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Aposta ou apenas erro do BC

Veículo: Brasil Econômico
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Mas isso passa logo quando vemos alguns números básicos e o próprio discurso do banco. Em setembro de 2010, o banco também garantia, com bastante certeza, que a inflação em 2011 chegaria à meta.

Usava-se o argumento de que a consolidação fiscal e a desaceleração da economia bastariam para ajustar a economia. Um ano depois estamos fechando o ano com a inflação dois pontos percentuais acima da meta.

Os argumentos agora são semelhantes: consolidação fiscal, desaceleração da economia e uma novidade, a crise europeia. A situação europeia entrou nas contas do banco de forma ressabiada, com apenas 25% do impacto que teve em 2008. Ou seja, não se trabalha com um cenário de pânico, com saída da Grécia da zona do euro ou outros desdobramentos.

Aqui vale relembrar 2008 novamente. Naquele momento, no imediato pré-crise, a inflação estava em 6,4% e o PIB teve que ter uma virada de seis pontos percentuais para conseguir trazer a inflação para dois pontos percentuais para baixo. Sem uma virada dessa magnitude no PIB, de onde o banco espera uma reversão da inflação?

Afinal, precisamos de uma reversão desse tamanho para diminuir o IPCA em dois pontos percentuais. Agora, estamos com a inflação a 7,2%. Sem reversão significativa de PIB (pelo contrário, esperam-se números semelhantes de crescimento nos dois anos), como o governo conseguiria reverter quase três pontos percentuais? A mágica que o banco espera será difícil conseguir mesmo com uma crise monumental. Sem ela então, estamos falando de uma inflação que se manterá nesses números no final de 2012.

Não podemos nos enganar com as palavras fáceis que têm descrito as recentes medidas do governo. A mais recorrente é que o governo fez uma aposta arriscada e que estaríamos buscando um novo equilíbrio macroeconômico. São palavras delicadas para decisões claramente erradas de governo, que vão desde as medidas setoriais em automóveis e outros segmentos até a própria decisão do BC.

O resultado fiscal em 2012 promete ser bem pior o que deste ano pelo crescimento menor de receita, mas principalmente, pela aceleração dos gastos, que virão justamente da volta dos investimentos, contratações e das desonerações setoriais.

Essas decisões são baseadas numa crença equivocada sobre a economia, qual seja, de que o crescimento é mais importante do que a inflação. O problema é que isso pode ser verdade até o ponto da inflação se tornar um problema e ela já é um problema.

Já levantamos aqui as semelhanças de má administração desse governo com o que tem sido feito na Turquia e na Argentina. Esses modelos equivocados parecem nortear implicitamente o atual governo. São exemplos que não têm dado certo por afugentar os investidores com o excesso de intervencionismo e a alta inflação. É uma pena, mas o governo insiste em querer matar o longo prazo.


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