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Alta tecnologia protege a empresa contra os solavancos da economia

Veículo: Valor Econômico
Seção: Atividade Econômica
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Sergio Zacchi / Valor/Sergio Zacchi / ValorSouza, do Iedi: a substituição de bens intermediários por componentes importados pode levar à desindustrialização

As indústrias com alta tecnologia estão sobrevivendo com certa tranquilidade à desaceleração da economia. Enquanto a produção industrial brasileira cresceu apenas 1,7% no primeiro semestre, e a da indústria de transformação 1,6%, as empresas desse ramo com alta tecnologia registraram um aumento de 6,6%, na comparação com o mesmo período de 2010. É o que mostra pesquisa do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), a partir de indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo revela ainda que nas indústrias de transformação com baixa intensidade tecnológica a produção encolheu, com queda de 1,6% no período. As empresas com média-alta intensidade tecnológica aumentaram a produção em 2,5% e as de média-baixa, em 2,3%. Para medir a capacidade tecnológica, o Iedi adota os indicadores da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Para o economista chefe do Instituto, Rogério César de Souza, o desempenho das indústrias com alta intensidade tecnológica - aeronáutica, eletroeletrônicos, farmacêutica e equipamentos médico-hospitalares, entre outras - tem como principais motivadores o câmbio e a estabilidade de preços dos componentes no mercado internacional. Assim, com o real valorizado, importam peças com custos menores que as nacionais, barateando a produção. Já os fabricantes de equipamentos médico-hospitalares, instrumentos de precisão e de mantas de LCD para televisores registraram crescimento de 20,8% no primeiro semestre.

Já as empresas com menor intensidade tecnológica e maior volume de mão de obra sofreram com a concorrência dos produtos importados. Para as indústrias têxtil, do vestuário, couro e calçados a retração foi de 8,5%.

"O mercado interno continua crescendo e os bens fabricados por segmentos industriais de alta tecnologia competem com vigor com os produtos importados", afirmou Souza. E alertou: a substituição de bens intermediários produzidos no Brasil por componentes estrangeiros pode promover a desindustrialização. "Não é sustentável manter os níveis de produção dessa forma", opinou.

"Vale destacar ainda que o bom desempenho das empresas com maior complexidade tecnológica se mostra frágil, pois está respaldado principalmente na desvalorização do dólar. Se houver uma mudança na política cambial, elas correm o risco de perder sua competitividade em relação aos produtos importados", ressaltou o economista.

Os indicadores do primeiro semestre de 2010 já mostravam que o segmento da indústria de transformação a apresentar maior crescimento em relação ao mesmo período do ano anterior foi o de média-alta tecnologia, com elevação de 27,4% (indústrias de equipamentos de transporte, químicas, bens de capital). Depois veio o de média-baixa (produtos de petróleo refinado, minerais não-metálicos, metalurgia básica), com 17,5%, seguido pelo de alta tecnologia (10,9%) e o de baixa (8,2%).

Souza avaliou ser saudável para o país ter uma indústria com padrões tecnológicos diversificados porque isso traz equilíbrio e contribui para o desempenho positivo geral. No entanto, o economista enfatiza a necessidade de as indústrias investirem em tecnologia e em pesquisa e desenvolvimento. "É preciso uma cruzada pela inovação tecnológica para aumentar o grau de competitividade do setor", diz.

O economista reconhece que a indústria brasileira tem investido em inovação, mas ainda de maneira tímida, pois há fatores inibindo a iniciativa, como o chamado Custo Brasil e a falta de políticas claras para o setor. "Há fontes de financiamento diferenciadas em função tamanho das empresas", exemplificou. Ele lembrou ainda que são sempre as grandes empresas - no geral, multinacionais -a apresentarem maior intensidade tecnológica e, por isso, as políticas devem promover estímulos corretos para as demais indústrias evoluírem.

Souza lembra que não há, entre as indústrias, a disseminação da cultura da tecnologia e da pesquisa e desenvolvimento. "Esse ramo brasileiro está atrasado em relação ao de outros países e deve se conscientizar que a busca por inovação é decisiva para a competitividade", enfatiza. Ele lembra que, no início dos anos 1990 - com a abertura das importações - a indústria têxtil se ressentiu e o setor por pouco não desapareceu. "Muitas empresas apostaram na modernização e, mais que sobreviver, se tornaram competitivas em relação aos produtos importados", diz.



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