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Ajuda emergente

Veículo: O Globo
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BRASÍLIA, ARAÇATUBA e ROMA. Em meio à crise que abate Estados Unidos e Europa, o Brasil quer “exportar” sua experiência na turbulência de 2008 e deve sugerir medidas de incentivo fiscal às indústrias europeias na próxima semana, na reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Além disso, o país e os outros emergentes do Brics (grupo formado também por Rússia, Índia, China e África do Sul) estudam comprar títulos em euros. Nos bastidores, fontes da área econômica revelaram que a situação na Europa preocupa o governo brasileiro, que avalia que os emergentes devem agir logo, já que, afirmam, a quebra de algum país acarretaria em um problema muito mais grave do que o calote de um simples banco.

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a política fiscal tem de ser o principal instrumento para combater a crise. Ele defenderá, na reunião do FMI, que os Brics usem suas reservas para comprar títulos europeus de boa qualidade. Ele vai discutir o assunto em uma reunião com a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, e em outra com o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner. Ontem pela manhã, enquanto um grupo de técnicos da Fazenda e do Banco Central discutia o assunto, Mantega confirmou que o socorro à região está em estudo:

— Os Brics vão se reunir na semana que vem e nós vamos discutir o que fazer para ajudar a União Europeia a sair dessa situação.

A presidente Dilma Rousseff também deu sua receita para enfrentar a crise: mais consumo, produção e parcerias entre governos e empresas. No lançamento da pedra fundamental do Estaleiro Rio Tietê, em Araçatuba, no interior paulista, ela defendeu que o Brasil tem gastado dinheiro para se fortalecer durante a turbulência internacional. No auge da crise de 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva também apelou para que os brasileiros não deixassem de consumir.

— A melhor forma de resistir à crise é não ficar de braços cruzados, não nos atemorizar, mas continuar consumindo, produzindo, investindo em infraestrutura, plantando, colhendo e assegurando às nossas indústrias o seu componente nacional — disse Dilma ao falar da importância do estaleiro e da modernização da Hidrovia Tietê Paraná. — Estamos dando um passo para tornar nosso país mais forte para enfrentar essa crise internacional, pela qual não somos responsáveis e a qual temos todas as condições de enfrentar.

Dilma anunciou a liberação de R$900 milhões do PAC 2 para a modernização da hidrovia, que ainda terá R$600 milhões do governo estadual.

— Enquanto eles discutem como fica a crise da dívida de seus bancos, nós estamos aqui gastando o nosso dinheiro em parcerias público-privadas, em parcerias entre o governo federal e o governo estadual para criar desenvolvimento, emprego e renda para nosso país — disse.

Papéis da Itália registram taxa recorde em leilão

Todas as discussões de compra de títulos em euros e de propostas para a reunião do FMI ainda estão em fase preliminar, segundo uma fonte da área econômica que se encontra na Basileia. O Brasil tem cerca de US$350 bilhões em reservas, a maioria aplicada em títulos públicos americanos que, por serem considerados seguros, têm baixo rendimento.

— A segurança vem em primeiro lugar, a gente não busca rentabilidade — afirmou o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, em audiência no Congresso.

De acordo com ele, em segundo lugar no critério de aplicação das reservas está a liquidez. Ou seja, o Brasil só aplica os dólares que recebe se for em um ativo do qual possa se desfazer rapidamente no caso de uma turbulência mais forte no cenário global.

A Itália pagou ontem taxa recorde por seus bônus. O Tesouro vendeu 6,5 bilhões, sendo 3,9 bilhões em papéis de cinco anos, com rendimento de 5,6% — o maior desde a introdução do euro, há uma década. Além disso, a procura ficou abaixo do esperado. A proporção entre oferta e demanda ficou em 1,28, bem abaixo do 1,93 registrado na emissão anterior.

Na segunda-feira, circularam rumores de que a China compraria bônus italianos. Uma fonte do governo confirmou ter havido uma reunião, na semana passada, com o presidente da China Investment Corp. (CIC), Lou Jiwei, e representantes do Escritório Estatal de Câmbio da China. Depois do leilão, uma fonte disse ao diário de negócios “Wall Street Journal” que, na verdade, discutiu-se o interesse da CIC em papéis de empresas italianas, não em bônus do governo.

Para analistas, é pouco provável que a China compre títulos em escala suficiente para ajudar qualquer economia. “A China é um país pobre com renda per capita de apenas US$4 mil. Pensar que ela vá socorrer países com renda per capita de US$40 mil é ridículo”, disse o economista chinês Yu Yongding ao “New York Times”.



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