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Qual é o foco do BC?

Veículo: Brasil Econômico
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A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em reduzir a meta da taxa básica de juros - Selic - em meio ponto percentual na última reunião gerou várias polêmicas.

Obviamente, isso decorre do fato de que pouquíssimos esperavam um corte na taxa de juros nesse momento e mesmo esses apostavam em uma redução de apenas 0,25 ponto percentual.

O corte promovido pelo BC surpreendeu a todos e trouxe à tona uma série de questões ainda pouco esclarecidas.

De fato, o Banco Central apontou várias razões para esse movimento: cenário externo com risco elevado e potencial de recessão, desaceleração da atividade econômica doméstica e acomodação da inflação, com perspectiva de queda no acumulado em doze meses no médio prazo. Nesse quadro o BC indica que a inflação deverá convergir para o centro da meta em 2012.

De qualquer forma, independentemente dos motivos alegados, a decisão do BC foi inesperada. Ainda mais se for considerado o fato de que até a penúltima reunião do Copom o Banco Central promovia um ciclo de aperto da política monetária. A decisão do BC, nesse contexto, levanta uma série de questões.

Sob essa perspectiva, um dos eixos centrais do regime de metas para inflação remete à questão da comunicação e da transparência do Banco Central junto aos demais agentes. Nesse sentido, o BC não preparou o terreno para a inflexão ocorrida, deixando vários pontos em aberto nessa questão.

A análise dos indicadores econômicos, no entanto, sugere um quadro relativamente distinto do apontado pelo Banco Central. A atividade econômica segue mostrando uma robustez relativa. Os dados do PIB do segundo trimestre de 2011, recentemente divulgados, mostram uma pequena desaceleração em relação ao trimestre anterior.

A abertura dos dados, porém, indica um cenário controverso: o produto da indústria estagnou e as importações mostraram forte aceleração. Isso é um reflexo da apreciação do real frente às demais moedas, que tem afetado duramente a produção doméstica de bens comercializáveis com o exterior.

Ao mesmo tempo, a inflação voltou a subir segundo os últimos indicadores. Esse fenômeno era esperado em função do fim da trégua dos preços dos alimentos, ocorrida na virada do primeiro semestre do ano. Nesse contexto, os preços do grupo alimentação voltaram a subir fortemente. Some-se a isso o fato de que os preços de vários serviços seguem subindo em ritmo acelerado.

Em outras palavras, a inflação segue em alta e as perspectivas são de que deverá prosseguir elevada por algum tempo.

Nesse sentido, em um contexto de atividade econômica robusta e com perspectivas de aceleração, é pouco provável que o ritmo da alta de preços venha a ceder no médio prazo. Isso significa que a convergência da inflação para o centro da meta, que já se mostrava difícil, torna-se ainda mais complicada em um cenário de flexibilização dos juros.

A despeito do aumento dos riscos no ambiente externo e das turbulências nas bolsas ao redor do mundo, ainda é difícil detectar uma desaceleração da economia global que esteja afetando duramente a economia brasileira.

A lógica dessa avaliação indica que o BC, aparentemente, prefere conviver com um patamar de inflação mais alto nesse momento e manter o crescimento da economia brasileira em bases mais elevadas. A questão que fica é: onde o BC está mirando?

Ao que tudo indica, o câmbio é um candidato forte, pois, ao baixar os juros, o Banco Central desestimula ingressos de capitais e, com isso, as pressões por apreciação diminuem.


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