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Por trás da redução da taxa de juros

Veículo: Brasil Econômico
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Cada vez mais vão ficando claras as razões determinantes para a redução da taxa básica de juros brasileira em 31 de agosto. Na oportunidade, o Banco Central não promoveu a tradicional parada na sequência de aumentos que vinha promovendo desde janeiro de 2011, surpreendendo o mercado financeiro.

A bem da verdade, durante todo o período de elevações sucessivas seus comunicados não deixaram de advertir sobre a precariedade da situação mundial e a possibilidade de agravamento das condições econômicas externas, o que poderia levar a uma mudança da política de juros.

E foi precisamente isso o que ocorreu. A crise internacional que até poucos dias parecia aos críticos um devaneio da autoridade monetária, vai se revelando de fato muito grave, daí a audaciosa redução de juros.

Na maioria das vezes, nossa política monetária se pautou por ousadia e presteza em mover a taxa de juros para cima diante de ameaças de maiores elevações dos preços, mostrando grande reticência no sentido oposto diante um cenário inverso. O mal dos males da economia brasileira - a taxa de juros extraordinariamente alta - em grande medida se explica por esta assimetria evidenciada na grande crise de 2008.

Mesmo com o colapso dos mercados e da economia mundial em 15 de setembro em consequência da quebra do Lehman Brothers, apenas em janeiro de 2009 teria início a queda da taxa básica. Isso retirou de cena a política monetária como instrumento para restringir os efeitos da crise e sobrecarregou a política fiscal e a política de crédito dos bancos públicos.

O combatido aumento das operações de financiamento do BNDES foi apenas uma das decorrências do atraso da política monetária.

A essa altura não há dúvida sobre os cenários internacionais prováveis: ou assistiremos a uma ruptura aguda da confiança e do crédito à la setembro de 2008 que recolocará o risco de depressão global, ou a economia do bloco de países desenvolvidos permanecerá tão cercada de incertezas e tão debilitada que tangenciará a recessão.

Teríamos de ser uma "ilha de prosperidade" para atravessarmos incólume a nova fase da crise que se avizinha. Segundo a interpretação do Banco Central, no momento em que os cortes de juros agora iniciados surtirão efeito, a atividade econômica mundial e interna terá sofrido os impactos do novo momento econômico, aliviando a pressão inflacionária.

Na mesma linha, a avaliação de instituições internacionais como a OCDE é que a instabilidade e o pessimismo predominante nas decisões bancárias, empresariais e dos consumidores nos países industrializados levarão, pelo menos, a um crescimento econômico baixo e declinante ainda este ano.

Para os EUA, a instituição projeta taxas anualizadas de aumento do PIB de 1,1% no terceiro trimestre e apenas 0,4% no último trimestre e para as três maiores economias europeias (Alemanha, França e Itália), respectivamente, 1,4% e -0,4%.

Nem capitulação da autoridade monetária ao poder executivo nem subordinação da meta de inflação ao crescimento, mas, sim, uma avaliação que está se revelando correta da situação internacional é o que suporta e confere substância ao corte da taxa de juros brasileira.



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