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Grande entrega de pluma na bolsa de NY provoca celeuma

Veículo: Valor Econômico
Seção: Algodão
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Superlativos tornaram-se comuns no mercado de algodão neste ano, quando preços e volatilidade registraram novos recordes. Agora, os adjetivos assumiram um tom mais amargo, depois que algumas das maiores tradings que negociam commodities entregaram dezenas de milhares de toneladas do produto na bolsa de futuros de Nova York (ICE). "O setor inteiro está falando sobre isso. É a pior coisa que já aconteceu", diz Meredith Allen, executivo-chefe da Staplcotn, grande cooperativa de algodão no Mississipi, nos EUA.

A multinacional de origem francesa Louis Dreyfus Commodities, cuja divisão Allenberg Cotton é a maior negociante mundial de algodão, recebeu em maio e julho mais de 550 mil toneladas de algodão na ICE. A Glencore, sediada na Ásia e maior trading global de commodities em geral, mas que apenas recentemente passou a operar com algodão, entregou a maior parte dessas toneladas. A americana Cargill, maior grupo de agronegócios do planeta, também foi forte vendedora.

A controvérsia gira em torno do momento e da forma das entregas. Após registrar pico acima de US$ 2 a libra-peso em Nova York, os contratos futuros, nas entregas, estavam despencando, depois que China, Bangladesh e outros centros de beneficiamento de algodão cancelaram pedidos de importação dos EUA, o maior país exportador do produto. Mas os preços à vista - volumes físicos vendidos para entrega imediata - estavam caindo ainda mais rapidamente.

"As vendas das exportações dos EUA estavam sendo canceladas semana após semana, os embarques estavam desacelerando e o mercado à vista não estava acompanhando o ritmo", diz um executivo sênior em uma trading. Esse "descompasso entre os mercados futuro e físico", como a situação é definida em relatório financeiro da Glencore, significou que, de modo geral, teria sido mais barato comprar as toneladas em questão fora da bolsa do que usar o mecanismo de entrega da ICE.

Com efeito, a Glencore tentou realizar um negócio exatamente desse tipo em abril, ao colocar à venda à vista mais de 300 mil toneladas com desconto em relação à TheSeam.com, uma plataforma de negócios online, de acordo com pessoas familiarizadas com a operação. A Allenberg, em vez disso, aceitou a entrega de 430 mil toneladas em maio e outras 180 mil em julho em contratos futuros de curto prazo em Nova York, conforme dados da própria bolsa. A companhia não respondeu aos pedidos de entrevista.

Críticos dizem que as substanciais entregas também afetaram a relação entre as cotações de futuros para entrega no curto prazo e no longo prazo - uma situação conhecida no mercado como "backwardation". Isso teria colocado vendedores como a Glencore diante de uma escolha difícil: encontrar e entregar volumes para cumprir os exigentes padrões da ICE ou abandonar posições vendidas em futuros com grande prejuízo, depois do aumento explosivo dos preços do algodão a partir de 2010. Apenas algodão cultivado nos Estados Unidos pode ser entregue fisicamente na bolsa de Nova York, e, na primavera passada do Hemisfério Norte, a maior parte dessa produção americana estava vendida.

A Allenberg tinha direito a receber fisicamente os volumes, e talvez estivesse ela própria comprometida com a venda de algodão, e portanto, necessitada de adquirir toneladas do produto na bolsa. O site da empresa diz que ela "origina", ou compra, cerca de 20% da safra americana - ou 18,2 milhões de toneladas de algodão. Em ações na Justiça, no início deste ano, a Allenberg revelou que algumas da empresas agrícolas suas fornecedoras deixaram de cumprir contratos de venda firmados quando os preços estavam mais baixos - um problema que também prejudicou a Glencore, que na semana passada demitiu seu diretor de negócios com algodão.

Dados da bolsa também mostram que os estoques de algodão certificados existentes nos armazéns da ICE caíram rapidamente após as entregas à Allenberg, sugerindo que a empresa necessitava imediatamente desses volumes quando recebeu a mercadoria. Apesar disso, muitos "players" do mercado estão furiosos devido aos negócios realizados. Grande parte da ira é dirigida contra a Commodity Futures Trading Commission, órgão regulamentador americano, por não ter evitado o que muitos denominam de maior escassez histórica de algodão. "Isso foi algo que ninguém nunca tinha visto. [Outros] episódios de escassez foram minúsculos em comparação com esse", afirma Allen, da Staplcotn.



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