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Aposta do Banco Central

Veículo: Brasil Econômico
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Muito se falou da pressão de Dilma, do suposto abandono do regime de metas e da "irresponsabilidade" do Banco Central, visto que a inflação já estaria fora da meta em 2011.

É certo que a inflação do Brasil está alta, mas também é certo que ela está desacelerando. As metas não foram abandonadas, apenas se adiou o seu cumprimento para 2012. O desejo da presidente pode ter sido a cereja do bolo, mas, não foi, nem de longe, o fator decisivo.

Na verdade, o que norteou a decisão do Copom foi o comportamento do BC na crise iniciada com a falência do banco Lehman Brothers. Procura-se não repetir o erro de 2008, ou seja, elevar a taxa de juros para combater a inflação em um cenário de eminente crise econômica mundial. Em 2008, ao olhar somente para a inflação, o BC deu mais combustível à recessão.

Agora, ao contrário, o BC está tentando se antecipar, prevendo que a recessão nas principais economias produzirá um efeito deflacionista no Brasil e, com isso, haveria espaço para a queda dos juros.

Basicamente, o BC faz uma aposta usando probabilidades de pelo menos três conjecturas.

Em primeiro lugar, qual a probabilidade de um duplo mergulho na economia americana? Alta. Em segundo lugar, qual a probabilidade da Europa ter uma crise de dívidas soberanas? Alta. Por fim, qual a probabilidade da China continuar crescendo a 10% ao ano, dado as duas primeiras conjecturas? Baixa.

Da primeira situação, indicadores recentes mostram a queda da atividade econômica nos EUA. A paralisia do governo Obama frente à crise também indica que a única arma confiável dos EUA contra a recessão continuará a ser a ininterrupta enxurrada de liquidez feita pelo FED.

Subir juros no Brasil sem considerar o quantitative easing ao norte é um convite a arbitragens intermináveis montadas em cima da moeda brasileira. Ou seja, baixando os juros, o Brasil também se defende na guerra cambial.

Da segunda conjectura temos que as incertezas provocadas pelo impasse europeu reforçam o cenário externo deflacionista do BC. Hoje, praticamente a Europa inteira encontra-se em recessão.

E a saída política é ainda pior, pois se os EUA estão paralisados no Congresso, a Europa encontra-se paralisada em 27 congressos. Por último, o crescimento menor da China esta derrubando o preço das commodities exportadas pelo Brasil, o que provocará efeitos deflacionários aqui.

O BC tem ainda mais dois aliados contra a inflação: as medidas prudenciais e a promessa do ajuste fiscal do governo. As medidas prudenciais, como o controle do crédito, já estão arrefecendo a demanda e, ao contrário dos juros, seus efeitos são focalizados e, no curto prazo, menos prejudiciais ao crescimento.

O segundo aliado é historicamente menos confiável. Mas se a política fiscal simplesmente não for expansionista, já será suficiente.

Só o tempo dirá se o BC acertou no dia 31 de agosto de 2011. Por enquanto, todos os cenários vêm indicando que sim.


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