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Zara cria linha para denúncias de escravidão

Veículo: O Estado de São Paulo
Seção: Economia
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O grupo Inditex, proprietário da confecção Zara, anunciou ontem na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados a criação de um "disque-denúncia" contra trabalho escravo. No mês passado, uma fiscalização do Ministério do Trabalho flagrou uma fornecedora da empresa espanhola que mantinha 15 pessoas em "condições análogas à escravidão".

O telefone para denunciar eventuais novos casos de trabalho escravo na confecção Zara é 0800 770 9242. A empresa também se comprometeu, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público, a monitorar toda a cadeia produtiva dos fornecedores terceirizados.

A Comissão de Direitos Humanos fez ontem uma audiência pública que reuniu dois representantes da direção da Zara, dentro e fora do Brasil, o auditor que participou da operação de fiscalização e um representante da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Apesar de ter dito que "a companhia (Zara) não se considera culpada pelo ocorrido" e que a empresa foi "vítima de uma situação que não foi criada por nós", o representante da Inditex, Jesus Echevarria, pediu "desculpas por não saber antecipar a situação" no País.

Echevarria admitiu que a denúncia criou um "dano irreparável" à empresa. O noticiário envolvendo uma empresa global na exploração de trabalho escravo, com o agravante de ser mão de obra de imigrantes bolivianos, "é o pior que pode acontecer" para a imagem e os negócios da Zara, acrescentou o representante espanhol da empresa.

Coletes suspeitos. Segundo relato do auditor Luís Alexandre de Faria, do Ministério do Trabalho, os fiscais chegaram à oficina da empresa terceirizada AHA Indústria e Comércio de Roupas Ltda "depois de uma CPI da Assembleia Legislativa de São Paulo, quando foram identificadas grandes oficinas que exploravam trabalhadores bolivianos". O auditor contou que "até coletes de recenseadores do IBGE foram encontrados nessas oficinas de confecção".

O IBGE foi notificado e os fiscais começaram a rastrear essas oficinas, geralmente localizadas em casarões onde vivem famílias inteiras. A suspeita de que a produção da AHA poderia ser uma operação de pirataria da famosa marca espanhola não se confirmou.

A própria Zara admitiu em nota oficial que se tratava de uma confecção contratada pela empresa e que os fiscais haviam descoberto "uma grave infração de acordo com o Código de Conduta para Fabricantes e Oficinas Externas da Inditex". Segundo Luís Faria, a operação recolheu material suficiente - que ele exibiu ontem na Comissão de Direitos Humanos, provando que a AHA trabalhava sobre comando da Zara.

Ao todo, o grupo recebe roupas montadas e costuradas por 50 fornecedores no Brasil. A Zara tem 31 lojas no País, em 15 cidades, que geram 2 mil empregos diretos. O Brasil é o terceiro mercado da Inditex nas Américas, atrás de México e EUA.

Para o representante da Fiesp, Ronald Moris Masijah, o caso Zara não deveria criar a confusão - que estaria sendo feita - entre terceirização e trabalho escravo.


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