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Carroças: o retorno

Veículo: DCI
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Recentemente publicamos um artigo sobre os problemas do Brasil com a competitividade da China. Em que não conseguimos fazer o que eles fazem. E, deixamos claro que a culpa não é deles, mas nossa. Fazemos tudo errado e culpamos os outros. Acabamos de ver no noticiário de jornal de 16/09 mais um absurdo. O Ministério dos Transportes, depois de todos os problemas havidos, 27 afastamentos, inclusive do Ministro, se autoconcedeu 100% na avaliação de desempenho institucional. Claro está que, se os princípios são errados, se as aplicações são inadequadas, o resultado só pode ser catastrófico. Em avaliações idem. Acreditamos que ninguém ainda aprendeu a plantar laranjas e colher camarões. Só se colhe o que se planta. No Brasil é fácil fazer errado. Avaliar errado. A política é tudo. Os interesses individuais idem. O governo se arvorar em dono do brasileiro, e não seu representante, é hábito antigo. Só não é milenar por ainda estarmos na metade desse tempo de existência. Aqui, o que mais gostamos de fazer é criticar os demais países pela sua competência. Se não podemos elogiar a nossa, criticamos a alheia. Se não podemos ou queremos seguir, desancamos os demais. É o caso da China, em que preferimos criticá-los ao invés de melhorarmos nossos procedimentos. Suponhamos ser mais adequado do que baixarmos as taxas de juros a níveis decentes. Mundiais. Também é melhor do que reduzirmos a carga tributária a níveis suportáveis. Para a média mundial. Em especial considerando nosso patamar de desenvolvimento. E agora, também nos jornais de 16/09/11, tivemos o desprazer de ler o nosso epitáfio. Sim, nossa inscrição tumular, elogio fúnebre. A nossa sentença de morte econômica. Como se sabe, os carros estrangeiros vêm ganhando mercado no Brasil. As importações estão crescendo. Claro que não é difícil saber por que. O carro aqui é o mais caro do mundo. Compra-se o mesmo carro nos EUA por menos da metade do preço daqui. E lá a renda per capita é 5-6 vezes a nossa. E não é só lá. No Chile também. E outros países. A carga tributária sobre o automóvel aqui é insana. Tanto no estrangeiro quanto o nacional. O carro estrangeiro tem a mais alta alíquota de imposto de importação dentre todas as mercadorias. De 35%. Afora os demais impostos incidentes como o IPI, ICMS, PIS, Cofins. O automóvel brasileiro tem metade do seu preço realizado em impostos. Não somos competitivos de modo algum. Mesmo com redução de impostos ainda ficaríamos mais caros. Sem nenhum imposto em nosso carro, ainda assim ele seria mais caro que nos EUA. Parece que nossas colocações estão fora de contexto. Parecem mais uma piada de mau gosto do que realidade. Mas, é isso mesmo. O nosso país é que é surreal. Parece estar fora do mundo. É autista. E agora a situação acaba de piorar. O governo, monopolista em fazer bobagens e cometer suicídio, acaba de anunciar uma medida desastrosa. A elevação em 30 pontos percentuais do IPI - Imposto sobre produtos industrializados para automóveis e caminhões importados, que venham de fora do Mercosul ou do México. A menos que os veículos tenham 65% de conteúdo nacional ou regional. Os carros com até mil cilindradas terão o IPI majorado de 7% para 37%. Os de mil a duas mil cilindradas de 11-13% para 41-43%. A entrar em vigor em 60 dias. Vigorando até 31/12/2012. Por ora. Como é um país de provisórios permanentes, aqui podemos, facilmente, prever o futuro, como Nostradamus. E agora, o melhor de tudo sobre a notícia. Isso é para melhorar a competitividade do automóvel brasileiro e estimular a produção no país (sic). E assim caminha a humanidade no Brasil. Vamos aumentar, segundo o governo, em 25-30% os preços dos carros estrangeiros, para tornar os nossos mais competitivos. Medida para defesa do emprego dos brasileiros. Em primeiro lugar, num flagrante desrespeito à OMC - Organização Mundial do Comércio. Que proíbe a discriminação entre produtos locais e importados e não permite exigência de conteúdo nacional. Portanto, podendo ser contestado na OMC. Em segundo lugar, pasme, o carro importado representa hoje apenas 6% dos veículos vendidos no país. Um tiro de canhão para matar uma mosca. Vide bem caro leitor. Para matar um carrapato, mata-se o animal. É bem Brasil. Ao invés de redução de impostos. De redução da carga tributária. De aumento nos investimentos. De redução dos encargos sobre a mão de obra. Ao invés de medidas econômicas lógicas para tornar o produto nacional competitivo, aumentamos os impostos sobre os estrangeiros. E, claro, já sabemos que este é o melhor caminho para voltarmos a ter carroças. Aquelas mencionadas pelo presidente da república ao abrir a economia há duas décadas. Ao invés de exigirmos competência, damos proteção, e elas não precisam se aprimorar. É a volta da reserva de mercado. Obviamente que a maioria dos brasileiros, como bem sabemos, fará esta leitura. Mas não nós. É claro que à parte de, no país, não sabermos muita coisa sobre economia e política econômica. À parte de termos uma carência de bons economistas. À parte de qualquer coisa, sabemos que isso tem, sem sombra de dúvida, o claro objetivo de aumento de impostos e da carga tributária. Não se fala em outra coisa há meses, em especial nas últimas semanas. Haja saúde. Assim, nossos gênios econômicos acabam de tirar da cartola mais um aumento de impostos. E, claro, aplaudidíssimos pela incompetente indústria nacional de veículos. Que, claro, pode ser transposta a qualquer outra.


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