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Ásia é apontada como saída para os produtos do Mercosul

Veículo: DCI
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Diante da crise enfrentada pelos países da União Europeia e pelos Estados Unidos, os países integrantes do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) têm a tarefa árdua de encontrar mercados alternativos para contornar a queda no comércio com estes parceiros. No entanto, o bloco ainda não é autossuficiente e tem de procurar parceiros de fora para compensar as perdas.

De acordo com Welber Barral, ex-secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), a Ásia pode contribuir para atenuar a crise. "Este é o mercado que ainda possui espaço para o crescimento das importações", afirma Barral.

Devido à supremacia de produtos básicos na pauta exportadora dos países latino-americanos, essas nações não sofrem quedas bruscas no volume de exportações.

Porém, os novos capítulos da crise global acentuam a perda de espaço no mercado europeu. "Nos últimos seis ou oito anos a participação da União Europeia no comércio do Mercosul diminuiu. Principalmente após 2008", afirma o ex-secretário.

De acordo com Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional de Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), a queda do valor total preocupa. "Os produtos básicos tem vulnerabilidade menor a uma crise, mas os preços das commodities são mais voláteis", diz o economista que não vê uma saída próxima para a situação vivida pela Europa.

"Existem mecanismos para que não se reconheçam as perdas. Então, eles empurram os problemas com a barriga. É uma característica diferente dá dos Estados Unidos", conta Tingas.

Uma alternativa para os países do Mercosul atenuarem as oscilações seria avançar no comércio exterior dentro do próprio grupo. Segundo Evaldo Alves, professor de Comércio Exterior do FGV Management, o Mercosul sairá fortalecido da crise. "Nossa parceria com os emergentes é a solução para enfrentar tempos difíceis. Porém, o acordo tem beneficiado apenas Brasil e Argentina. Precisamos integrar Uruguai e Paraguai", avisa Alves.

Outros países da América Latina se associarão ao bloco nos próximos anos. Entre os mais próximos, estão Chile e Peru, que já possuem seu ingresso aprovado e devem compor o grupo no intervalo de um a três anos. Porém, Alves critica a velocidade com que o Mercosul avança sobre a política dos países que o compõem. Segundo o professor, existem 12 demandas que devem ser cumpridas pelo bloco, entre elas a padronização da educação, agricultura e infraestrutura. "Temos de nos espelhar na União Europeia e usar o bloco como uma ferramenta de crescimento", indica.

Até julho, em 2011, o Brasil exportou US$ 15,4 bilhões para os países do Mercosul, com um superávit de US$ 1,9 bilhão na balança comercial. Há dez anos, até o mesmo mês, as exportações registravam US$ 4,1 bilhões, e déficit de US$ 244 milhões.

Acordo Bilateral

Em 1998 iniciaram-se conversas sobre um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. À época, Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil, e Jacques Chirac, seu colega francês, presidiam os dois blocos econômicos. Evaldo Alves explica que após 2002 as conversas para a resolução do acordo cessaram. "Neste ano começou a Rodada de Doha, organizada pela Organização Mundial do Comércio. Como é a OMC quem permite os acordos de livre-comércio, as negociações ficaram em stand by", conta o professor.

Segundo Welber Barral, com o aprofundamento da crise, voltar ao diálogo seria inviável. "Depois de 2009 não existiram avanços. A situação cambial dificulta a negociação para a indústria brasileira, em particular. Com a crise, são piores as discussões", explica.

Alves discorda do ex-secretário e afirma que em 2012 o acordo pode sair. "Após o fim da rodada, que deve acontecer no próximo ano, as conversas voltarão. E com uma vantagem: Eles estão desesperados para vender mais, comprar mais. Outro acordo que pode voltar é a Alca", avisa Alves.

Ao contrário do que o ex-secretário do Mdic afirma, Alves entende que será mais fácil a negociação em um cenário turbulento. "Eles seriam muito inflexíveis sem a crise. Há a sensação de que já cedemos demais. Agora, querem solucionar os problemas deles", comenta Evaldo Alves.

Segundo o Serviço Europeu de Ação Externa, o acordo visa "abranger não só mercadorias, mas também os serviços, o investimento, os contratos públicos e ainda o comércio e o desenvolvimento sustentável"


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