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Empresas enviam US$5 bilhões ao exterior, maior montante desde 1947

Veículo: O Globo
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A alta do dólar registrada desde o fim de agosto causou impacto nas contas externas, segundo o Banco Central (BC). Com a moeda americana mais cara, as empresas aproveitaram para mandar mais lucro para o exterior e contribuíram para que, no mês passado, as remessas atingissem US$5,1 bilhões, o maior montante desde 1947, quando o BC iniciou a série histórica. Com isso, o déficit em transações correntes somou US$4,9 bilhões, o maior resultado para o período e bem acima do saldo negativo contabilizado em agosto de 2010, de US$2,975 bilhões. No ano, quase US$26 bilhões já foram remetidos ao exterior, outro recorde.

O déficit do mês passado ficou acima do esperado pelo BC, porque o dólar aumentou e encareceu os aluguéis e favoreceu a remessa de lucros e dividendos para o exterior. No ano, o déficit em transações correntes foi de US$33,8 bilhões, rombo coberto pelos investimentos.

— O lucro daqui tapa o buraco das empresas lá de fora — disse José Carlos Amado, economista-chefe da corretora Renascença.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, é normal o investimento de hoje ser a remessa de lucros de amanhã. No entanto, agora, as empresas conciliam a perspectiva do câmbio, porque há a possibilidade de que uma desvalorização maior do real acelere as remessas. Além da cotação favorável, há necessidade de se reforçar o caixa das matrizes que padecem com a crise mundial.

Daqui para frente, espera-se que esse ritmo diminua. Em setembro, foi enviado US$1 bilhão. A previsão do BC para o ano, mesmo com a crise, é melhor para o rombo nas contas externas: passou de US$60 bilhões para US$54 bilhões. Até agosto, o déficit em transações correntes é de US$33,8 bilhões.

Brasil continua a receber investimentos recordes

No entanto, o BC se diz confortável, porque ele é completamente coberto pelos investimentos. E, mesmo num cenário de turbulência de grande porte, o Brasil continua a receber investimentos recordes. Entraram no país US$5,6 bilhões em agosto, o melhor desempenho para o mês desde 2004. Nem o agravamento da crise diminuiu esse ritmo. Nos 23 primeiros dias de setembro ingressaram US$4,4 bilhões.

— São fluxos que já estavam programados no planejamento das empresas. E a situação econômica brasileira, que é bem mais forte que em outros países, continua determinante na decisão dos investidores — disse Maciel.

No ano, já entraram US$44 bilhões em investimentos que chegam para aumentar as fábricas brasileiras. Entretanto, para o especialista em câmbio Sidney Nehme, esse ritmo deve diminuir daqui para frente.

— As matrizes devem retardar um pouco os investimentos por causa da crise e devem ficar com mais dinheiro no caixa para um colchão de liquidez maior.

Semana passada, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, afirmara que os investimentos fechariam o ano em torno de US$70 bilhões, mas esse número não apareceu na nota divulgada ontem à imprensa. O BC revisou sua projeção, mas de US$55 bilhões para US$60 bilhões. Também foram revistas as previsões de exportações em 2011 de US$250 bilhões para US$258 bilhões. Mas o BC já espera um ritmo menor por causa da crise.



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