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Projetos de infraestrutura são adiados

Veículo: O Globo
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A três meses do fim do ano, para alguns setores da economia, é como se 2011 já tivesse acabado. Não há mais tempo hábil para realizar projetos considerados prioritários pelo governo, previstos para a área de infraestrutura no primeiro ano da presidente Dilma Rousseff. Grandes empreendimentos como a licitação do trem-bala (cujo leilão deveria ter acontecido no último dia 29 de julho) ou a concessão de aeroportos importantes — como Guarulhos, Viracopos e Brasília —, ficaram para o próximo ano, embora o governo insista que ainda podem sair no final de dezembro.

Sem um acordo político, o marco regulatório do pré-sal — dependente do acerto sobre a divisão dos royalties — também teve sua inauguração, com uma licitação de áreas de exploração, adiada para o ano que vem. Isso atrasa por mais tempo os investimentos previstos para este setor considerado chave para o país. A estimativa é que, depois de regulamentado, a área vai receber até 2020 nada menos que US$400 bilhões.

Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, o custo destes impasses se traduz em desindustrialização, aumento das importações, mais inflação e previsão de gastos ainda maiores para tentar compatibilizar a infraestrutura atual à explosão da demanda.

— O Brasil precisa de R$350 bilhões para ter uma infraestrutura decente até 2020. Se não conseguir desembolsar isso tudo até lá, os gastos crescem para R$393 bilhões até 2030. Ou seja, R$43 bilhões a mais. Quanto mais tempo perder, pior — disse o vice-presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Nilton Lima.

Os esforços para dar acesso a mais de 40 milhões de brasileiros ao mercado consumidor e o estímulo ao crédito — que nunca foi tão alto no país — não foram acompanhados pela melhoria da infraestrutura. Se hoje os brasileiros têm automóveis como nunca, o governo não conseguiu se preparar no seu primeiro ano para atender à demanda por álcool e gasolina. A chamada política permanente para o etanol, rascunhada desde maio, só deverá ser implementada a partir de 2012.

O próprio presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, admitiu que o país tem uma limitação na capacidade de produzir gasolina e que, diante do crescimento do mercado de combustível, a estatal, que já vinha importando no ano passado, deve fazê-lo em quantidade ainda maior este ano.

— O problema do álcool não se resolve nos próximos três anos, assim como a infraestrutura. Investimentos nestas áreas têm prazo de maturação. Já perdemos um ano e isso é grave. O aumento da demanda só piorou os serviços nos aeroportos, que já não tinham estrutura para o aumento do número de passageiros — diz o especialista em energia e infraestrutura Adriano Pires.

O projeto de conter o imposto inflacionário também ficou para 2012. A lista de adiamentos inclui ainda a criação da Secretaria de Micro e Pequenas Empresas, a cobrança nas fronteiras de certificação de produtos importados e o Imposto de Importação sobre produtos sensíveis.

— Diante desta inércia, o setor produtivo se sente desestimulado a investir, pois sabe que não há infraestrutura para crescer mais e pode perder seu dinheiro lá na frente. A capacidade instalada da indústria se manteve igual, com pequena queda até. Isso significa que o setor privado não está investindo — diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Outro efeito negativo das postergações é a qualidade do crescimento do país, que, para atender à demanda cada vez mais alta, se escora no aumento das importações. Segundo Castro, o Brasil nunca importou tanto. E as compras lá fora compensam o que a indústria nacional não consegue produzir com os mesmos preços dos seus concorrentes estrangeiros, que continuam beneficiados pelo real valorizado.



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