Notícias

Governo já espera crescimento menor

Veículo: Valor Econômico
Seção:
Página:

O governo já admite que a economia pode não crescer neste ano tanto quanto esperava anteriormente. Em apresentação à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, manteve a estimativa oficial de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 4,5% neste ano, mas reconheceu que o crescimento pode ser menor diante da instabilidade internacional. "Se as condições externas piorarem mais, ao longo deste segundo semestre, o PIB pode crescer menos, mas não ficará abaixo de 4%. Conseguiremos ficar em torno desse patamar", afirmou o ministro da Fazenda aos senadores, na terça-feira.

Mantega acredita que conseguirá neutralizar a influência externa negativa com os estímulos do Plano Brasil Maior à indústria, a ampliação do SuperSimples e ainda com a redução das taxas de juros. Medidas de afrouxamento fiscal estão, em princípio, descartadas porque o governo pretende manter o controle das contas públicas e cumprir o superávit primário prometido.

Mas, a realidade é que o cenário internacional já piorou. Nos últimos dias, várias instituições financeiras internacionais anunciaram a redução das expectativas de crescimento das economias centrais neste ano. De concreto, a consequência mais importante do rebaixamento da dívida americana pela Standard & Poor's (S&P) foi a conclusão de que a economia deverá desacelerar quando o governo fizer os cortes prometidos ao Congresso para obter a elevação do teto do endividamento do país. Na zona do euro, as perspectivas também são de aperto das contas para conter o déficit público.

O banco americano Morgan Stanley, que esperava um crescimento da economia global neste ano de 4,2% - muito perto dos 4,3% estimados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em sua última revisão, em junho -, reduziu a previsão para 3,9% e cortou ainda mais a perspectiva para 2012, de 4,5% para 3,8%. Para a zona do euro, a previsão é alarmante: 1,7% de crescimento neste ano e praticamente estagnação em 2012 (0,5%).

No Brasil, os analistas também já trabalham com números menores para o PIB, inferiores aos comentados por Mantega. A crise internacional contagiará a economia com a redução das compras de produtos brasileiros, queda dos preços das commodities e, eventualmente, aperto do crédito, com impacto não só neste ano mas também no próximo. No início do mês, antes mesmo do rebaixamento da dívida americana, o Itaú Unibanco revisou seus cenários: o banco manteve a previsão de crescimento do PIB de 3,6% neste ano, mas reduziu os números de 2012 de 3,8% para 3,7%. Para o banco, este terceiro trimestre já revelará o impacto mais significativo do novo cenário.

Outras instituições financeiras acompanharam o movimento do Itaú Unibanco depois que o Banco Central divulgou seu índice IBC-Br, que pretende antecipar o PIB. O IBC-Br fechou o segundo trimestre com alta de 0,7%, inferior à variação de 1,1% do trimestre anterior, em linha com a desaceleração da produção industrial e das vendas do varejo.

De fato, reportagem publicada ontem pelo Valor revela que os estoques estão subindo na indústria e que alguns setores pararam de contratar empregados ou até passaram às demissões. O indicador da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que compara o inventário efetivo com o planejado pelas empresas subiu de 53 e junho para 53,9 pontos em julho. Quando o índice está acima de 50 significa que os estoques superaram o programado pelos empresários. Dos 26 setores pesquisados pela CNI, 17 já tinham estoques acima do desejado em junho; e o número passou a 20 no mês seguinte.

O emprego, de modo geral, ainda cresce, mas alguns setores já demitem, especialmente os mais afetados pela concorrência dos produtos importados ou pelo impacto da apreciação cambial nas suas exportações. Assim, a Pesquisa Industrial de Emprego e Salários do IBGE mostra que a ocupação total na indústria subiu 1,9% de janeiro a junho. Mas houve queda nos setores de madeira (7,8%), vestuário (3,1%) e calçados e couro (2%). No setor têxtil houve alta, mas inferior à média da indústria, de 0,8%, a produção caiu 12,5% no primeiro semestre, mas o volume importado subiu 21,8%, de acordo com números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), citados na reportagem.



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar