercializada apenas por companhias sediadas no outro lado do mundo.

Em um levantamento feito por este DCI, nota-se o interesse em áreas estratégicas, como Petróleo, Nióbio (essencial para a produção de aço), Minério de Ferro, e até mesmo terras para plantação.

Segundo Ivan Ramalho, ex-secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o alto consumo chinês de produtos básicos faz com que tenham de importar muito para manter sua produção. Um exemplo utilizado por Ramalho, que também é presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior, é o petróleo. "Eles consomem duas vezes mais petróleo do que produzem. Quer dizer, 50% de tudo o que é utilizado é importado", afirma.

Recentemente, quatro companhias chinesas fizeram grandes aportes financeiros no País referentes à exploração da commodity. Em 2010, a Sinochem comprou por US$ 3,2 bilhões um campo de exploração na costa de Macaé, na Bahia, da norueguesa Statoil. A Sinopec adquiriu cerca de 40% da subsidiária brasileira da Repsol por cerca de US$ 7 bilhões. Neste ano, Petrochina e HongHua já anunciaram investimentos em parques fabris de sondas para investigação de hidrocarbonetos. "A China, como grande compradora de matérias-primas e commodities, tem grande potencial para produzir em outros países", afirma Ivan Ramalho.

Segundo Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), o país asiático necessita de recursos estratégicos para sustentar seu crescimento. "Sempre haverá o interesse nestas áreas. A China depende desses recursos", explica Charles Tang.

A importância brasileira no mercado chinês, porém, não é relevante, exatamente o contrário quando se analisa a corrente comercial na direção oposta. "O Brasil possui pouco mais de 2% em participação na pauta exportadora e não chega a 1% na importadora", diz Charles Tang.

Para Ivan Ramalho, é necessário dar maior atenção aos recursos e às oportunidades presentes no parceiro comercial. "Precisamos ir mais à China: as chances são enormes por lá", recomenda.

Welber Barral, ex-secretário do Mdic e sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, indica que uma grande dependência dos recursos chineses pode ser maléfica para o País. "É arriscado para o Brasil depender do mercado de commodities para a China. Embora se fale muito, ela ainda não tem condições de salvar o mundo em um período de crise", afirma. "Temos que diversificar nosso comércio com outros países emergentes", acrescenta Barral.

De acordo com o ex-secretário, é necessário aumentar a competitividade de produtores para que a importância estrangeira diminua. "É evidente que o Brasil não possui poupança interna, então depende muito de investimentos estrangeiros para o desenvolvimento", explica Welber Barral. De acordo com o consultor, a mácula financeira abre portas para empreendimentos que não trazem benefícios socioeconômicos. "Estes projetos, principalmente os bilionários, não possuem valor agregado", afirma ele, referindo-se aos investimentos em produção de insumos básicos. No início de setembro, um grupo de companhias do parceiro asiático comprou 15% da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) por US$ 1,95 bilhão. A empresa controla 80% da produção mundial de nióbio. Há mais tempo, a Shandong Iron and Steel e a Xinwen Mining Group adquiriram o direito de exploração do projeto Salinas, uma área rica em minério de ferro em Minas Gerais, após pagar US$ 390 milhões ao grupo Votorantim. A Wuhan Iron And Steel, outra gigante chinesa da mineração, possui 21,5% de participação na empresa de mineração de Eike Batista, a MMX.

Segundo Charles Tang, os chineses queriam comprar até mesmo terras para plantar soja e cana-de-açúcar. "Negando investimentos nestes setores, eles se direcionam para outros países da América Latina e da África", comenta o presidente da CCIBC.

Welber Barral, porém, critica o interesse nestes setores. Segundo o ex-secretário do Mdic, a relação entre China e África pode ser comparada ao metalismo, época em que países europeus exploravam territórios internacionais em busca de ouro e prata. "Estes investimentos vêm para baratear remessas. São investimentos com venda casada da produção para a China", alerta.


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