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EU MINTO, VOCÊ EXPLICA!

Veículo: O Estado de São Paulo
Seção: Opinião
Página:

Palavras de Dilma, no Estadão de 11/9 (B2): "Não vamos permitir ataques às nossas indústrias e aos nossos empregos e não vamos permitir jamais que artigos estrangeiros venham concorrer, de forma desleal, com nossos produtos". Muito bom. É isto aí, Dona Dilma. Durona mesmo! Aí leio no mesmo jornal, na página B3 - Dificuldades levam empresas a produzir em outros países. Em agosto, a empresa Paquetá Calçados, com 66 anos de mercado, transferiu sua fábrica de Sapiranga (RS) para a República Dominicana, demitindo seus 1.400 funcionários. Leio também que a Vulcabrás/Azaléia também fechou sua unidade de Parobé (RS), demitindo seus 800 funcionários e também anunciou demissões na unidade de Itapetinga (BA). Vai produzir na Índia.

Leio nesta mesma página que os importados derrubaram o índice de capacidade instalada da indústria nacional para 83,6%, quando em 2008 estava em 87%. Como se pode ver, os fatos vão contra a manifestação de nossa presidente. Parece, pelas suas colocações, que governa para plateia. No Estadão de 10/9, Economia (B6), o próprio ministro do Trabalho, Carlos Lupi, confirma que o País não conseguirá cumprir a meta de criar mais de 3 milhões de empregos formais. Olha aí a confirmação de que os empregos estão indo pelo ralo, melhor, estão sendo exportados. E por que uma empresa brasileira tão tradicional como a Vulcabras/Azaléia iria produzir tão longe seus produtos? Ou por que a Paquetá Calçados, que tem 7 fábricas e 237 lojas, iria para a desconhecida República Dominicana? A República Dominicana tem acordo de Livre Comércio com os EUA. O Brasil, até hoje, não quer tratar deste assunto com os americanos. Lembram da Alca? A carga tributÁria naquele país é menos que a metade da do Brasil e a mão de obra, muito barata. Os encargos trabalhistas não atingem nem metade dos que "matam" empregos no Brasil. Os mesmos motivos levaram a Vulcabras/Azaleia para a Índia. Muitos setores produtivos já chegaram à conclusão de que fica mais barato importar produtos prontos de outros países a terem de fabricar no Brasil, com todos os custos e problemas que nossa economia apresenta. Um automóvel, produzido na China, mesmo pagando 35% de Imposto de Importação, frete e todos os custos que se impõem aos produtos importados, pagando o IPI, como se o carro fora produzido aqui, e pagando o ICMS pela comercialização, ainda concorre com nossos modelos nacionais, que já estão, novamente, se transformando em "carroças", como diria Collor. Basta ver a qualidade dos carros importados, principalmente os coreanos. Motivo disso? Uma carga tributária imensa, que em cascata vai corroendo a produtividade da indústria, uma legislação trabalhista leonina que tributa um emprego em mais de 100% sobre o valor do salário do trabalhador. Aí leio no Estadão de 11/9, Economia (B2), declarações do secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, que sugere para empresas produzirem mais para a exportação e que reduzam a terceirização.
Dizia isso em resposta aos empresários que reclamam da desoneração que o governo criou para a folha de pagamento visando a ajudar as empresas. Ora, o governo deu com uma mão e tirou com duas. Para os setores de móveis, calçados, confecções e vestuário, e informática, o governo retirou da folha de pagamento os 20% da contribuição patronal ao INSS. Viva! Que beleza. Agora o custo de mão de obra vai cair 20%? Nem tanto! Com as outras duas mãos o governo criou um novo imposto para estas empresas, 1,5% sobre o faturamento e 2,5% para as empresas de tecnologia. Mirou na perdiz e acertou no cachorro! Muitas empresas, para fugir da leonina legislação trabalhista e seus custos, optaram pela terceirização de mão de obra, principalmente nos períodos de maior demanda e sazonais. E essas empresas, prestadoras de mão de obra não entram naquela desoneração. Logo, os custos das empresas produtoras continuarão altos e ainda terão a tributação daquele imposto sobre o faturamento. O governo, para ajudar o doente, deu o remédio e o veneno juntos. É fácil fazer cortesia com o chapéu alheio. Por que o governo não retira uma parte, digamos, 50% do Imposto de Renda Sobre o lucro dessas empresas? Por que o governo não retira todas as taxas de exportações? Por que o governo não retira todos os impostos de exportações? Com isso poderia, sim, aliviar os custos para a exportação e dar competitividade à indústria brasileira. Por que o governo não revê nossa legislação trabalhista, tomando como base as de países como China, Índia, Coreia e outros que tanto nos incomodam com seus produtos e preços? Por que o Brasil não revê sua posição em relação à Alca? E por que o governo não busca uma solução para o dólar? Com câmbio defasado a R$ 1,60, R$ 1,70, fica realmente muito mais barato importar qualquer coisa. Logo estaremos importando arroz, feijão, carne, frango, óleo de soja, café e açúcar. Olha lá se não importamos também papel higiênico. Ainda se fosse possível exportar merda até que a troca poderia ser interessante, mas ainda não chegamos a este ponto. Aí o secretário tenta argumentar que assim as indústrias iriam "desterceirizar" suas produções. Com esta atual legislação trabalhista, isso não vai acontecer nunca. Lembrando que a terceirização faz cair os níveis salariais. Uma Indústria paga, por exemplo. Um mil reais de salário para um empregado terceirizado. Quanto na verdade ele irá receber? Talvez uns 500 reais, quando muito, além da instabilidade, pois a maioria das indústrias só contrata quando precisa. E aí veio essa pérola do secretário, só para encerrar este comentário: "Também ficam no "zero a zero" empresas que fabricam e vendem produtos". Ora, secretário, toda empresa fabrica e vende. Ou o senhor acha que tem empresa que fabrica e doa?



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